27/07/2016

EDUCAÇÃO HUMANITÁRIA



Por: Sérgio Greif  
Seg, 13 de Agosto de 2007
http://www.pensataanimal.net/artigos/43-sergiogreif/136-educacao-humanitaria

Recentemente tive a oportunidade de assistir a uma interessante palestra do professor Vinicius Signorelli, da Sangari do Brasil, onde importantes questões educacionais foram abordadas. Em sua exposição, o professor tratou de algumas problemáticas do ensino que tive a oportunidade de experimentar na qualidade de estudante e, mais tarde, na qualidade de educador.
Um dos pontos mais importantes, ao meu ver, era a questão da necessidade de transmissão de todo um conteúdo programático em determinado espaço de tempo. Meu professor de química do ginásio provavelmente tinha a noção de que não adiantaria tentar nos ensinar sobre ligações químicas logo na segunda aula, após nos haver ensinado sobre os modelos atômicos, porque não havíamos ainda compreendido aquela primeira parte da disciplina. E antes que pudéssemos compreender essa segunda aula, já estávamos aprendendo sobre funções inorgânicas, cálculo estequiométrico ou massa atômica. É possível que eu só tenha começado a entender o conceito de átomos nas duas últimas aulas do ano, que eram sobre química orgânica.
O mesmo problema tive de enfrentar em outra posição, quando me tornei professor em um cursinho, porque todo o conteúdo de 2º grau de biologia precisava ser transmitido aos estudantes em um ano, estivessem eles entendendo a matéria anterior ou não. Por mais que as aulas fossem transmitidas em um tom informal e houvesse um plantão para tirada de dúvidas, o conteúdo da disciplina precisava ser decorado, não apenas compreendido. E afinal, não podemos explicar porque que um estudante de segundo grau que prestará vestibular para a faculdade de letras precisa saber sobre a função do retículo endoplasmático ou calcular quais as forças atuando sobre um carrinho correndo sobre uma mesa. Porque mesmo que ele decore essas coisas para passar no vestibular, é provável que logo as esqueça.
O ensino de ciências deveria incitar a curiosidade científica dos estudantes, e não apenas fazê-los decorar tabelas e esquemas. Entender o que precisa ser aprendido só acontecerá quando o aluno despertar interesse pelo assunto e conseguir realizar conexões entre os diferentes fenômenos. A ciência se encontra de tal forma desvinculada dos outros campos de conhecimento, distante de nossa realidade, que a maioria de nós se sente incapaz de associar os eventos cotidianos à pratica de aprendizado de ciências.
Mais do que receber toda uma carga de conhecimentos que ele provavelmente não é capaz de absorver, o estudante precisa ter a ciência em seu cotidiano, precisa ser capaz de interpretar sua realidade à luz do raciocínio científico. E, mais do que isso, o ensino de ciência não deve se limitar ao seu campo de atuação, mas se estender a outras áreas.
É fato que o conteúdo transmitido pelo educador interfere no cotidiano do estudante. É desejável que essa interferência ocorra, mas somente quando ela for positiva. A história mostra que a ciência pode ser usada tanto para bons quanto para maus fins. O uso, a inclinação que se dará para ela, em muito depende da educação que o cientista em formação recebe, não apenas no que se refere às questões diretamente abordadas enquanto conteúdo explícito, mas também todo o conteúdo transmitido mediante o currículo oculto.
E por "currículo oculto" entendamos todos os valores que são transmitidos aos estudantes, impregnados no conteúdo da disciplina ou na forma como esse lhes é transmitido. Esses valores acabam por moldar o caráter dos estudantes, influenciando suas atitudes para com seus colegas, sua família e a comunidade.
Muitas vezes o currículo oculto passa despercebido aos olhos do professor. Uma frase mal colocada ou uma informação omitida e aquela simples aula sobre evolução darwinista acaba inspirando sentimentos racistas. Em outras ocasiões, é nítido que o currículo oculto é propositalmente inserido dentro do contexto, com vistas a transmitir uma mensagem subliminar. E o caso da utilização didática de animais, onde a mensagem de que animais são recursos ou de que tudo é permitido em nome da ciência parece ser ainda mais importante do que aprender anatomia interna da minhoca.
Cabe ao educador estar atento, porque mais do que ciência, ele está ensinando valores; Cabe à sociedade estar atenta, porque mais do que formar possíveis cientistas, as escolas formam cidadãos. Nesse contexto cabe falar sobre a "educação humanitária".
A educação humanitária pode ser definida como a educação que incentiva o respeito e a ética para com todos os seres, no contexto do ensino de ciências. Ela não visa apenas a transmissão do conhecimento contido no conteúdo programático, mas também o desenvolvimento de atitudes positivas em relação ás pessoas, aos demais animais e ao meio ambiente.
Há uma ligação direta entre o respeito aos seres humanos e o respeito aos demais animais e ao meio ambiente. É fatídico que o currículo oculto atualmente traga a mensagem de que os animais são recursos, objetos descartáveis, porque uma mensagem que talvez escape a essa programação é a de que seres humanos também são objetos. Não há como evitar que uma coisa leve à outra.
Estudos revelam uma correlação entre a prática de desrespeito contra animais na infância e a prática de crimes hediondos na idade adulta. Crianças que experimentam a violência doméstica com maior freqüência se tornam adultos insensíveis. De igual maneira, crianças que vivenciam a violência contra animais tendem a perder a capacidade de sentir compaixão e passam a desrespeitar outras formas de vida.
No "currículo oculto" das instituições de 2º grau e principalmente nas universidades, há práticas voltadas especificamente para dessensibilizar os estudantes. Por exemplo, estudantes são induzidos a realizar procedimentos em animais agonizando, de forma que se tornem menos sensíveis ao seu sofrimento. Dessa forma, espera-se que isso os capacite a terem "sangue frio" para tratar pacientes humanos agonizando.
O grande problema dessa prática é quando ela dá certo, porque é nítido que há um problema quando um estudante presencia um cão agonizando e não se compadece. O estudante de medicina que vê esse animal como um objeto, como um boneco para realização de procedimentos desnecessários, dificilmente terá uma visão diferente de seus pacientes. Não é a toa que o cenário que encontramos é de uma medicina desumanizada. O paciente que acorre a um consultório particular recebe, na maioria das vezes, um tratamento com alguma dignidade, afinal, ele é um cliente; mas o paciente que acorre a um hospital público não tem o mesmo tratamento, porque o médico o trata conforme aprendeu a tratar.
A educação humanitária, por outro lado, visa formar mais do que médicos e cientistas. Ela visa formar cidadãos responsáveis, éticos, compassivos, sensíveis. Porque é óbvio que um médico que escute seu paciente e de fato esteja preocupado com sua saúde é melhor profissional do que um médico que apenas exercite seu ego fazendo uso de um poder exercido em caráter temporário.
Mais do que um movimento de "proteção às cobaias", esse é um movimento pela qualidade no ensino das ciências, da biologia, da medicina veterinária e humana. E de fato, diversos estudos demonstram que estudantes aprendem melhor através dessas metodologias, porque elas enfocam o conteúdo das disciplinas, não distraindo o estudante com a preocupação de se o animal vai acordar, se ele ainda está respirando, se ele vai morrer etc. Nada ali confronta sua ética ou compaixão, não há conflito, e por isso mesmo, o estudante não tem outra preocupação senão aprender.
As metodologias utilizadas na educação humanitária são as mais variadas, sendo que todas procuram desvincular o estudante da visão de que animais são recursos. Não necessitamos de cães, ratos ou coelhos para entendermos como funciona o sistema circulatório, para isso podemos utilizar atlas anatômicos, livros textos, softwares educacionais, simulações computadorizadas, slide-shows, manequins anatômicos, vídeos, cadáveres de animais obtidos de forma ética, podemos utilizar recursos que permitam que os estudantes estudem o sistema circulatório em seus próprios colegas, de forma consentida, amigável e interativa. Enfim, as possibilidades são imensas e não há porque limitá-las a uma única metodologia, tão discutível e polêmica.
O processo de aprendizado de ciências não precisa ser esse pesadelo desumano, onde as convicções éticas do estudante são a todo momento agredidas pela imposição do conceito de que isso é necessário ou imprescindível, para sua formação. A coação para que os estudantes participem dessas práticas de fato em nada contribui para seu futuro, pelo contrário, os torna sujeitos menos sensíveis e questionadores ou leva muitos à evasão para outros cursos. Com isso a ciência perde, porque deixa de atrair pessoa sensíveis e questionadoras.
A educação humanitária já é praticada em países europeus e nos EUA há muitos anos e não há porque não implementá-la também no Brasil. Dela não se beneficiam apenas aqueles que tem afinidade pelos animais, mas também o indivíduo e a sociedade.

ATIVIDADE 1 – RESPONDA

1. Após o seminário dos textos alusivos a esta corrente pedagógica, conceitue o vocabulário para educação humanitária

a.    Antropocentrismo –
b.    Ecocentrismo –
c.    Biocentrismo –
d.    Especismo –
e.    Biocídio –
f.     Genocídio –
g.    Coprofagia –
h.    Senciência –
i.      Vegetarianismo –
j.      Ovolactovegetarianismo –
k.    Veganismo –
l.      Abolicionismo –

2. Como formularia com suas palavras o conceito de Educação Humanitária aplicada ao ensino de Ciências?

3. No que a Educação Humanitária difere da Educação Humanista?

26/07/2016

SEXUALIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Psicóloga Nina Eiras Dias de Oliveira
http://www.existencialismo.org.br/jornalexistencial/sexualidade.htm

1 SEXUALIDADE INFANTIL

A educação sexual acontece primordialmente no contexto da família onde a criança está inserida. Muitos pais preferem nem tocar no assunto. Outros super estimulam as crianças, achando engraçadinho ver crianças de 1, 2, 3 anos beijarem na boca, ao som de frenéticas risadinhas, ou indagações do tipo: "Quem é seu namorado?" As meninas vestem micro saias, ou micro shorts, os meninos são empurrados a desejar modelos como Tiazinha, Carla Perez, Feiticeira, etc. A geração anterior era muitas vezes punida e repreendida caso mencionasse ou quisesse saber alguma coisa a respeito de sexualidade. A atual é bombardeada pela estimulação precoce à erotização.
Há os que acreditam que só estão lidando com a sexualidade a partir do momento em que ela é falada, seja através de informações ou explicações a respeito. Mas onde inicia então esta relação? Quando a mãe e o pai cuidam do bebê, brincam com este, na maneira como se relacionam com ele, ao mesmo tempo em que o casal vive uma relação afetiva, gratificante ou não, quando os limites de cada papel e relação ficam bem definidos e marcados, quando a criança pode concluir que amar é ou não possível, está recebendo educação sexual. Quando se pensa em educação sexual na infância, automaticamente tem que se pensar, também, em desenvolvimento emocional, isto é, tem que se levar em conta o nível de maturidade e as necessidades emocionais da criança.
É importante que as questões da criança tenham espaço para serem colocadas e respondidas com clareza, simplicidade, na medida em que esta curiosidade vai se dando. Às vezes, alguns pais querem se livrar logo do assunto e na ansiedade disparam a falar além da necessidade da criança, na tentativa muitas vezes frustrada de que nunca mais vão precisar falar sobre o assunto. Quando uma criança pergunta por exemplo, como o bebê foi parar na barriga da mãe não quer dizer que ela queira ou aguente saber detalhes com relação ao ato sexual dos pais. Responder a criança de maneira simples, clara e objetiva satisfaz sua curiosidade. A satisfação dessas curiosidades contribui para que o desejo de saber seja impulsionado ao longo da vida, enquanto que a não satisfação ou o excesso de informações gera ansiedade e tensão.
A sexualidade infantil é diferente da sexualidade adulta, não contém os mesmos componentes e interesses. Muitas vezes através da dramatização, a criança compreende, elabora, vivencia a realidade que vive. Compreende papéis (mãe, pai, filho, homem, mulher, etc.), embora muitas vezes já se perceba menino ou menina e já conheça seus órgãos genitais, experimenta na brincadeira sexos indiferentemente.
Perdeu-se hoje, de uma forma geral, a noção do que é pertinente à criança. Vejo com frequência adultos se dirigirem à criança como se estivessem se dirigindo a adultos em miniatura. Não sabem como se aproximar delas, sobre o que falar e de que maneira.
Ao ouvirem uma criança se referir a outra como sendo seu namorado entendem isto dentro do parâmetro de adulto, às vezes desesperando-se, às vezes estimulando, poucos lidam com este dado na dimensão do contexto e por quem ele é apresentado.
Acompanho no consultório crianças que, super estimuladas, encontram na erotização a única forma de se relacionar. O afeto é erotizado e os movimentos, a vestimenta e a maneira como se comportam, tem o sentido de provocar uma relação erotizante. Apresentam, portanto, distorção em sua capacidade de sentir, pensar, integrar, conhecer e de relacionar, pois são estimuladas a dar um salto para a sexualidade genital, que não têm condições emocionais, biológicas e maturidade de realizar, dispertando, muitas vezes, alto nível de ansiedade e depressão.

2 MÍDIA E SEXUALIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Sigmund Freud e Jean Piaget. Referências Balizadoras.
http://www.overmundo.com.br/overblog/midia-e-sexualidade-na-educacao-infantil-ii

Os estudos na área da sexualidade humana desenvolvidos por Sigmund Freud, evidenciam a necessidade de compreensão das diversas fases da construção da sexualidade infantil, sendo obrigação da escola estar informada destas ocorrências e as professoras habilitadas para compreender as diversas manifestações que irão ser exteriorizadas pelas crianças e não reprimi-las, ao contrário, permitir e orientar evitando, claro, os excessos. Segundo ele a partir do período do nascimento até à fase da puberdade, o sexo age de modo latente como um norte das estruturas da personalidade que irão se consolidar na fase adulta.
Ele chama estas fases de desenvolvimento psicossexual, e nos diz que a libido situa do nascimento à puberdade três etapas gradativas, representativas do grau de maturação sexual da criança e que marcam o início da vida sexual do ser humano: fase oral, fase anal, fase fálica. Depois, vem a puberdade. Estas etapas variam de início, fim e duração de indivíduo para indivíduo. O período inicial é a primeira fase desse amadurecimento e está direcionado para o próprio corpo. Ao nascer, o bebê perde a relação simbiótica que possuía com a mãe iniciando sua adaptação ao meio. A libido está organizada em torno da zona oral e o tipo de relação será a incorporação: a criança incorpora o leite e o seio, e sente ter a mãe dentro de si.
Ainda na primeira fase, dos dois aos três anos, a libido passa da organização oral para a anal. O controle muscular amadurece neste período em que o controle dos esfíncteres torna-se mais evidente, juntamente com o sentido de propriedade relativo a seus pertences. Consolida-se aí o andar e o falar.
A partir dos quatro anos a libido passa a se localizar nos órgãos genitais. É natural nesta fase um grande interesse pelos órgãos genitais e a masturbação freqüente. A criança fixa a sua atenção no genitor do sexo oposto, num sentido evidentemente incestuoso. É a fase edipiana, quando forma-se na criança uma espécie de busca de prazer junto ao sexo oposto. O menino fixa-se na imagem da mãe, e a menina na do pai.
O encerramento deste ciclo coincide com o período de conclusão da educação infantil, a partir de sete anos. Este é um período intermediário entre a genitalidade infantil e a adulta e nele não há nova organização de zona erógena.
Se até aí o desenvolvimento das sucessivas fases de amadurecimento sexual for respeitado, a criança seguirá seu curso normal entrando numa fase chamada período de latência, quando ela irá sublimar as atenções da área sexual e estará mais apta a adquirir novos conhecimentos através do amadurecimento intelectual esperado neste período, que irá até aproximadamente os doze anos, início da puberdade. A partir daí a libido toma direção sexual definitiva.
Já Piaget classificou quatro estágios no desenvolvimento do raciocínio humano, que iam do nascimento até o fim da puberdade e conseqüentemente ao início da adolescência, que se sucediam de acordo com as fases do desenvolvimento físico. Após observarmos a classificação de Piaget, poderemos concluir que a sua classificação coincide com as observações de Freud, e poderemos constatar que além do desenvolvimento do raciocínio e do físico, correspondem também às citadas etapas, ao desenvolvimento psicossexual. No nosso caso nos interessa principalmente a concordância entre o período de latência de Freud e o terceiro estágio de Piaget. Vejamos. Ao primeiro estágio Piaget chamou sensório-motor. Ele corresponde aos dois primeiros anos da vida e caracteriza-se por uma forma de inteligência empírica, exploratória, não verbal. A criança aprende pela experiência, examinando e experimentando com os objetos ao seu alcance, somando conhecimentos.
No segundo estágio, que ele chamou pré-operacional, e que vai dos dois anos aos sete anos, os objetos da percepção ganham a representação por palavras, as quais o indivíduo, ainda criança, maneja experimentalmente em sua mente assim como havia previamente experimentado com objetos concretos.
No terceiro estágio, dos sete aos doze anos, as primeiras operações lógicas ocorrem e o indivíduo é capaz de classificar objetos conforme suas semelhanças ou diferenças. No quarto estágio, dos doze anos até a idade adulta, o indivíduo realiza normalmente as operações lógicas próprias do raciocínio.
Se cruzarmos as conclusões de ambos , verificaremos que a concordância entre o período de latência de Freud e o terceiro estágio de Piaget reforça a importância deste período no processo de desenvolvimento acentuado do intelecto. À ausência da fase de latência substituída pelo interesse sexual prematuro podemos chamar dentre outras expressões de queima de etapa. É função da educação infantil contribuir para que o aluno chegue à esta fase sem a erotização precoce, que, se presente irá desviar a atenção que deveria estar voltada para o aspecto intelectual, para a área sexual, mudando então o foco de interesse e prejudicando o aprendizado.
Não é demais relembrar que, quando Freud e Piaget se referem as características de uma determinada faixa etária por exemplo, “dos sete aos doze anos”, nós não devemos perder de vista uma certa flexibilidade no sentido deste momento poder ser um pouco antes dos sete, ou um pouco depois dos doze a depender do grau de maturação da criança, variando pois de indivíduo para indivíduo e que é influenciado por diferentes variantes sócio-culturais.

2.1 A FORÇA E O PODER DA MÍDIA
A televisão tem nos dado exemplos desta queima de etapas. O programa infantil Disney Club muito assistido pelo público infantil na década de 90, por exemplo, usava um jargão que dizia: “não somos crianças somos ultra-jovens” que é repetido diariamente, e apresentado pela Turma do CRUJ – Comitê Revolucionário Ultra Jovem. Ele traduz de forma clara o desejo de anulação da infância e projeção precoce da criança no mundo adulto.
Neste contexto, a escola e a família têm uma influência direta e simultânea na orientação a ser dada à criança. A responsabilidade ou ação de uma não exclui nem concorre com a da outra. Antes, elas se complementam. Apesar de não caber à escola o papel de impor regras ou valores sejam morais, religiosos ou sexuais, ela eventualmente precisa se contrapor as normas colocadas pela família. Deve-se, porém não perder de vista que, cada família tem uma história consuetudinária, econômica e política intimamente ligada ao tempo e espaço onde criaram suas raízes. Isto deve ser levado em conta quando a escola propõe qualquer projeto de educação, especialmente os ligados à área da religião e da sexualidade.
Apesar de se entender que a história familiar é fundamental para se entender dentro da escola os padrões de comportamento dos alunos, ela não é dinâmica e atualizada, por isso deve ser motivo de preocupação da escola as recentes e marcantes mudanças pelas quais passam as famílias e a sociedade como um todo. Elas têm sido causas de profundas mudanças nos papéis e valores muitas vezes equivocados, questionáveis ou totalmente condenáveis. São situações extremamente delicadas que exigem lidar com muito tato.
A família que ama, acolhe e protege é a mesma que reprova, castiga, fantasia e critica usando desde as formas mais ostensivas como o castigo físico e reprovações verbais públicas, até as mais sutis como a definição de papeis sexuais, transitando livremente pelos tabus, preconceitos e omissão, colocando a idéia do sexo como algo ruim, vergonhoso, sujo e passível de punição. “Pecado original”.
No que pese reconhecermos ser responsabilidade da família e não é da televisão nem do rádio, a seleção do conteúdo a ser visto e ouvido pela criança, não podemos deixar de registrar a omissão da escola e a indiferença da mídia e do governo em relação à questão, que possibilita a divulgação do imenso manancial de mediocridade presenciado diuturnamente.
Um freqüente bombardeio de informações através de livros, revistas, jornais, propagandas e os amigos, alheios e indiferentes à escola e à família, exercem um poder muito grande de formação de opinião e são decisivos na construção da erotização precoce e a gradativo encolhimento do período da infância.
A mídia, com especial destaque à televisiva, trata indistintamente todas as faixas etárias. Temas, conteúdos e comportamentos antes restritos aos adultos, são expostos em horários freqüentados por crianças de todas as idades. Cenas eróticas, crimes, guerras, intolerâncias raciais e religiosas, corrupção; as crianças são literalmente expulsas da infância e projetadas na idade adulta. Um dos mais influentes meios de repasse de valores é sem dúvida a música. Ferramenta das mais importantes na educação infantil, através dela podem ser repassados conhecimentos conceitos e valores, desenvolver-se aptidões e estimular-se a afetividade, interagindo destarte nas três áreas de atuação da educação formal: a afetiva a cognitiva e a psicomotora. Ela tanto pode ser tradicional, quando se origina do folclore ou da cultura popular ou erudita (pertencente ao universo escolar), como é o caso da obra do professor baiano Antônio Luiz Ferreira Bahia, na área de Educação Física Escolar.
A música, como também outros instrumentos de educação, influi diretamente no desenvolvimento da imaginação infantil, remetendo a criança a um universo paralelo que serve de referência para a solução de seus conflitos pessoais e interpessoais através da solidificação e porque não dizer também, da construção de conceitos e normas de conduta para si própria e em relação ao próximo. Por isso é necessário oferecer em casa e na escola um repertório musical adequado sem espaços para a programação de baixo nível exibida nos meios de comunicação, o que só será atingido através de um esforço social coletivo tendo à frente a família e a escola que juntas podem viabilizar uma ação sócio-política neste sentido.
Quando a família se coloca contra esta mediocridade dizendo às crianças o que é ou não correto, e selecionando a programação que ela pode assistir, ajuda a desenvolver o senso de autocrítica que possibilita a capacidade da própria criança poder selecionar o que deve ou não ver e ouvir. Família e escola devem ser pontos de referência dos valores éticos e morais para seus alunos, que façam frente a este padrão permissivo dominante. Sem falso moralismo.
Um processo educativo deve incluir a discussão desse padrão, fruto da cultura de massa que induz ao consumismo e cria imagens de referência, como modelos instituídos para um corpo de artista, ou adequados apenas à estatura que não se tem, pertencentes a “grifes”, etiquetas e marcas da moda, relegando a segundo plano os caracteres e atributos herdados de cada família e o bem-estar pessoal (FAGUNDES, 2004).
A massificação imposta pela mídia, induzindo-nos a um padrão estético de “gosto musical” homogêneo e a consumir a chamada Axé-Music, o Pagode, o Arrocha dentre outros “ritmos da moda” e todas as implicações e variantes decorrentes de tais estilos. Recordo-me de um artigo lido no vespertino soteropolitano A Tarde, tratando da sexualidade, exaustivamente explorada pela mídia na nossa sociedade, que atinge indistintamente todas as camadas sociais e faixas etárias e falando sobre a cultura do “bumbum”, duramente criticada por Fernanda Abreu e Gabriel o Pensador no seu CD que leva o nome da faixa Nádegas a Declarar (vale a pena ouvir).
A exposição midiática massificada de símbolos sexuais direcionados ao público infantil, privilegia a sedução como ferramenta fundamental para alavancar as suas vendas, aspecto inerente e peculiar da sociedade de consumo. Foi inevitável estabelecer uma relação entre estes aspectos e o comportamento das nossas meninas usando a partir da educação infantil as roupas de Tiazinha os tamanquinhos de Carla Perez, sandalinhas de Xuxa ou de Sandy de salto alto, totalmente inadequadas para essa faixa etária.
A inadequação do uso de salto alto pelas crianças - se formos considerar apenas os perigos de traumatismos ósteo-articulares - se dá pelo fato de estarem com seu sistema músculo-esquelético em formação, com uma maior predominância de tecido adiposo em relação às outras partes e precisarem, para usá-las, ficar com os pés em posição forçada, apoiando-se na sua parte anterior, (antepé), transferindo para frente o centro de gravidade e gerando consequentemente uma má postura com todas as suas implicações.
Este tipo de calçado, favorecendo o desequilíbrio, pode ainda provocar quedas e/ou entorses na articulação do tornozelo durante as suas correrias no recreio, tão natural nesta idade. Sei que o apelo comercial é forte e elas ficam umas “gracinhas”, mas cumpre-me o papel de alertar quanto ao perigo em potencial do uso de tais peças.
Atualmente não existe mais moda infantil. A moda infantil é a mesma moda adulta em miniatura, e a própria mãe é promotora desta queima de etapas, fazendo muitas vezes uma projeção na sua filha do que ela queria usar, mas não pode, porque o padrão estético em vigor não permite que ela exponha seus culotes, celulites ou barriga avantajada. Da mesma forma o pai incentiva seu filho a “consumir” os símbolos sexuais em evidência para compensar a sua baixa auto confiança sexual e evidenciar o seu machismo. Agindo assim, a família vai de encontro a uma assertiva de Piaget que assegura que uma criança não é um adulto em miniatura e sim um ser próprio com suas características e necessidades.
Sabemos que as crianças não são seres assexuados como se pensava antigamente, mas, a iniciação sexual precoce, pode ser incentivada através de hábitos aparentemente inocentes como as “danças” de pagode, os “funk” do tipo tigrão, a deprimente e lamentável “egüinha pocotó” e mais recentemente o lascivo “arrocha”, subproduto do bolero.
Estes ritmos praticamente só abordam temas eróticos da forma mais vulgar possível, induzem ao consumo de roupas que “valorizam” o corpo, ao mesmo tempo em que exploram comercialmente suas peças de vestuário, adornos e acessórios. Os personagens que veiculam esta ideologia são protagonizados por apresentadoras de programas infantis, e as sedutoras Carla Perez, (protótipo da “gostosa”, com suas botas e roupas sumárias), Tiazinha (sadomasoquista com suas armas, máscara e chicote) e a Feiticeira (misteriosa, com seu véu sensual), Xuxa (eterna adolescente, felizmente em franca decadência) todas convenientemente fabricadas pela mídia, trazendo em seus personagens ainda o ingênuo ou malicioso perfil da sensualidade.
Elas protagonizam a exploração fetichista dos seus adornos, acessórios e indumentárias, a exposição e o exibicionismo do corpo como carne em balcões frigoríficos do supermercado estrategicamente associados à aura de pureza e ingenuidade quase pueris que deixam transparecer, incentivando de forma ostensiva a erotização precoce das nossas crianças.
Tais modelos estéticos representados nos anos 80 principalmente por Xuxa e os Menudos e nos anos 90 pelas outras acima citadas, vêm queimar etapas importantes do desenvolvimento infantil, acelerando a chegada da puberdade e contribuindo para a banalização do sexo. Queimar etapas gera frustração, e faz com que, quando adulto, o indivíduo fique tentando em vão recuperar o tempo perdido.
A assimilação destas danças e ritmos se pode observar nas festas de aniversário, incentivadas por “animadores” e comemoradas pelos pais. Aliás, o conceito de festa infantil vem gradativamente se transformando, e é cada vez mais ocorrente o tipo de festa “boite infantil”. Pode? Aliado a estes aspectos negativos de cunho sexual, ainda tem o incentivo da violência explicita, consentida e comemorada contra a mulher, protagonizada pelos “tapa na cara” e os “tapinha não dói” dentre outras mediocridades.
Outro aspecto importante vem das expressões contidas nas “letras” das “músicas” como: “vou pegar você na cama e fazer muita pressão”; “tudo que é perfeito, a gente pega pelo braço, joga lá no meio, mete em cima mete em baixo”, e outras, que por incrível que pareça, são bastante piores e não cabe citá-las aqui. Merece destaque também os termos depreciativos usados pelos “artistas” para designar e “elogiar” a mulher como: cachorras, poposudas, potrancas...
Estas declarações de animalização, submissão, agressão e vulgarização da condição feminina, ensinam aos meninos que eles devem vê-las, tratá-las e usá-las como meros objetos de prazer (consumo), inferioridade e sadismo (violência física), pois, tudo isto é legitimado e reforçado quando é bem visível a imagem delas próprias cantando e coreografando estes refrões, portanto, concordando implicitamente com tudo.
Os homossexuais também são tratados da mesma forma. Recentemente em Salvador o grupo de “pagode” abaixo citado protagonizou esta letra de caráter evidentemente homofóbico:



Bicha, bicha
Passe a mão na bicha
Bicha, bicha
Sambe com a bicha
Bicha, bicha
Esse cavalo é égua
Baixo astral, baixaria
(Grupo Saiddy Bamba, 2004)



Outra lembrança que tive é o fato das crianças virem maquiadas para a escola, o que, apesar de ser ”engraçadinho” também conduz a vulgarização da condição sexual hoje em dia levada a cabo pela moda, e estrelas do mundo artístico. A aceitação passiva destes desvios pela escola, a transforma em mais um espaço que legitima signos que vulgarizam a condição sexual.
Estes apelos eróticos trazem graves problemas a curto e médio prazo, às vezes materializados por uma iniciação sexual precoce, que pela inexperiência dos parceiros pode conduzir a uma DST, gravidez indesejada na adolescência, AIDS, aborto ou outros tipos de problemas, ressuscitando a mulher objeto e jogando na lata do lixo, valores construídos com muito sacrifício pelas mulheres nas últimas décadas. Isto sem falar na decepção que pode ser gerada por envolvimentos superficiais quando se “fica”, tipo de relacionamento peculiar aos “artistas da moda”, onde é recíproca a falta de afeto e o respeito.

3 O SIGNIFICADO DE SEXUALIDADE PARA AS EDUCADORAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL

(http://www.pesquisa.uncnet.br/pdf/educacao/REPRESENTACOES_SEXUALIDADE_EDUCACAO_SEXUAL_EDUCADORAS_EDUCACAO_INFANTIL.pdf)

O significado de sexualidade tem um vinculo muito forte com a história da humanidade. É construída no decorrer da história, por isso pode-se dizer que ela é social e histórica. Além disso, é parte da formação da personalidade da criança e dos adultos ( NUNES, 1987).
Para Freud, a busca do prazer é a maneira que temos para dar vazão ao forte impulso sexual que chamamos de libido. Assim como ocorre com outros fatores do desenvolvimento infantil (o falar, o andar, etc...), a criança irá desenvolvendo paulatinamente a sua sexualidade.
Também como afirma Bock (1993, p.225):
[...] “a sexualidade aparece no ser humano desde muito cedo, e que suas primeiras manifestações não têm caráter genital, mas trata-se mais da organização do impulso libidinal”, [...].
Como uma das características deste trabalho era partir das idéias das professoras sobre a sexualidade, iniciamos a entrevista com a questão: Qual é o significado de sexualidade para você? As respostas obtidas seguiram as mesmas linhas de pensamentos, pois as educadoras entendem a sexualidade como algo normal. Para Ágata que atua na Educação Infantil há 15 anos, “a sexualidade faz parte da nossa vida, faz parte da construção do ser e os órgãos genitais masculino e femininos, possuem a mesma importância que os outros órgãos do corpo humano, e devem ser tratados igualmente, pois cada um tem uma função”. Além disso, Ágata afirma que “a sexualidade nos mostra as sensações, transformações do nosso corpo e também é através dela que podemos gerar outros seres”. Deste modo concordando com a afirmação de Clarck (apud FURLAN, 1975 p. 67).
A vida sexual não começa somente na puberdade, mas se inicia com manifestações evidentes, logo depois do nascimento; É necessário distinguir nitidamente entre os conceitos de “sexual” e “genital”. O primeiro é o conceito mais amplo e inclui a função de obter prazer de zonas corporais – uma função que é conseqüente posta a serviço freqüentemente deixam de coincidir completamente.
Diante das afirmações de Ágata, podemos destacar que ela atribui grande importância à sexualidade das crianças. Defende que ela precisa ser tratada sem espanto e indignação para que a criança não pense que questionamentos e discussões sobre a sexualidade sejam anormais.
Cristal, com 17 anos de experiência na Educação Infantil, afirma que na escola em que atua a educação sexual não é trabalhada como um conteúdo específico, mas faz parte das atividades diárias. Afirma que sempre que houver necessidade ou quando as crianças perguntam, “é preciso esclarecer com naturalidade, respondendo as perguntas conforme as crianças perguntam ”. Além disso, Cristal afirma que os professores devem ter clareza no assunto, distinguindo o que é natural do instinto humano e o que não é sempre utilizando a nomenclatura correta dos órgãos genitais. A sexualidade para ela é a busca pelo prazer. “A educação sexual ocorre desde que nasce”. Reportando-se a afirmação de Nunes (1987 p.19).“Não há uma época a iniciar a” educação sexual”. Desde que nascemos somos seres sexualizados e não podemos continuar numa concepção de infantilismo, encarando as crianças como assexuadas e ignorando o nível de tensão e interesse que lhe diz respeito”.
Esmeralda que há dois anos atua na Educação Infantil entende que é preciso abordar a sexualidade com ética, já que faz parte do nosso dia-a-dia, sendo que “é algo que devemos tratar normalmente”. Afirma também que “a sexualidade é algo importante para o ser humano, por isso trato-a e entendo-a como natural”.
Nesse sentido compreende-se a sexualidade como algo natural da humanidade. Envolve, além do nosso corpo, nossa história, nossos costumes, nossas relações afetivas e a nossa cultura. É algo que vai muito além do sexo ou uma simples parte biológica do corpo a qual permite a reprodução. Quando se fala em sexualidade é preciso pensar na vida. Assim também relata Marx (apud NUNES, 1997 p.9).
A relação do homem com a mulher é a relação mais natural ao homem com o homem e nesta relação aparece, então, até que ponto sua essência natural. Nesta relação vimos também, até que ponto as necessidades humanas se tornam necessidades humanas, até que ponto, então, o outro homem, como homem se torna uma necessidade para o homem e até que ponto o homem em sua essência mais individual é, ao mesmo tempo comunidade.
Marx nos traz clareza a respeito do que as professoras afirmam, quando dizem que a sexualidade é uma função dos seres humanos como tantas outras.
Uma veemente definição da sexualidade e sua construção social, seus determinantes históricos e suas potencialidades éticas e políticas não poderiam passar despercebidos pelas análises que empreendemos das respostas dadas pelas entrevistas. Assim, a sexualidade é vista como um universo que precisa ser entendido como um conjunto de atividades, posturas, opções modos de vida, subjetividade resultante das relações sociais.

3.1 EDUCAÇÃO SEXUAL: FAMÍLIA, INSTITUIÇÃO ESCOLAR E SOCIEDADE
A educação sexual em muitos momentos ocorre de maneira fragmentada ou equivocada, ficando para a instituição escolar toda a responsabilidade sobre o assunto. Sendo um processo da vida inteira, é preciso que haja um entrosamento entre família e Instituição Escolar, quando se trata de um assunto tão pertinente e importante como é a educação sexual. As dúvidas das crianças precisam ser esclarecidas de maneira clara e objetiva, pois o constrangimento dos pais, segundo relato das educadoras entrevistadas, sobre o assunto aumenta a falta de informação, faz com que a escola se torne o principal espaço de educação sexual.
A partir disso, a segunda questão feita às educadoras foi: Como você percebe a educação sexual na família, na instituição escolar e na sociedade?
Ágata (formada em pedagogia e pós-graduada em gestão escolar) relata que a educação sexual ainda carrega muitos tabus. Enfatiza a importância de ter clareza e domínio do assunto, para transmiti-lo às crianças, caso contrário, poderão ser repassadas informações destorcidas e equivocadas. Para ela a educação sexual na família deve começar o mais cedo possível. Ela percebe que se encontram muitos tabus, nas famílias, “no diálogo com os pais, há uma vergonha mútua: os filhos têm vergonha de perguntar e os pais têm vergonha de falar”. Nesse enfoque escreve Furlan (2004, p13),
[...] O culto ao corpo e a liberdade de expressão da sexualidade são temas do cotidiano, das telenovelas e filmes, todavia, com toda essa avalanche de informações, nem sempre sensatas, a sexualidade, ainda é tratada como um assunto tabu dentro das famílias. Essa pouca discussão entre pais e filhos sobre a sexualidade [...] gerada seja pela ignorância ‘dos conhecimentos para fazê-lo, seja porque se sentem constrangidos para tratar do assunto’.
Cristal, formada em pedagogia com administração escolar e pós-graduada em educação infantil e séries iniciais, afirma que é preciso sair do preconceito e do receio em abordar e explicar sobre a educação sexual, pois muitos são os pais que recorrem à escola quando surgem os questionamentos dos filhos e eles não sabem o que fazer ou dizer. “Não se deve mentir, nem omitir é preciso falar a verdade”. Para a entrevistada, a família precisa ser à base de todas as informações que a criança recebe, ela precisa se sentir segura para conversar sobre todas as curiosidades, quando a família não corresponde, negando ou omitindo informações, ela vai procurar estas respostas em outro lugar. Infelizmente sabemos que muitas crianças não têm um bom convívio familiar, e acabam buscando apoio e segurança em amigos, professores etc..., afirma ela.
Para Esmeralda, acadêmica do curso de pedagogia-séries iniciais, 5º fase, “na família a educação sexual, ainda é um tabu, algo que assusta, por isso os pais não compreendem algumas atitudes vindas da escola, e em muitos momentos vão para a escola apavorados em busca de ajuda para tirar dúvidas”.
De acordo com as professoras entrevistadas, os pais ainda têm muitos tabus e sentem vergonha em falar no assunto, recorrendo à escola e muitas vezes deixam esta tarefa somente para instituição de ensino. Sabe-se, porém que não é fácil para pais que não foram educados com mais diálogo, possibilitar uma forma mais aberta às questões da sexualidade às crianças. Mas o importante é tentar melhorar a educação que possam oferecer a seus filhos, buscando mais informações. Muito importante será a atitude que se deve ter ao responder às perguntas: o tom de voz, o fato de estar ou não à vontade, tudo isso será captado pela criança também como forma de informação. Apesar disso, questiona-se: até aonde vai o interesse dos pais em esclarecer as dúvidas dos filhos referentes à sexualidade? Será que os mesmos possuem clareza sobre o assunto para conversar abertamente com as crianças? É oportunizada aos pais uma metodologia para trabalhar educação sexual na família?
Ágata afirma, “A educação sexual deve estar inserida no contexto escolar, havendo interação entre alunos e professores, para que possam juntos falarem e debaterem a sexualidade”. Para ela a escola poderia se constituir um importante meio de educação sexual. Já Cristal afirma, “a escola precisa falar a mesma linguagem que a família, sempre tentando responder todas as questões com muita naturalidade”. Diz ainda que, “quando a escola percebe que a família tem dificuldade para lidar com estas questões, é necessário que se faça um trabalho para auxiliar os pais, de forma que estes consigam ultrapassar os tabus que lhes foram impostos”. Esmeralda pontua que, “na escola deve-se trabalhar a educação sexual de forma lúdica, que é natural, se trabalha no contexto que vem das crianças, sem exageros ou apelações”.
Contudo, percebemos que Cristal destaca a importância de haver comunicação entre escola e família, um entrosamento, como falamos anteriormente, para que assim, possam um auxiliar ao outro, mutuamente e desta forma a criança possa ser favorecida com informações claras e concretas daquilo que deseja saber. Também verificamos através das entrevistas, que as educadoras, afirmam que a educação sexual deve estar inserida no contexto escolar, de forma natural e espontânea. Mas cabe refletirmos, será que realmente é dada a devida importância ao assunto nas instituições de Educação Infantil? Será que as educadoras estão preparadas e habilitadas para trabalhar a educação sexual no espaço escolar?
Ágata afirma, quanto à sociedade: “deverá haver um programa específico do governo para a educação sexual. A educação deve ser ampla o suficiente para abranger a família e a sociedade”.  enquanto Cristal destaca que houve um avanço muito grande neste contexto, da percepção da sociedade, quanto à educação sexual, pontuando que: “muitas vezes observamos, que ainda existem tabus e muitas pessoas os reforçam, até porque, hoje falar de sexualidade, também é falar de questões como homossexualismo, pedofilia, e outras questões que são complicadas, [...], por mais que se lute pela quebra de tabus, ainda assim é complicado aceitar tudo isso”.
Desta forma, percebemos que Cristal enfatiza o fato de vivermos em uma sociedade conservadora, preconceituosa, apesar de considerar que houve avanços nestas discussões,  muitos tabus ainda existem.
Para Esmeralda, a sociedade vê a sexualidade como forma de venda, consumismo e capitalismo, o que, para ela, influencia as crianças, pois, elas têm livre acesso aos meios de comunicação.
Contudo percebe-se que, apesar da mídia atualmente influenciar tanto nossas crianças e adultos também, somente uma das entrevistadas identificou essa problemática. Assim sendo, é de grande importância em nossas discussões sobre educação sexual, a abordagem das informações da televisão, pois este aparelho dá grande destaque à sexualidade, porém de forma vulgarizada, através de cenas de sexo, corpos nus, entre outras...
Deste modo compreende-se que a sociedade projeta a educação sexual como sendo responsabilidade da escola, como frisa Gentile (2006, p.22),
 [...] O constrangimento dos pais em tratar do assunto aumenta a falta de informação dos jovens e faz com que a escola se torne o principal espaço de educação sexual, [...] Entende-se que os pais são os exemplos mais próximos e primeiros para as crianças, mais tarde a escola se tornará o exemplo e após a sociedade, os quais influenciam muito na formação do indivíduo, de maneira positiva ou negativa. Porém acredita-se que a educação sexual é responsabilidade não só da escola, mas, de todo o contexto social que a criança está inserida.

3.2 A EDUCAÇÃO SEXUAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL
A televisão como vimos na parte anterior, vem mostrando explicitamente cenas de homens e mulheres nus, sexo ou algo semelhante e estas imagens acabam influenciando as crianças, assim afirma Gentile (p. 28, 2006). “Um ardente beijo na boca. Um casal deitado na cama trocando carícias sobre o lençol. Corpos nus rebolando, na televisão imagens como estas são comuns. E as crianças pequenas são expostas a elas sem saber o que significa. O resultado é que elas acabam querendo imitar esses comportamentos [...]”.
Desse modo questionou-se as professoras pesquisadas Como elas desenvolvem a educação sexual com as crianças?
Ágata diz que, “cada criança tem sua fase de descoberta, por isso sempre busco respeitar a fase de cada um. Procuro resolver as situações ou dúvidas conforme elas forem acontecendo, sem adiantar ou esconder nada”. Age sempre com naturalidade. Assim também Cristal enfatiza a importância de respeitar as fases do desenvolvimento: primeira é oral (seio, mamadeira), segunda é anal (coco), terceira é a fálica e a quarta é a latência.
Como afirma Bock (1993, p. 225): “Ao prazer oral o primeiro momento dessa maturação, sucede-se o prazer anal da retenção e expulsão das fezes e, mais adiante, o prazer fálico que torna prazerosa a manipulação dos genitais, (o pênis, no menino; e o clitóris na menina)”.
Cristal afirma “em minha escola não temos uma disciplina específica para este tema. Eu particularmente trabalho com estas questões, de acordo com a curiosidade das crianças, sempre
que surgem as dúvidas elas são respondidas e esclarecidas”.[...]
Contudo, verificamos que Cristal e Ágata reforçam neste momento a importância de se respeitar às fases de desenvolvimento das crianças, para que se possa, ajudá-las de acordo com suas dúvidas.
Esmeralda, se expressa seguramente, afirmando que: “trabalho de forma lúdica”. Ela busca o jogo e a brincadeira para trabalhar a sexualidade das crianças. Afirma também que: “a partir do interesse deles, quando se trabalha o corpo sempre há curiosidades, trabalho naturalmente”. Nesse contexto, entende-se que na Educação Infantil, que é parte fundamental na vida da criança, é um bom período para trabalhar a Educação Sexual, pois a criança está desvendando sua sexualidade, descobrindo o seu corpo, seu prazer e formando suas opiniões e conceitos referentes ao assunto. Por isso é fundamental que os pais e educadores, respondam as dúvidas das crianças claramente, sem fazer rodeios, inventar nomes fictícios ou pejorativos para os órgãos sexuais quando abordarem o assunto. Também é necessário não se estender muito, pois as mesmas buscam somente sanar suas dúvidas daquele momento. Reportando-se as palavras de Furlan (2004, p. 8),
[...] Faz-se necessário considerar que a educação não se reduz à escolarização ou a instrução, uma vez que é entendida como um processo educativo que se encontra conectado com todos os componentes explícitos ou implícitos, formais ou não formais intencionais que ocorrem nas relações sociais [...]. Em face disso, considera-se a relevância que a educação sexual precisa ter em todos os aspectos sociais, uma vez que esta se situa num momento social e histórico. No entanto há de se enfatizar a influência dos meios de comunicação sobre essa educação os quais expõem de modo vulgar o corpo, o ato sexual e a sexualidade como um todo, buscando obter audiência, ibope e lucro, assim causando um conflito notável entre escola, família e sociedade.
Finalizando, a educação sexual exige que os educadores, em especial, estejam embasados teoricamente e sejam detentores e conhecedores de toda a concepção filosófica e histórica que norteia o processo dessa educação, bem como que a escola contemple através do Projeto Político Pedagógico a concretização da mesma. Todavia, resta-nos a dúvida, será que o discurso das educadoras condiz com sua prática?

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Partindo de inúmeras leituras e visões, compreendemos que a Educação Infantil é a etapa fundamental para o desenvolvimento do ser humano, que visa cuidar e educar, crianças de 0 a 6 anos de idade, pois é nesta idade que a criança aprende a balbuciar, a engatinhar, falar, caminhar, conhecer e reconhecer as pessoas, percebendo-se como ser, enfim conhece o mundo no qual está inserida. Ao considerarmos que a educação infantil envolve simultaneamente o cuidar e o educar, percebemos que esta forma de concebê-la teve conseqüências na organização das creches e pré 10 escolas, dando a estas características na sua identidade como instituições que se diferenciam da família.
Um aspecto a ser considerado, é que as creches e pré-escolas surgiram a partir das mudanças econômicas, políticas e sociais que ocorreram na sociedade, principalmente pela inserção das mulheres no mercado de trabalho assalariado, além da organização das famílias, tendo assim um novo papel de mulher. Mulher trabalhadora, mãe e dona de casa, ou seja, mulher com dupla jornada, que disputa seu lugar no mercado de trabalho com os homens.
Há muito vem se buscando, através de pesquisas, mostrar que a criança é sujeito de direitos e, portanto, deve ser respeitada dentro do contexto em que vive. Contudo, somente a partir da necessidade da inclusão das mães no mercado de trabalho, é que, deu-se importância ao cuidado das crianças. Em conseqüência disso, as instituições de educação Infantil buscaram, com o passar do tempo e com a criação da nova Lei de Diretrizes e Bases (1996), um caráter educacional, mais aprimorado, não ficando somente no assistencialismo. Sob um novo olhar para a educação infantil e pela necessidade de atender a demanda surgem as instituições privadas.
Através da pesquisa realizada, constatamos que existem vários aspectos a serem avaliados na Educação Infantil como: a quantidade de crianças atendidas, a formação dos professores, a visão das educadoras a respeito da educação sexual, entre outros. Sendo assim, selecionamos duas instituições nas quais foi realizada a pesquisa. Em síntese compreende-se que o significado de sexualidade está claro para as educadoras entrevistadas, pois ambas percebem esta como algo natural, tendo uma visão aberta, sem resquícios de conservadorismo, trabalhando de forma lúdica e prazerosa, envolvendo os pais e a sociedade. Buscam responder os questionamentos referentes à educação sexual de maneira clara e objetiva, assim satisfazendo os interesses das crianças. Neste sentido, cabe aos professores ultrapassar o papel de mero transmissor de informação formal. Não dá para se limitar, é preciso transmitir o assunto sobre a sexualidade de maneira clara, sem rodeios, pois o mundo das tecnologias que nos cerca avança cada vez mais.

As considerações anteriormente apontadas são inquietantes. Sem sombra de dúvida, as  entrevistadas, sendo educadoras demonstram estarem ávidas por conhecimentos e estratégias de educação sexual. É preciso cautela, pois é necessário refletir muito a respeito do papel do educador sexual e de como assegurar que este não incorra em doutrinações ou receituários. É mais prudente que o educador domine, suficientemente, conteúdos teóricos como possibilidade de uma compreensão satisfatória a respeito da complexa tarefa de educar a sexualidade das crianças da Educação Infantil. Esses são compromissos que todo educador sério e comprometido com a temática educação sexual pode e deve buscar. Ou seja, a educação sexual deve começar dentro de cada educador.


CONSIDERAÇÕES FINAIS, REFERÊNCIAS E ANEXO - UDESC

Material Extraído dos Cadernos Pedagógicos da UDESC
CONTEÚDO E METODOLOGIAS DO ENSINO DE CIÊNCIAS

Elaboração
Isabel Cristina da Cunha
Janice Miot Silva
Marise Borba da Silva
Colaboração
Maria Juliani Nesi
Florianópolis, junho de 2003.


CONSIDERAÇÕES FINAIS I


Chegamos ao final do primeiro Caderno da disciplina Conteúdos e Metodologias do Ensino de Ciências. Por ora, precisamos considerar que tudo o que discutimos aqui é essencial para ajudar você a compreender a importância do ensino de Ciências na formação das crianças, desde suas representações iniciais sobre o mundo em que vivem.
O que buscamos trabalhar neste Caderno? Procuramos registrar, sobretudo, que é importante nunca esquecer que o ensino de Ciência deve iniciar-se nos primeiros anos de vida das crianças através de simples observações sobre fenômenos da natureza e sua relação com a vida, no dia-a-dia, e como desenvolvimento da própria sociedade, mediante a aprendizagem de noções básicas que começam com a observação desses fenômenos e a resolução de problemas práticos enfrentados no cotidiano. Queremos deixar claro que o professor precisa promover novas formas de pensar tais fenômenos, dinamizando condições para a construção de novos conceitos sobre a participação na vida prática e o acompanhamento das mudanças que nela vão acontecendo, principalmente com a introdução das novas tecnologias. Os conteúdos, por sua vez, devem ser bem articulados com a vida das crianças e precisam ser vistos, não como um mero agregado de informações, precisam fazer sentido para essas mesmas crianças em sua unidade. Eles têm um caráter histórico, e existe uma relação íntima entre essa história o caráter científico, à medida que foram se constituindo no tempo e à medida que são ensinados. Não se trata, portanto, de conceitos, idéias, noções etc., que sempre existiram na sua forma atual, noções assimiladas na família ou na comunidade ou mesmo em livros didáticos: os conteúdos não são estáticos e definitivos e vão sendo elaborados e reelaborados conforme as necessidades práticas de cada época histórica e conforme os interesses sociais que vigoram em cada organização social. Existe, ainda, o fato de que esses conteúdos devem ter sua importância pan atender a necessidades práticas da vida social, como os problemas sociais, o desenvolvimento da ciência e da tecnologia, as necessidades humanas básicas etc., de modo que a criança, ao estudá-los, tenha consciência disso. Essa será a preocupação do Caderno II desta disciplina, visando a apresentar alguns conteúdos que são fundamentais para a iniciação científica e a formação de conceitos-chave que podem ser construídos desde a Educação Infantil, para alicerçar outros conceitos mais complexos, como é próprio do conhecimento científico, o qual, como a própria palavra diz “ciência”, exige muita ciência, não apenas aceitando esse conhecimento como certo, mas o compreendendo e podendo nele intervir. Nesse aspecto, chamamos sua atenção “dizendo” algo que, com certeza, você já ouviu muitas vezes: não existe uma fórmula ou receita ideal para se ensinar Ciências.
Ao trabalharmos alguns aspectos históricos da Ciência, as características que a diferenciam do senso comum, as concepções que a nortearam através dos tempos e sua relação com a tecnologia, cada vez mais estreita, e com avanços em um ritmo cada vez mais acelerado, devemos ter sempre muito presente a nossa responsabilidade como educadores, no sentido de que, muitas vezes, teremos de fazer a opção por uma visão de Ciência mais adequada às necessidades de nossos alunos, para que possam apropriar-se do conhecimento científico-tecnológico e discutir sobre questões sociais, políticas, éticas relacionadas a esse conhecimento.
Convém lembrar que, na medida em que entra em contato com a disciplina e aprofunda o conhecimento do que é “Ciência”, o aluno aprimora a compreensão sobre a importância do meio ambiente em que vive, facilitando sua convivência na sociedade. Conhecendo melhor seu meio, ele se torna um sujeito capaz de perceber-se como ser integrante desse contexto e das intenções que nele ocorrem, podendo ser um agente de transformação.


CONSIDERAÇÕES FINAIS II


O estudo que ora se encerra almeja ter contribuído para dar início a uma reflexão mais constante sobre a importância de se ensinar Ciências, demonstrando que o conhecimento científico está decisivamente presente no cotidiano das pessoas, influenciando no seu nodo de viver e condicionando a formação de uma visão de mundo, O que se buscou, embora não se tenha esgotado o assunto, foi relacionar o ensino de Ciências à necessária preocupação com a formação dos Conceitos científicos e, também, reforçar a necessidade de que haja maior atenção ao ensino de noções básicas de Física, Química e Biologia, familiarizado as crianças, sem que as intimidemos com abstrações e formulações que elas são ainda incapazes de entender.
Por isso, é preciso reconhecer que a Ciência é parte da nossa vida cotidiana e que seu ensino é obrigatório desde a infância. E possível, assim, desmistificar falsas idéias de que a Ciência é só para cientistas ou para adultos privilegiados que possam apropriar-se de seus complexos conceitos. Ora, vimos que conceitos importantes da Química, tais como estrutura e composição da matéria, pureza, mistura e combinação, entre outros, podem ser trabalhados a partir de um contexto significativo para as crianças, sem que seja por um caminho por demais complexo. Assim é, também, com a Física e com a Biologia.
Vimos, no estudo dos dois Cadernos, I e II, que o conhecimento científico é um produto que se desenvolveu lenta e gradualmente pela acumulação de pesquisas, invenções e descobertas sucessivas feitas por grandes pensadores do passado e cientistas do presente. Vimos, também, que a mesma Ciência que pode tornar a vida de milhões de pessoas mais confortável, tem sustentado também cenários bastante dramáticos que puseram - e estão pondo, em certos casos - em risco a sobrevivência das espécies. Temos um deslumbrante mundo de ricas tecnologias, avanços na medicina, na indústria, na agricultura, na comunicação etc, sem falar no conforto e bem - estar que passamos a ter. Mas existem, também, na outra página, tristes casos de miséria, de fome, de poluição, de surtos de epidemias, de erosões, de tráfico e consumo de drogas, de guerras e muitos outros exemplos.
Todas essas questões têm conseqüências pedagógicas profundas, o que convém perguntar: “Como estão sendo formadas nossas crianças na Escola Fundamental? Como estão sendo preparadas para a sociedade informatizada desse final de século? Como estão sendo educadas pata ‘navegar’ no mar de informações produzido pela explosão de conhecimentos que presenciamos? Como estão sendo preparadas para avaliar e atuar na solução dos enormes problemas ambientais que as esperam?” Tais questões sequer sairão das pautas, caso o conhecimento científico ensinado na escola seja ainda mal digerido, pouco assimilado e rapidamente esquecido, sem que assegure um papel integrador e utilizado no dia-a-dia pelo cidadão comum.
Realizando atividades significativas com as crianças, discutindo com elas problemas do dia-a-dia, fazendo-as pensar sobre as coisas da natureza, do seu mundo, chegar a conclusões coerentes a partir de premissas, questionar preconceitos, dinamizar o equilíbrio entre novas idéias e o conhecimento anteriormente estabelecido já contribui para ultrapassarmos o ensino informativo, pois, muito mais que um simples arquivo de conhecimentos, a Ciência é também uma ação humana e, como tal, se insere na história. A integração das idéias científicas com as idéias que o aluno traz para a escola é fundamental para o avanço do conhecimento. Saber, não é apenas recitar nomes e mais nomes; é poder construir modelos, construir conceitos e combinar outros que pertencem a disciplinas diferentes, situando-se em um processo de formação Permanente que não se limita à escola. Também é preciso que o aluno tenha prazer e alegria em aprender, de tal forma que o ensino de Ciências abra espaço para o lúdico e contribua para a educação da sensibilidade e do afeto. Um ensino de Ciências que pretenda contribuir para a construção do conhecimento, interpretação e atuação no mundo contemporâneo não pode ignorar tais questões.
Para encerrar, queremos recomendar que você não se conforme com o conteúdo apresentado nos dois Cadernos estudados - I e II -, e vá mais além. Nem tampouco tome os conceitos aqui colocados como verdades absolutas. Estude, leia, pesquise, reflita e forme seu ponto de vista, aprofundando-se cada vez mais nos caminhos das ciências, pois muito se tem falado e criticado, mas pouco se realiza em termos de melhoria do ensino de Ciências na escola.


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VASCONCELOS, Mário. Criatividade, psicologia, educação e conhecimento d0 novo. São Paulo: Moderna, 2001.
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_________. Pensamento e Linguagem, in: Obras Escogidas, vol. II, Madrid: Visor, 1993.

ANEXO

Sugestão de conteúdos de Ciências que você pode discutir com seus colegas, sendo importante que comparem com propostas oficiais, tendo-as como referência, também, para a elaboração de um Programa de Ciência adequado à realidade escolar.

O Universo:
·         Teorias a respeito da origem do Universo
·         Corpos celestes que formam o Universo
·         Sistema Solar e Planeta Terra
·         Noção de espaço e de tempo
·         Forças físicas que interagem no Universo (gravidade, eletricidade, magnetismo, força nuclear etc)

A matéria que compõe o Universo:
·         Estrutura e composição da Matéria
·         Diferentes tipos de matérias
·         Diferentes estados da matéria
·         Mistura e combinação: a matéria em transformação

A vida:
·         Teorias a respeito da origem da Vida
·         A vida no planeta Terra
·         Caracterização de ser vivo
·         Diferentes ecossistemas
·         Relações harmônicas e desarmônicas na natureza
·         Conceito de saúde relacionado à qualidade de vida
·         Importância da ciência e da tecnologia no cotidiano