Psicóloga Nina Eiras Dias de Oliveira
http://www.existencialismo.org.br/jornalexistencial/sexualidade.htm
1 SEXUALIDADE
INFANTIL
A educação sexual acontece primordialmente no contexto da família onde a
criança está inserida. Muitos pais preferem nem tocar no assunto. Outros super
estimulam as crianças, achando engraçadinho ver crianças de 1, 2, 3 anos
beijarem na boca, ao som de frenéticas risadinhas, ou indagações do tipo:
"Quem é seu namorado?" As meninas vestem micro saias, ou micro
shorts, os meninos são empurrados a desejar modelos como Tiazinha, Carla Perez,
Feiticeira, etc. A geração anterior era muitas vezes punida e repreendida caso
mencionasse ou quisesse saber alguma coisa a respeito de sexualidade. A atual é
bombardeada pela estimulação precoce à erotização.
Há os
que acreditam que só estão lidando com a sexualidade a partir do momento em que
ela é falada, seja através de informações ou explicações a respeito. Mas onde
inicia então esta relação? Quando a mãe e o pai cuidam do bebê, brincam com
este, na maneira como se relacionam com ele, ao mesmo tempo em que o casal vive
uma relação afetiva, gratificante ou não, quando os limites de cada papel e
relação ficam bem definidos e marcados, quando a criança pode concluir que amar
é ou não possível, está recebendo educação sexual. Quando se pensa em educação
sexual na infância, automaticamente tem que se pensar, também, em
desenvolvimento emocional, isto é, tem que se levar em conta o nível de
maturidade e as necessidades emocionais da criança.
É importante que as questões da criança tenham espaço para serem
colocadas e respondidas com clareza, simplicidade, na medida em que esta
curiosidade vai se dando. Às vezes, alguns pais querem se livrar logo do
assunto e na ansiedade disparam a falar além da necessidade da criança, na
tentativa muitas vezes frustrada de que nunca mais vão precisar falar sobre o
assunto. Quando uma criança pergunta por exemplo, como o bebê foi parar na
barriga da mãe não quer dizer que ela queira ou aguente saber detalhes com
relação ao ato sexual dos pais. Responder a criança de maneira simples, clara e
objetiva satisfaz sua curiosidade. A satisfação dessas curiosidades contribui
para que o desejo de saber seja impulsionado ao longo da vida, enquanto que a
não satisfação ou o excesso de informações gera ansiedade e tensão.
A
sexualidade infantil é diferente da sexualidade adulta, não contém os mesmos
componentes e interesses. Muitas vezes através da dramatização, a criança
compreende, elabora, vivencia a realidade que vive. Compreende papéis (mãe,
pai, filho, homem, mulher, etc.), embora muitas vezes já se perceba menino ou
menina e já conheça seus órgãos genitais, experimenta na brincadeira sexos
indiferentemente.
Perdeu-se hoje, de uma forma geral, a noção do que é pertinente à
criança. Vejo com frequência adultos se dirigirem à criança como se estivessem
se dirigindo a adultos em
miniatura. Não sabem como se aproximar delas, sobre o que
falar e de que maneira.
Ao
ouvirem uma criança se referir a outra como sendo seu namorado entendem isto
dentro do parâmetro de adulto, às vezes desesperando-se, às vezes estimulando,
poucos lidam com este dado na dimensão do contexto e por quem ele é
apresentado.
Acompanho
no consultório crianças que, super estimuladas, encontram na erotização a única
forma de se relacionar. O afeto é erotizado e os movimentos, a vestimenta e a
maneira como se comportam, tem o sentido de provocar uma relação erotizante.
Apresentam, portanto, distorção em sua capacidade de sentir, pensar, integrar,
conhecer e de relacionar, pois são estimuladas a dar um salto para a
sexualidade genital, que não têm condições emocionais, biológicas e maturidade
de realizar, dispertando, muitas vezes, alto nível de ansiedade e depressão.
2 MÍDIA E SEXUALIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Sigmund Freud e Jean Piaget. Referências Balizadoras.
http://www.overmundo.com.br/overblog/midia-e-sexualidade-na-educacao-infantil-ii
Os estudos na área da sexualidade humana desenvolvidos por Sigmund Freud,
evidenciam a necessidade de compreensão das diversas fases da construção da
sexualidade infantil, sendo obrigação da escola estar informada destas
ocorrências e as professoras habilitadas para compreender as diversas
manifestações que irão ser exteriorizadas pelas crianças e não reprimi-las, ao
contrário, permitir e orientar evitando, claro, os excessos. Segundo ele a
partir do período do nascimento até à fase da puberdade, o sexo age de modo
latente como um norte das estruturas da personalidade que irão se consolidar na
fase adulta.
Ele chama estas fases de desenvolvimento psicossexual, e nos diz que a
libido situa do nascimento à puberdade três etapas gradativas, representativas
do grau de maturação sexual da criança e que marcam o início da vida sexual do
ser humano: fase oral, fase anal, fase fálica. Depois, vem a puberdade. Estas
etapas variam de início, fim e duração de indivíduo para indivíduo. O período
inicial é a primeira fase desse amadurecimento e está direcionado para o
próprio corpo. Ao nascer, o bebê perde a relação simbiótica que possuía com a
mãe iniciando sua adaptação ao meio. A libido está organizada em torno da zona
oral e o tipo de relação será a incorporação: a criança incorpora o leite e o
seio, e sente ter a mãe dentro de si.
Ainda na primeira fase, dos dois aos três anos, a libido passa da
organização oral para a anal. O controle muscular amadurece neste período em
que o controle dos esfíncteres torna-se mais evidente, juntamente com o sentido
de propriedade relativo a seus pertences. Consolida-se aí o andar e o falar.
A partir dos quatro anos a libido passa a se localizar nos órgãos
genitais. É natural nesta fase um grande interesse pelos órgãos genitais e a
masturbação freqüente. A criança fixa a sua atenção no genitor do sexo oposto,
num sentido evidentemente incestuoso. É a fase edipiana, quando forma-se na
criança uma espécie de busca de prazer junto ao sexo oposto. O menino fixa-se
na imagem da mãe, e a menina na do pai.
O encerramento deste ciclo coincide com o período de conclusão da
educação infantil, a partir de sete anos. Este é um período intermediário entre
a genitalidade infantil e a adulta e nele não há nova organização de zona
erógena.
Se até aí o desenvolvimento das sucessivas fases de amadurecimento
sexual for respeitado, a criança seguirá seu curso normal entrando numa fase
chamada período de latência, quando ela irá sublimar as atenções da área sexual
e estará mais apta a adquirir novos conhecimentos através do amadurecimento
intelectual esperado neste período, que irá até aproximadamente os doze anos,
início da puberdade. A partir daí a libido toma direção sexual definitiva.
Já Piaget classificou quatro estágios no desenvolvimento do raciocínio
humano, que iam do nascimento até o fim da puberdade e conseqüentemente ao
início da adolescência, que se sucediam de acordo com as fases do
desenvolvimento físico. Após observarmos a classificação de Piaget, poderemos
concluir que a sua classificação coincide com as observações de Freud, e
poderemos constatar que além do desenvolvimento do raciocínio e do físico,
correspondem também às citadas etapas, ao desenvolvimento psicossexual. No
nosso caso nos interessa principalmente a concordância entre o período de
latência de Freud e o terceiro estágio de Piaget. Vejamos. Ao primeiro estágio
Piaget chamou sensório-motor. Ele corresponde aos dois primeiros anos da vida e
caracteriza-se por uma forma de inteligência empírica, exploratória, não
verbal. A criança aprende pela experiência, examinando e experimentando com os
objetos ao seu alcance, somando conhecimentos.
No segundo estágio, que ele chamou pré-operacional, e que vai dos dois
anos aos sete anos, os objetos da percepção ganham a representação por
palavras, as quais o indivíduo, ainda criança, maneja experimentalmente em sua
mente assim como havia previamente experimentado com objetos concretos.
No terceiro estágio, dos sete aos doze anos, as primeiras operações
lógicas ocorrem e o indivíduo é capaz de classificar objetos conforme suas
semelhanças ou diferenças. No quarto estágio, dos doze anos até a idade adulta,
o indivíduo realiza normalmente as operações lógicas próprias do raciocínio.
Se cruzarmos as conclusões de ambos , verificaremos que a concordância
entre o período de latência de Freud e o terceiro estágio de Piaget reforça a
importância deste período no processo de desenvolvimento acentuado do
intelecto. À ausência da fase de latência substituída pelo interesse sexual
prematuro podemos chamar dentre outras expressões de queima de etapa. É função
da educação infantil contribuir para que o aluno chegue à esta fase sem a
erotização precoce, que, se presente irá desviar a atenção que deveria estar
voltada para o aspecto intelectual, para a área sexual, mudando então o foco de
interesse e prejudicando o aprendizado.
Não é demais relembrar que, quando Freud e Piaget se referem as
características de uma determinada faixa etária por exemplo, “dos sete aos doze
anos”, nós não devemos perder de vista uma certa flexibilidade no sentido deste
momento poder ser um pouco antes dos sete, ou um pouco depois dos doze a
depender do grau de maturação da criança, variando pois de indivíduo para
indivíduo e que é influenciado por diferentes variantes sócio-culturais.
2.1 A
FORÇA E O PODER DA MÍDIA
A televisão tem nos dado exemplos desta queima de etapas. O programa
infantil Disney Club muito assistido pelo público infantil na década de 90, por
exemplo, usava um jargão que dizia: “não somos crianças somos ultra-jovens” que
é repetido diariamente, e apresentado pela Turma do CRUJ – Comitê
Revolucionário Ultra Jovem. Ele traduz de forma clara o desejo de anulação da
infância e projeção precoce da criança no mundo adulto.
Neste contexto, a escola e a família têm uma influência direta e
simultânea na orientação a ser dada à criança. A responsabilidade ou ação de
uma não exclui nem concorre com a da outra. Antes, elas se complementam. Apesar
de não caber à escola o papel de impor regras ou valores sejam morais,
religiosos ou sexuais, ela eventualmente precisa se contrapor as normas
colocadas pela família. Deve-se, porém não perder de vista que, cada família
tem uma história consuetudinária, econômica e política intimamente ligada ao
tempo e espaço onde criaram suas raízes. Isto deve ser levado em conta quando a
escola propõe qualquer projeto de educação, especialmente os ligados à área da
religião e da sexualidade.
Apesar de se entender que a história familiar é fundamental para se
entender dentro da escola os padrões de comportamento dos alunos, ela não é
dinâmica e atualizada, por isso deve ser motivo de preocupação da escola as
recentes e marcantes mudanças pelas quais passam as famílias e a sociedade como
um todo. Elas têm sido causas de profundas mudanças nos papéis e valores muitas
vezes equivocados, questionáveis ou totalmente condenáveis. São situações
extremamente delicadas que exigem lidar com muito tato.
A família que ama, acolhe e protege é a mesma que reprova, castiga,
fantasia e critica usando desde as formas mais ostensivas como o castigo físico
e reprovações verbais públicas, até as mais sutis como a definição de papeis
sexuais, transitando livremente pelos tabus, preconceitos e omissão, colocando
a idéia do sexo como algo ruim, vergonhoso, sujo e passível de punição. “Pecado
original”.
No que pese reconhecermos ser responsabilidade da família e não é da televisão
nem do rádio, a seleção do conteúdo a ser visto e ouvido pela criança, não
podemos deixar de registrar a omissão da escola e a indiferença da mídia e do
governo em relação à questão, que possibilita a divulgação do imenso manancial
de mediocridade presenciado diuturnamente.
Um freqüente bombardeio de informações através de livros, revistas,
jornais, propagandas e os amigos, alheios e indiferentes à escola e à família,
exercem um poder muito grande de formação de opinião e são decisivos na
construção da erotização precoce e a gradativo encolhimento do período da
infância.
A mídia, com especial destaque à televisiva, trata indistintamente todas
as faixas etárias. Temas, conteúdos e comportamentos antes restritos aos
adultos, são expostos em horários freqüentados por crianças de todas as idades.
Cenas eróticas, crimes, guerras, intolerâncias raciais e religiosas, corrupção;
as crianças são literalmente expulsas da infância e projetadas na idade adulta.
Um dos mais influentes meios de repasse de valores é sem dúvida a música.
Ferramenta das mais importantes na educação infantil, através dela podem ser
repassados conhecimentos conceitos e valores, desenvolver-se aptidões e
estimular-se a afetividade, interagindo destarte nas três áreas de atuação da
educação formal: a afetiva a cognitiva e a psicomotora. Ela tanto pode ser
tradicional, quando se origina do folclore ou da cultura popular ou erudita
(pertencente ao universo escolar), como é o caso da obra do professor baiano
Antônio Luiz Ferreira Bahia, na área de Educação Física Escolar.
A música, como também outros instrumentos de educação, influi
diretamente no desenvolvimento da imaginação infantil, remetendo a criança a um
universo paralelo que serve de referência para a solução de seus conflitos
pessoais e interpessoais através da solidificação e porque não dizer também, da
construção de conceitos e normas de conduta para si própria e em relação ao
próximo. Por isso é necessário oferecer em casa e na escola um repertório
musical adequado sem espaços para a programação de baixo nível exibida nos
meios de comunicação, o que só será atingido através de um esforço social
coletivo tendo à frente a família e a escola que juntas podem viabilizar uma
ação sócio-política neste sentido.
Quando a família se coloca contra esta mediocridade dizendo às crianças
o que é ou não correto, e selecionando a programação que ela pode assistir,
ajuda a desenvolver o senso de autocrítica que possibilita a capacidade da
própria criança poder selecionar o que deve ou não ver e ouvir. Família e
escola devem ser pontos de referência dos valores éticos e morais para seus
alunos, que façam frente a este padrão permissivo dominante. Sem falso
moralismo.
Um processo educativo deve incluir a discussão desse padrão, fruto da
cultura de massa que induz ao consumismo e cria imagens de referência, como
modelos instituídos para um corpo de artista, ou adequados apenas à estatura
que não se tem, pertencentes a “grifes”, etiquetas e marcas da moda, relegando
a segundo plano os caracteres e atributos herdados de cada família e o
bem-estar pessoal (FAGUNDES, 2004).
A massificação imposta pela mídia, induzindo-nos a um padrão estético de
“gosto musical” homogêneo e a consumir a chamada Axé-Music, o Pagode, o Arrocha
dentre outros “ritmos da moda” e todas as implicações e variantes decorrentes
de tais estilos. Recordo-me de um artigo lido no vespertino soteropolitano A
Tarde, tratando da sexualidade, exaustivamente explorada pela mídia na nossa
sociedade, que atinge indistintamente todas as camadas sociais e faixas etárias
e falando sobre a cultura do “bumbum”, duramente criticada por Fernanda Abreu e
Gabriel o Pensador no seu CD que leva o nome da faixa Nádegas a Declarar (vale
a pena ouvir).
A exposição midiática massificada de símbolos sexuais direcionados ao
público infantil, privilegia a sedução como ferramenta fundamental para
alavancar as suas vendas, aspecto inerente e peculiar da sociedade de consumo.
Foi inevitável estabelecer uma relação entre estes aspectos e o comportamento
das nossas meninas usando a partir da educação infantil as roupas de Tiazinha
os tamanquinhos de Carla Perez, sandalinhas de Xuxa ou de Sandy de salto alto,
totalmente inadequadas para essa faixa etária.
A inadequação do uso de salto alto pelas crianças - se formos considerar
apenas os perigos de traumatismos ósteo-articulares - se dá pelo fato de
estarem com seu sistema músculo-esquelético em formação, com uma maior
predominância de tecido adiposo em relação às outras partes e precisarem, para
usá-las, ficar com os pés em posição forçada, apoiando-se na sua parte
anterior, (antepé), transferindo para frente o centro de gravidade e gerando
consequentemente uma má postura com todas as suas implicações.
Este tipo de calçado, favorecendo o desequilíbrio, pode ainda provocar
quedas e/ou entorses na articulação do tornozelo durante as suas correrias no
recreio, tão natural nesta idade. Sei que o apelo comercial é forte e elas
ficam umas “gracinhas”, mas cumpre-me o papel de alertar quanto ao perigo em
potencial do uso de tais peças.
Atualmente não existe mais moda infantil. A moda infantil é a mesma moda
adulta em miniatura, e a própria mãe é promotora desta queima de etapas,
fazendo muitas vezes uma projeção na sua filha do que ela queria usar, mas não
pode, porque o padrão estético em vigor não permite que ela exponha seus
culotes, celulites ou barriga avantajada. Da mesma forma o pai incentiva seu
filho a “consumir” os símbolos sexuais em evidência para compensar a sua baixa
auto confiança sexual e evidenciar o seu machismo. Agindo assim, a família vai
de encontro a uma assertiva de Piaget que assegura que uma criança não é um
adulto em miniatura e sim um ser próprio com suas características e
necessidades.
Sabemos que as crianças não são seres assexuados como se pensava
antigamente, mas, a iniciação sexual precoce, pode ser incentivada através de
hábitos aparentemente inocentes como as “danças” de pagode, os “funk” do tipo
tigrão, a deprimente e lamentável “egüinha pocotó” e mais recentemente o
lascivo “arrocha”, subproduto do bolero.
Estes ritmos praticamente só abordam temas eróticos da forma mais vulgar
possível, induzem ao consumo de roupas que “valorizam” o corpo, ao mesmo tempo
em que exploram comercialmente suas peças de vestuário, adornos e acessórios.
Os personagens que veiculam esta ideologia são protagonizados por
apresentadoras de programas infantis, e as sedutoras Carla Perez, (protótipo da
“gostosa”, com suas botas e roupas sumárias), Tiazinha (sadomasoquista com suas
armas, máscara e chicote) e a Feiticeira (misteriosa, com seu véu sensual),
Xuxa (eterna adolescente, felizmente em franca decadência) todas
convenientemente fabricadas pela mídia, trazendo em seus personagens ainda o
ingênuo ou malicioso perfil da sensualidade.
Elas protagonizam a exploração fetichista dos seus adornos, acessórios e
indumentárias, a exposição e o exibicionismo do corpo como carne em balcões
frigoríficos do supermercado estrategicamente associados à aura de pureza e
ingenuidade quase pueris que deixam transparecer, incentivando de forma ostensiva
a erotização precoce das nossas crianças.
Tais modelos estéticos representados nos anos 80 principalmente por Xuxa
e os Menudos e nos anos 90 pelas outras acima citadas, vêm queimar etapas
importantes do desenvolvimento infantil, acelerando a chegada da puberdade e
contribuindo para a banalização do sexo. Queimar etapas gera frustração, e faz
com que, quando adulto, o indivíduo fique tentando em vão recuperar o tempo
perdido.
A assimilação destas danças e ritmos se pode observar nas festas de aniversário,
incentivadas por “animadores” e comemoradas pelos pais. Aliás, o conceito de
festa infantil vem gradativamente se transformando, e é cada vez mais ocorrente
o tipo de festa “boite infantil”. Pode? Aliado a estes aspectos negativos de
cunho sexual, ainda tem o incentivo da violência explicita, consentida e
comemorada contra a mulher, protagonizada pelos “tapa na cara” e os “tapinha
não dói” dentre outras mediocridades.
Outro aspecto importante vem das expressões contidas nas “letras” das
“músicas” como: “vou pegar você na cama e fazer muita pressão”; “tudo que é
perfeito, a gente pega pelo braço, joga lá no meio, mete em cima mete em
baixo”, e outras, que por incrível que pareça, são bastante piores e não cabe
citá-las aqui. Merece destaque também os termos depreciativos usados pelos
“artistas” para designar e “elogiar” a mulher como: cachorras, poposudas,
potrancas...
Estas declarações de animalização, submissão, agressão e vulgarização da
condição feminina, ensinam aos meninos que eles devem vê-las, tratá-las e
usá-las como meros objetos de prazer (consumo), inferioridade e sadismo
(violência física), pois, tudo isto é legitimado e reforçado quando é bem
visível a imagem delas próprias cantando e coreografando estes refrões,
portanto, concordando implicitamente com tudo.
Os homossexuais também são tratados da mesma forma. Recentemente em
Salvador o grupo de “pagode” abaixo citado protagonizou esta letra de caráter
evidentemente homofóbico:
Bicha, bicha
Passe a mão na bicha
Bicha, bicha
Sambe com a bicha
Bicha, bicha
Esse cavalo é égua
Baixo astral, baixaria
(Grupo Saiddy Bamba, 2004)
Outra lembrança que tive é o fato das crianças virem maquiadas para a
escola, o que, apesar de ser ”engraçadinho” também conduz a vulgarização da
condição sexual hoje em dia levada a cabo pela moda, e estrelas do mundo
artístico. A aceitação passiva destes desvios pela escola, a transforma em mais
um espaço que legitima signos que vulgarizam a condição sexual.
Estes apelos eróticos trazem graves problemas a curto e médio prazo, às
vezes materializados por uma iniciação sexual precoce, que pela inexperiência
dos parceiros pode conduzir a uma DST, gravidez indesejada na adolescência,
AIDS, aborto ou outros tipos de problemas, ressuscitando a mulher objeto e
jogando na lata do lixo, valores construídos com muito sacrifício pelas
mulheres nas últimas décadas. Isto sem falar na decepção que pode ser gerada
por envolvimentos superficiais quando se “fica”, tipo de relacionamento
peculiar aos “artistas da moda”, onde é recíproca a falta de afeto e o
respeito.
3 O SIGNIFICADO DE SEXUALIDADE PARA
AS EDUCADORAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL
(http://www.pesquisa.uncnet.br/pdf/educacao/REPRESENTACOES_SEXUALIDADE_EDUCACAO_SEXUAL_EDUCADORAS_EDUCACAO_INFANTIL.pdf)
O significado de sexualidade tem um vinculo muito forte com a história
da humanidade. É construída no decorrer da história, por isso pode-se dizer que
ela é social e histórica. Além disso, é parte da formação da personalidade da
criança e dos adultos ( NUNES, 1987).
Para Freud, a busca do prazer é a maneira que temos para dar vazão ao
forte impulso sexual que chamamos de libido. Assim como ocorre com outros
fatores do desenvolvimento infantil (o falar, o andar, etc...), a criança irá
desenvolvendo paulatinamente a sua sexualidade.
Também como afirma Bock (1993, p.225):
[...] “a sexualidade aparece no ser humano desde muito cedo, e que suas
primeiras manifestações não têm caráter genital, mas trata-se mais da
organização do impulso libidinal”, [...].
Como uma das características deste trabalho era partir das idéias das
professoras sobre a sexualidade, iniciamos a entrevista com a questão: Qual é o
significado de sexualidade para você? As respostas obtidas seguiram as mesmas
linhas de pensamentos, pois as educadoras entendem a sexualidade como algo
normal. Para Ágata que atua na Educação Infantil há 15 anos, “a sexualidade faz parte da nossa vida, faz
parte da construção do ser e os órgãos genitais masculino e femininos, possuem
a mesma importância que os outros órgãos do corpo humano, e devem ser tratados
igualmente, pois cada um tem uma função”. Além disso, Ágata afirma que “a sexualidade nos mostra as sensações,
transformações do nosso corpo e também é através dela que podemos gerar outros
seres”. Deste modo concordando com a afirmação de Clarck (apud FURLAN,
1975 p. 67).
A vida sexual não começa somente na puberdade, mas se inicia com
manifestações evidentes, logo depois do nascimento; É necessário distinguir
nitidamente entre os conceitos de “sexual” e “genital”. O primeiro é o conceito
mais amplo e inclui a função de obter prazer de zonas corporais – uma função
que é conseqüente posta a serviço freqüentemente deixam de coincidir
completamente.
Diante das afirmações de Ágata, podemos destacar que ela atribui grande
importância à sexualidade das crianças. Defende que ela precisa ser tratada sem
espanto e indignação para que a criança não pense que questionamentos e
discussões sobre a sexualidade sejam anormais.
Cristal, com 17 anos de experiência na Educação Infantil, afirma que na
escola em que atua a educação sexual não é trabalhada como um conteúdo
específico, mas faz parte das atividades diárias. Afirma que sempre que houver
necessidade ou quando as crianças perguntam, “é preciso esclarecer com naturalidade, respondendo as perguntas conforme
as crianças perguntam ”. Além disso, Cristal afirma que os professores
devem ter clareza no assunto, distinguindo o que é natural do instinto humano e
o que não é sempre utilizando a nomenclatura correta dos órgãos genitais. A
sexualidade para ela é a busca pelo prazer. “A educação sexual ocorre desde que nasce”. Reportando-se a
afirmação de Nunes (1987 p.19).“Não há uma época a iniciar a” educação sexual”.
Desde que nascemos somos seres sexualizados e não podemos continuar numa
concepção de infantilismo, encarando as crianças como assexuadas e ignorando o
nível de tensão e interesse que lhe diz respeito”.
Esmeralda que há dois anos atua na Educação Infantil entende que é
preciso abordar a sexualidade com ética, já que faz parte do nosso dia-a-dia, sendo
que “é algo que devemos tratar
normalmente”. Afirma também que “a
sexualidade é algo importante para o ser humano, por isso trato-a e entendo-a
como natural”.
Nesse sentido compreende-se a sexualidade como algo natural da
humanidade. Envolve, além do nosso corpo, nossa história, nossos costumes,
nossas relações afetivas e a nossa cultura. É algo que vai muito além do sexo
ou uma simples parte biológica do corpo a qual permite a reprodução. Quando se
fala em sexualidade é preciso pensar na vida. Assim também relata Marx (apud
NUNES, 1997 p.9).
A relação do homem com a mulher é a relação mais natural ao homem com o
homem e nesta relação aparece, então, até que ponto sua essência natural. Nesta
relação vimos também, até que ponto as necessidades humanas se tornam
necessidades humanas, até que ponto, então, o outro homem, como homem se torna
uma necessidade para o homem e até que ponto o homem em sua essência mais
individual é, ao mesmo tempo comunidade.
Marx nos traz clareza a respeito do que as professoras afirmam, quando
dizem que a sexualidade é uma função dos seres humanos como tantas outras.
Uma veemente definição da sexualidade e sua construção social, seus
determinantes históricos e suas potencialidades éticas e políticas não poderiam
passar despercebidos pelas análises que empreendemos das respostas dadas pelas
entrevistas. Assim, a sexualidade é vista como um universo que precisa ser
entendido como um conjunto de atividades, posturas, opções modos de vida,
subjetividade resultante das relações sociais.
3.1 EDUCAÇÃO SEXUAL: FAMÍLIA, INSTITUIÇÃO ESCOLAR E SOCIEDADE
A educação sexual em muitos momentos ocorre de maneira fragmentada ou
equivocada, ficando para a instituição escolar toda a responsabilidade sobre o
assunto. Sendo um processo da vida inteira, é preciso que haja um entrosamento
entre família e Instituição Escolar, quando se trata de um assunto tão
pertinente e importante como é a educação sexual. As dúvidas das crianças
precisam ser esclarecidas de maneira clara e objetiva, pois o constrangimento
dos pais, segundo relato das educadoras entrevistadas, sobre o assunto aumenta
a falta de informação, faz com que a escola se torne o principal espaço de
educação sexual.
A partir disso, a segunda questão feita às educadoras foi: Como você
percebe a educação sexual na família, na instituição escolar e na sociedade?
Ágata (formada em pedagogia e pós-graduada em gestão escolar) relata que a
educação sexual ainda carrega muitos tabus. Enfatiza a importância de ter
clareza e domínio do assunto, para transmiti-lo às crianças, caso contrário,
poderão ser repassadas informações destorcidas e equivocadas. Para ela a
educação sexual na família deve começar o mais cedo possível. Ela percebe que
se encontram muitos tabus, nas famílias, “no
diálogo com os pais, há uma vergonha mútua: os filhos têm vergonha de perguntar
e os pais têm vergonha de falar”. Nesse enfoque escreve Furlan (2004,
p13),
[...] O culto ao corpo e a liberdade de
expressão da sexualidade são temas do cotidiano, das telenovelas e filmes,
todavia, com toda essa avalanche de informações, nem sempre sensatas, a
sexualidade, ainda é tratada como um assunto tabu dentro das famílias. Essa
pouca discussão entre pais e filhos sobre a sexualidade [...] gerada seja pela
ignorância ‘dos conhecimentos para fazê-lo, seja porque se sentem constrangidos
para tratar do assunto’.
Cristal, formada em pedagogia com administração escolar e pós-graduada
em educação infantil e séries iniciais, afirma que é preciso sair do
preconceito e do receio em abordar e explicar sobre a educação sexual, pois
muitos são os pais que recorrem à escola quando surgem os questionamentos dos
filhos e eles não sabem o que fazer ou dizer. “Não se deve mentir, nem omitir é preciso falar a verdade”. Para
a entrevistada, a família precisa ser à base de todas as informações que a
criança recebe, ela precisa se sentir segura para conversar sobre todas as
curiosidades, quando a família não corresponde, negando ou omitindo
informações, ela vai procurar estas respostas em outro lugar. Infelizmente sabemos
que muitas crianças não têm um bom convívio familiar, e acabam buscando apoio e
segurança em amigos, professores etc..., afirma ela.
Para Esmeralda, acadêmica do curso de pedagogia-séries iniciais, 5º
fase, “na família a educação sexual,
ainda é um tabu, algo que assusta, por isso os pais não compreendem algumas
atitudes vindas da escola, e em muitos momentos vão para a escola apavorados em
busca de ajuda para tirar dúvidas”.
De acordo com as professoras entrevistadas, os pais ainda têm muitos
tabus e sentem vergonha em falar no assunto, recorrendo à escola e muitas vezes
deixam esta tarefa somente para instituição de ensino. Sabe-se, porém que não é
fácil para pais que não foram educados com mais diálogo, possibilitar uma forma
mais aberta às questões da sexualidade às crianças. Mas o importante é tentar
melhorar a educação que possam oferecer a seus filhos, buscando mais
informações. Muito importante será a atitude que se deve ter ao responder às
perguntas: o tom de voz, o fato de estar ou não à vontade, tudo isso será
captado pela criança também como forma de informação. Apesar disso,
questiona-se: até aonde vai o interesse dos pais em esclarecer as dúvidas dos
filhos referentes à sexualidade? Será que os mesmos possuem clareza sobre o
assunto para conversar abertamente com as crianças? É oportunizada aos pais uma
metodologia para trabalhar educação sexual na família?
Ágata afirma, “A educação
sexual deve estar inserida no contexto escolar, havendo interação entre alunos
e professores, para que possam juntos falarem e debaterem a sexualidade”. Para
ela a escola poderia se constituir um importante meio de educação sexual. Já
Cristal afirma, “a escola precisa
falar a mesma linguagem que a família, sempre tentando responder todas as
questões com muita naturalidade”. Diz ainda que, “quando a escola percebe que a família tem
dificuldade para lidar com estas questões, é necessário que se faça um trabalho
para auxiliar os pais, de forma que estes consigam ultrapassar os tabus que
lhes foram impostos”. Esmeralda pontua que, “na escola deve-se trabalhar a educação sexual de forma lúdica, que é
natural, se trabalha no contexto que vem das crianças, sem exageros ou
apelações”.
Contudo, percebemos que Cristal destaca a importância de haver
comunicação entre escola e família, um entrosamento, como falamos
anteriormente, para que assim, possam um auxiliar ao outro, mutuamente e desta
forma a criança possa ser favorecida com informações claras e concretas daquilo
que deseja saber. Também verificamos através das entrevistas, que as
educadoras, afirmam que a educação sexual deve estar inserida no contexto
escolar, de forma natural e espontânea. Mas cabe refletirmos, será que
realmente é dada a devida importância ao assunto nas instituições de Educação
Infantil? Será que as educadoras estão preparadas e habilitadas para trabalhar
a educação sexual no espaço escolar?
Ágata afirma, quanto à sociedade: “deverá haver um programa específico do governo para a educação sexual.
A educação deve ser ampla o suficiente para abranger a família e a sociedade”. enquanto Cristal destaca que houve um avanço
muito grande neste contexto, da percepção da sociedade, quanto à educação
sexual, pontuando que: “muitas vezes
observamos, que ainda existem tabus e muitas pessoas os reforçam, até porque,
hoje falar de sexualidade, também é falar de questões como homossexualismo,
pedofilia, e outras questões que são complicadas, [...], por mais que se lute
pela quebra de tabus, ainda assim é complicado aceitar tudo isso”.
Desta forma, percebemos que Cristal enfatiza o fato de vivermos em uma
sociedade conservadora, preconceituosa, apesar de considerar que houve avanços
nestas discussões, muitos tabus ainda
existem.
Para Esmeralda, a sociedade vê a sexualidade como forma de venda,
consumismo e capitalismo, o que, para ela, influencia as crianças, pois, elas
têm livre acesso aos meios de comunicação.
Contudo percebe-se que, apesar da mídia atualmente influenciar tanto
nossas crianças e adultos também, somente uma das entrevistadas identificou
essa problemática. Assim sendo, é de grande importância em nossas discussões
sobre educação sexual, a abordagem das informações da televisão, pois este
aparelho dá grande destaque à sexualidade, porém de forma vulgarizada, através
de cenas de sexo, corpos nus, entre outras...
Deste modo compreende-se que a sociedade projeta a educação sexual como
sendo responsabilidade da escola, como frisa Gentile (2006, p.22),
[...]
O constrangimento dos pais em tratar do assunto aumenta a falta de informação
dos jovens e faz com que a escola se torne o principal espaço de educação
sexual, [...] Entende-se que os pais são os exemplos mais próximos e primeiros
para as crianças, mais tarde a escola se tornará o exemplo e após a sociedade,
os quais influenciam muito na formação do indivíduo, de maneira positiva ou
negativa. Porém acredita-se que a educação sexual é responsabilidade não só da
escola, mas, de todo o contexto social que a criança está inserida.
3.2
A
EDUCAÇÃO SEXUAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL
A televisão como vimos na parte anterior, vem mostrando explicitamente
cenas de homens e mulheres nus, sexo ou algo semelhante e estas imagens acabam
influenciando as crianças, assim afirma Gentile (p. 28, 2006). “Um ardente
beijo na boca. Um casal deitado na cama trocando carícias sobre o lençol.
Corpos nus rebolando, na televisão imagens como estas são comuns. E as crianças
pequenas são expostas a elas sem saber o que significa. O resultado é que elas
acabam querendo imitar esses comportamentos [...]”.
Desse modo questionou-se as professoras pesquisadas Como elas
desenvolvem a educação sexual com as crianças?
Ágata diz que, “cada criança
tem sua fase de descoberta, por isso sempre busco respeitar a fase de cada um.
Procuro resolver as situações ou dúvidas conforme elas forem acontecendo, sem
adiantar ou esconder nada”. Age sempre com naturalidade. Assim também
Cristal enfatiza a importância de respeitar as fases do desenvolvimento:
primeira é oral (seio, mamadeira), segunda é anal (coco), terceira é a fálica e
a quarta é a latência.
Como afirma Bock (1993, p. 225): “Ao prazer oral o primeiro momento
dessa maturação, sucede-se o prazer anal da retenção e expulsão das fezes e,
mais adiante, o prazer fálico que torna prazerosa a manipulação dos genitais,
(o pênis, no menino; e o clitóris na menina)”.
Cristal afirma “em minha
escola não temos uma disciplina específica para este tema. Eu particularmente
trabalho com estas questões, de acordo com a curiosidade das crianças, sempre
que surgem as dúvidas elas são respondidas e
esclarecidas”.[...]
Contudo, verificamos que Cristal e Ágata reforçam neste momento a
importância de se respeitar às fases de desenvolvimento das crianças, para que
se possa, ajudá-las de acordo com suas dúvidas.
Esmeralda, se expressa seguramente, afirmando que: “trabalho de forma lúdica”. Ela busca
o jogo e a brincadeira para trabalhar a sexualidade das crianças. Afirma também
que: “a partir do interesse deles,
quando se trabalha o corpo sempre há curiosidades, trabalho naturalmente”.
Nesse contexto, entende-se que na Educação Infantil, que é parte fundamental na
vida da criança, é um bom período para trabalhar a Educação Sexual, pois a
criança está desvendando sua sexualidade, descobrindo o seu corpo, seu prazer e
formando suas opiniões e conceitos referentes ao assunto. Por isso é fundamental
que os pais e educadores, respondam as dúvidas das crianças claramente, sem
fazer rodeios, inventar nomes fictícios ou pejorativos para os órgãos sexuais
quando abordarem o assunto. Também é necessário não se estender muito, pois as
mesmas buscam somente sanar suas dúvidas daquele momento. Reportando-se as
palavras de Furlan (2004, p. 8),
[...] Faz-se necessário considerar que a
educação não se reduz à escolarização ou a instrução, uma vez que é entendida
como um processo educativo que se encontra conectado com todos os componentes
explícitos ou implícitos, formais ou não formais intencionais que ocorrem nas
relações sociais [...]. Em face disso, considera-se a relevância que a educação
sexual precisa ter em todos os aspectos sociais, uma vez que esta se situa num
momento social e histórico. No entanto há de se enfatizar a influência dos
meios de comunicação sobre essa educação os quais expõem de modo vulgar o
corpo, o ato sexual e a sexualidade como um todo, buscando obter audiência,
ibope e lucro, assim causando um conflito notável entre escola, família e
sociedade.
Finalizando, a educação sexual exige que os educadores, em especial,
estejam embasados teoricamente e sejam detentores e conhecedores de toda a
concepção filosófica e histórica que norteia o processo dessa educação, bem
como que a escola contemple através do Projeto Político Pedagógico a
concretização da mesma. Todavia, resta-nos a dúvida, será que o discurso das
educadoras condiz com sua prática?
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Partindo de inúmeras leituras e visões, compreendemos que a Educação
Infantil é a etapa fundamental para o desenvolvimento do ser humano, que visa
cuidar e educar, crianças de 0 a
6 anos de idade, pois é nesta idade que a criança aprende a balbuciar, a
engatinhar, falar, caminhar, conhecer e reconhecer as pessoas, percebendo-se
como ser, enfim conhece o mundo no qual está inserida. Ao considerarmos que a
educação infantil envolve simultaneamente o cuidar e o educar, percebemos que
esta forma de concebê-la teve conseqüências na organização das creches e pré 10
escolas, dando a estas características na sua identidade como instituições que
se diferenciam da família.
Um aspecto a ser considerado, é que as creches e pré-escolas surgiram a
partir das mudanças econômicas, políticas e sociais que ocorreram na sociedade,
principalmente pela inserção das mulheres no mercado de trabalho assalariado,
além da organização das famílias, tendo assim um novo papel de mulher. Mulher
trabalhadora, mãe e dona de casa, ou seja, mulher com dupla jornada, que
disputa seu lugar no mercado de trabalho com os homens.
Há muito vem se buscando, através de pesquisas, mostrar que a criança é
sujeito de direitos e, portanto, deve ser respeitada dentro do contexto em que
vive. Contudo, somente a partir da necessidade da inclusão das mães no mercado
de trabalho, é que, deu-se importância ao cuidado das crianças. Em conseqüência
disso, as instituições de educação Infantil buscaram, com o passar do tempo e
com a criação da nova Lei de Diretrizes e Bases (1996), um caráter educacional,
mais aprimorado, não ficando somente no assistencialismo. Sob um novo olhar
para a educação infantil e pela necessidade de atender a demanda surgem as
instituições privadas.
Através da pesquisa realizada, constatamos que existem vários aspectos
a serem avaliados na Educação Infantil como: a quantidade de crianças
atendidas, a formação dos professores, a visão das educadoras a respeito da
educação sexual, entre outros. Sendo assim, selecionamos duas instituições nas
quais foi realizada a pesquisa. Em síntese compreende-se que o significado de
sexualidade está claro para as educadoras entrevistadas, pois ambas percebem
esta como algo natural, tendo uma visão aberta, sem resquícios de
conservadorismo, trabalhando de forma lúdica e prazerosa, envolvendo os pais e
a sociedade. Buscam responder os questionamentos referentes à educação sexual
de maneira clara e objetiva, assim satisfazendo os interesses das crianças.
Neste sentido, cabe aos professores ultrapassar o papel de mero transmissor de
informação formal. Não dá para se limitar, é preciso transmitir o assunto sobre
a sexualidade de maneira clara, sem rodeios, pois o mundo das tecnologias que
nos cerca avança cada vez mais.
As considerações anteriormente apontadas são inquietantes. Sem sombra
de dúvida, as entrevistadas, sendo
educadoras demonstram estarem ávidas por conhecimentos e estratégias de
educação sexual. É preciso cautela, pois é necessário refletir muito a respeito
do papel do educador sexual e de como assegurar que este não incorra em
doutrinações ou receituários. É mais prudente que o educador domine,
suficientemente, conteúdos teóricos como possibilidade de uma compreensão
satisfatória a respeito da complexa tarefa de educar a sexualidade das crianças
da Educação Infantil. Esses são compromissos que todo educador sério e
comprometido com a temática educação sexual pode e deve buscar. Ou seja, a
educação sexual deve começar dentro de cada educador.