Material
Extraído dos Cadernos Pedagógicos da UDESC
CONTEÚDO E METODOLOGIAS DO ENSINO DE CIÊNCIAS
Elaboração
Isabel Cristina da Cunha
Isabel Cristina da Cunha
Janice
Miot Silva
Marise
Borba da Silva
Colaboração
Maria Juliani Nesi
Maria Juliani Nesi
Florianópolis,
junho de 2003.
OBJETIVO
GERAL DA DISCIPLINA
Aprofundar
noções de Ciências Naturais que possibilitem desenvolver, junto às crianças da
Educação Infantil e das Séries Iniciais, a base para a formação de conceitos
fundamentais dessa área, promovendo o interesse pela observação da natureza e
de seus fenômenos, com iniciativas voltadas à busca do conhecimento e à
responsabilidade pela preservação, pela manutenção e pela transformação da vida
em todas as suas formas.
A CIÊNCIA NUMA ABORDAGEM
HISTÓRICO-CULTURAL E SUA IMPORTÂNCIA NO ENSINO
Objetivo Geral:
reconhecer a ciência como um saber produzido pelos homens mediante condições
histórico-culturais determinadas que caracterizam a construção do conhecimento
e a necessidade de formação científica.
A
CIÊNCIA: HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO COMO ATIVIDADE HUMANA
Objetivos específicos: caracterizar a Ciência como resultado da atividade humana, relacionando sua história e seu desenvolvimento à história do homem e do próprio conhecimento, - situar o ensino de Ciências no contexto dessa história e no lugar que lhe compete na formação cientifica.
O cientista não é um ser que vive a procura da glória ou do sucesso e a
evitar o fracasso. Sob esse aspecto, vejo o cientista como um ser que abre ou
fecha portas. Se nada de minhas teorias se justificar, gostaria de passar para
a história da ciência como alguém que fechou a porta de um labirinto imenso e
que não dava em lugar nenhum. Psicologicamente falando, isso me basta. O que
não posso é ignorar a existência desse labirinto, apenas para agradar os
físicos ‘modernos’, que pretendem que eu o coloque debaixo do tapete” (Alberto
Mesquita Filho, em Ciencialist, 31/05/2001).
Podemos dizer que Ciência significa “saber”,
conhecimento, uma representação metódica que o homem organiza para entender o
universo, seja para solucionar problemas de ordem prática, seja por exigências
racionais, lógicas, enfim, por uma necessidade construída historicamente de
desenvolver um sistema lógico de compreensão do mundo. A Ciência é, sobretudo,
um processo, uma elaboração de conhecimentos e, como tal, está sujeita a
qualquer espécie de influências das outras áreas da atividade humana. Por essa
razão, em todas as etapas da História da humanidade, os avanços realizados na
Ciência intervieram nos mais diversos campos da atividade humana, sempre
trazendo consigo mudanças nas condições socioculturais dos povos.
Cientes de que a
Ciência é uma atividade humana, um conhecimento historicamente construído e
socializado através dos tempos, façamos uma incursão breve, mas muito
importante, na história dessa área do conhecimento humano. Muitas coisas você
já sabe a respeito de Ciências, uma vez que estudou Ciências na escola, leu
livros que, de alguma forma, tratavam de questões científicas, assistiu a
filmes sobre temas da área ou assistiu a programas de TV voltados pan questões
científicas.
PAR SABER MAIS...
• assista a
alguns filmes que podem enriquecer seu conhecimento sobre esse assunto e,
depois, reflita com seus colegas sobre o conteúdo de tais filmes Além do filme
“O nome da rosa”, que você já deve conhecer, sugerimos “A profecia de
Nostradamus”, “Giordano Bruno” e “Em nome de Deus”.
Consideremos, agora, as primeiras experiências dos seres humanos na relação com o ambiente, desde os primórdios da humanidade, quando tudo era mais difícil. Naquele período, os seres humanos precisaram interpretar, atribuir significado às inúmeras relações que mantinham constantemente com o ambiente, desde quando precisaram caçar e proteger seu território para sua sobrevivência, até o momento em que se tornaram capazes de produzir cultura, de refletir sobre si mesmos e sobre seus próprios atos, produzindo formas de conhecimento que extrapolavam solicitações imediatas que constituíam mera garantia de sobrevivência biológica da espécie.
Inicialmente, o
conhecimento levava em conta o contexto de relações imediatas que o homem
mantinha com um Universo pouco conhecido e cheio de desafios e “mistérios”,
buscando, em seres superiores ou em elementos da natureza, a explicação para
fenômenos do cotidiano, os quais serviam de aporte para justificar normas que
deviam ser obedecidas na vida em comum. Esse era o conhecimento mitológico.
Assim, por exemplo, era natural relacionar a figura de um ‘deus’ sustentando a
Terra e a boa colheita.
Durante o seu
desenvolvimento cultural, o homem foi se dando conta de que poderia fazer e
explicar as coisas por si mesmo, não mais apelando a mitos ou a deuses; essa
‘ciência’ construiu-se a medida em que o ser humano foi transformando seu mundo
e foi sendo por ele transformado. Com o tempo, portanto, o pensamento mítico,
com seu apelo ao sobrenatural e aos mistérios, perdeu seu poder explicativo e
foi deixando de satisfazer as necessidades dos homens, que se tornaram mais
preocupados com a realidade concreta do mundo do que com a realidade “inspirada”
em concepções mágicas das coisas. A história dos povos gregos registra, então,
o momento da história do homem em que este se concebe como um ser com “poderes”
e se reconhece como animal racional; é o momento em que a razão passou a
“comandar” sua relação com os outros homens e com a natureza. É claro que essa
transformação levou milhares de anos para se processar!
Você já deve
imaginar a importância dessa conquista para a espécie humana! Nem é preciso que
o reafirmemos aqui. Com o uso da razão, o homem passou a observar que o mundo
poderia ser conhecido por existir nele uma certa regularidade capaz de ser
explicada em termos de “causa e efeito” e que, portanto, certos acontecimentos
e fenômenos poderiam ser previstos. Nesse contexto, o pensamento científico
encontrou as condições favoráveis para o seu nascimento.
O fato de
observar o curso regular do ciclo da vida no movimento dos astros, nos
fenômenos atmosféricos, no desenvolvimento das plantas e dos animais, por
exemplo, fez com que o homem sistematizasse suas primeiras “teorias” a respeito
do mundo. Essas teorias não se aproximavam, ainda, das que temos hoje, mas já
eram importantes na medida em que excluíam a necessidade de mitos ou deuses
para conduzir as atividades humanas. Veja que grande mudança isso trouxe! A
Terra deixou de ser vista como sustentada por um deus e tornou-se regulada por
uma “mecânica” ditada pela própria natureza...
E o trem da
história segue...
“A ciência da Natureza pressupõem
sempre o homem, e não devemos esquecer que, no espetáculo da vida, nunca somos
apenas espectadores, mas, também, constantemente atores Niels Bohr (1885-1962).
A Ciência antiga
distinguiu-se por buscar a causa dos fenômenos. Conseqüentemente, com o passar
dos séculos, a visão do homem foi se transformando: ele passou a questionar as
possibilidades que um método, baseado na experimentação, poderia oferecer.
Houve, assim, um novo enfoque dado à observação da experiência quase que
desconhecido na antigüidade devido à insuficiência de recursos experimentais.
Com o início da
Idade Moderna (século XV e XVI), aconteceu a grande ruptura com a com a tradição clássica do conhecimento
contemplativo grego - surgiu a Ciência moderna (século XVII), como fruto de um
processo de desenvolvimento ocasionado por mudanças revolucionárias na Física e
na Astronomia, graças a estudos de eminentes pensadores como Copérnico,
Joannnes Kepler, Galileu Galilei, Francis Bacon e Newton. Mas foi Galileu, o
grande pensador, que uniu dois campos do saber que antes se encontravam totalmente
separados: a metodologia de trabalho dos técnicos-artesãos (a experimentação) e
o raciocínio lógico e abstrato, próprio da Filosofia e da Matemática. Dessa
junção, nasceu a Ciência moderna, na qual Galileu distinguiu três momentos
principais: a) a observação; b) a hipótese e c) a experimentação (verificação
da hipótese). A nova Ciência proclamou o saber científico e pôs fim aos mitos
que permearam todas as culturas anteriores; declinou, também, o vigor
especulativo do pensamento grego, revelando a importância da experiência e da
razão para compreender a natureza e colocá-la “a serviço do homem Coube a
Bacon, contemporâneo de Galileu, lançar as bases da filosofia científica,
defendendo vigorosamente o método empírico da Ciência e atacando frontalmente
as escolas tradicionais de pensamento. Bacon contribuiu, assim, com a natureza
e o programa de uma Ciência da natureza autenticamente natural, independente da
autoridade da especulação do passado, mudando profundamente a idéia de Ciência
que se torna a atividade de produção do conhecimento a ser usado para dominar e
controlar a natureza. Bacon propôs o Empirismo como um método de domínio da
natureza para o melhoramento da condição humana, considerando que o real e
legítimo objetivo da Ciência era dotar a vida humana de novas invenções e
riquezas. Este pensador trouxe muitos avanços; sua teoria, porém, apresentou
limites. De modo geral, ele se destacou efetivamente por criticar as velhas
idéias e não por antever o novo.
Como é possível
constatar, na vida moderna, o conhecimento científico tornou-se o sistema
dominante de concepção do mundo, sistema em que a natureza é comparada a uma
máquina que funciona através de mecanismos bem determinados, objetivos, que
podem ser descritos, previstos e controlados como o mecanismo de relógio. Nesse
sistema, a experimentação passou a ser a fonte de conhecimento determinante.
Tudo isso criou as premissas para o advento de uma forte sociedade industrial,
que nasceu impulsionada pelo grande movimento em favor da racionalidade humana.
Veja bem! O
nascimento da Ciência moderna e a Revolução Industrial estão intimamente
relacionados; ambos desempenharam o importante papel de marcar o advento do
Capitalismo. A crença no ‘poder’ da Ciência para o progresso e o enriquecimento
fez com que grandes mercadores e empresários se interessassem em financiar
pesquisas científicas, ao mesmo tempo em que o desenvolvimento do Capitalismo
facilitou a experimentação, as inovações e a exploração da natureza,
demonstrando que as invenções e descobertas nem sempre são guiadas única e
exclusivamente pela curiosidade teórica do cientista, o que torna utópico o
ideal de neutralidade e objetividade da ciência.
A concepção da
Ciência como meio de exploração e controle da natureza, com o objetivo de obter
lucros cada vez maiores, chegou ao seu ápice com a Revolução Industrial no
século XIX. O prodigioso desenvolvimento das Ciências Naturais, por sua vez,
especialmente nos séculos XIX e XX, estreitou o entrelaçamento entre as
indústrias e os Estados capitalistas, por um lado, e a investigação e o ensino
universitário da Ciência, por outro, O mundo, até então dominado pela força
física do homem, viu-se diante de invenções e descobertas das Ciências, às
voltas com barulho, calor e poluição da máquina a vapor; o uso da máquina
passou a dispensar o trabalho de inúmeros homens, ficando uma grande maioria
desses mesmos homens à margem do processo produtivo. Na sua evolução, a
sociedade acompanhou a própria mudança de seu sistema econômico, seu sistema de
valores enfim, sua visão de mundo.
Não é de se
surpreender, portanto, que, no início do século XX, especialmente, após a
experiência da Ciência e da técnica vivenciadas na Primeira e na Segunda
Guerras Mundiais, tenham surgido profundas reflexões sobre as crises geradas
pela aplicação da Ciência construída até então.
A concepção de
mundo começou a ser repensada, sendo empreendida uma crítica sistemática à
Ciência moderna, com seus modelos e com suas teorias baseadas numa idéia
mecanicista de natureza, em que o “aumento da produtividade” destacava-se e em
que as práticas derivadas desse processo engendravam a sociedade e o mundo
capitalistas. Esse contexto inaugurou uma nova visão de Ciência e de natureza,
encorajada, principalmente, pelas Ciências Sociais, fazendo surgir a
necessidade de refletir acerca das conseqüências da Ciência moderna. Não se
tratava, simplesmente, de negar os conhecimentos científicos existentes ou de
criticar a “antiga ordem”, mas, com base nesse novo contexto, não era mais
possível que o fazer científico seguisse desenvolvendo-se sem fins claros e
mais elevados, como uma simples forma de lucrar ou ter em vista uma função ora
construtiva, ora destrutiva e com riscos pela frente.
Ainda que esse
impasse permaneça atualmente, a Ciência segue em frente. Com tantas coisas
acontecendo, em função da complexificação da sociedade moderna, em que os
avanços científicos e tecnológicos são cada vez mais velozes, os desafios a
serem enfrentados requerem cidadãos cada vez mais conscientes das implicações
da Ciência e da tecnologia sobre suas vidas. Para isso, é preciso que estejamos
atentos às conseqüências das intervenções dos seres humanos no mundo. Ao mesmo
tempo em que, historicamente, a Ciência descobre, inventa e, com isso, cria
novos mundos, também, novos homens são criados nesses e por esses mundos, e são
outras as relações exigidas da Ciência para com a natureza e pala com a
sociedade.Podemos “dizer” que a Ciência avança constantemente. Isso não
significa que esse avanço seja linear, sem desvios, recuos ou equívocos. Os
grandes progressos na Ciência registram, também, em função dos limites de suas
próprias teorias e das suas aplicações inadequadas, que o progresso científico
não é contínuo, linear, totalmente controlável e sempre bem sucedido. Historicamente,
porém, a Ciência tem buscado teorias cada vez mais avançadas e coerentes e
aplicações mais adequadas e refletidas, com o objetivo de melhorar a vida do
homem no planeta.
Levar em conta o
caráter histórico e dinâmico da Ciência faculta-nos reflexões sobre o próprio
processo de desenvolvimento tecnológico que aconteceu, simultaneamente, ao
desenvolvimento científico. Ciência e tecnologia no pararam mais de evoIuir em
um mundo em constante mutação, revelando, de forma surpreendente, a capacidade
da intervenção humana sobre a natureza, progressivamente transformada em uma
segunda natureza, socialmente determinada, e revelando, também, o caráter
mediador cada vez maior da tecnologia nos avanços sociais.
Embora, em outros
campos, até o século XIX, grande parte dos avanços tecnológicos houvesse sido
conseqüência de descobrimentos empíricos levados a cabo por homens
eminentemente práticos, o desenvolvimento tecnológico derivou efetivamente de
pesquisas científicas, O percurso longo, século após século, de intensa
atividade de produção científica conferiu o valor histórico às contribuições da
ciência para a humanidade.
Na próxima seção,
pretendemos enfatizar, de forma breve e particular, a inserção social e
cultural das Ciências na modernidade, para que tenhamos a consciência de que a
Ciência e a tecnologia baseiam-se também em valores do cotidiano - mediante os
quais elas têm razão de ser — o que põe em questão a existência do próprio
homem e o seu conhecimento de mundo. Assim, precisamos estar em constante sintonia
com as transformações que acontecem em nossa volta. Essa associação com o
cotidiano mostra, na realidade, que Ciência, tecnologia e sociedade não podem
ser vistas como instâncias desarticuladas, pois estão cada vez mais imbricadas
uma na outra, como unha e dedo. Tal contextualização, que parece distante das
escolas, pode mostrar aos alunos o grau de importância que a ciência e a
tecnologia assumem no desenvolvimento do conhecimento e no bem-estar das
pessoas, além de apontar que reflexões precisam ser feitas sobre essa relação
para que as atitudes humanas tornem-se cada vez mais adequadas a um viver
melhor no planeta, com qualidade, segurança e dignidade.
Você percebeu a
importância da discussão que fizemos sobre o caráter histórico da Ciência? Pois
bem! Esse desenvolvimento também repercute no ensino das Ciências Naturais,
ficando evidente que o caráter histórico dos conteúdos dessa área tem estreita
ligação com o caráter do próprio desenvolvimento do pensamento científico. E
importante que nossos alunos entendam a Ciência como um fazer humano e,
portanto, histórico, resultado da conjunção de fatores sociais, políticos,
econômicos, culturais, religiosos e tecnológicos. Esses fatores estão
relacionados com a formação de cidadãos responsáveis e capazes de criticar
construtivamente, entendendo-se como parte integrante da sociedade e tendo a
consciência de que dependem do ambiente em que vivem e de que são agentes
transformadores desse ambiente. A introdução da dimensão histórica, portanto,
pode tornar o contendo estudado cm Ciências muito mais interessante, mais claro
e compreensível, desde que o traga para perto do universo cognitivo do aluno,
pois, antes de aprender cientificamente, este constrói historicamente o que
aprender. Compreender ou buscar compreender o passado ajuda, também, a entender
a Ciência como uma parte da cultura e da realidade que se relaciona com as
demais atividades humanas em nível de igualdade.
A forma como
ainda são ensinados os conteúdos científicos, porém, dá ao aluno a impressão de
que a Ciência não tem história, não é produto do trabalho humano, não sofre
avanços nem recuos; enfim, não é um processo contínuo de entendimento da
realidade, dependente de todos os outros campos de atividade do homem. De modo
geral, ensinamos Ciências como um amontoado de informações soltas, como se os
fenômenos da natureza fossem desconectados uns dos outros, totalmente objetivos
e neutros em relação às concepções presentes nas atividades humanas de qualquer
natureza. Assim, existem, ainda, problemas, que dificultam aos alunos o
reconhecimento da Ciência como uma atividade humana, em constante construção e
reconstrução. Nesse sentido, inserindo-se no processo histórico de busca pelo
saber, os alunos reconhecem esse saber como objeto de construção e não como
conhecimento dado como pronto, ou mesmo passível de transmissão.
É importante
fazer aqui, então, os questionamentos: Como é possível ensinar Ciências
rompendo com a visão fragmentada dos fenômenos naturais, de forma que possamos
estabelecer a relação de interdependência entre todos os elementos da natureza?
Como pode o professor intermediar o processo de aprendizagem da criança para
que ela possa sentir-se como um ser representante e integrante da natureza e
ciente das transformações que nela ocorrem?
ATIVIDADE 1 - ORAL
Reflita com seus
colegas sobre essas questões e liste algumas estratégias que você pode utilizar
para que seus alunos rompam com essa visão fragmentada a respeito dos fenômenos
naturais. Se você tiver dificuldades em trabalhar de uma forma diferente da que
criticamos, fazemos aqui uma importante discussão para potencializar uma nova
prática. Mas, desde já, é importante você saber que, com a concepção
reducionista do mundo, que vamos aprofundar mais adiante neste Caderno, tudo
foi dividido para ser estudado e analisado, em todos os campos do conhecimento.
Com a fragmentação do saber, dando origem às ciências particulares, cada
Ciência passou a se ocupar de um objeto específico, a exemplo das ciências
física, biológica e humana. Assim, as ciências se especializaram e dedicaram-se
a observar recortes do real, sem considerar o seu objeto do ponto de vista da
totalidade. Logo, um problema em Ciências Naturais, como por exemplo, o
desmatamento, passou a ser tratado e examinado de modo parcial, sem estar
relacionado com os outros problemas do contexto em que está inserido.
Sem dúvida,
ensinar Ciências de forma que rompa com a fragmentação é uma tarefa
desafiadora. O importante é que tenhamos bem claro que isso não quer dizer que
agora vamos ter de ensinar todos os conteúdos de uma vez ou todas as
disciplinas unidas. Precisamos, sim, fazer um grande e constante esforço para
trabalharmos os temas dos Planos de Ensino, de modo a fazermos todas as
ligações possíveis com outras disciplinas ou com outros assuntos, pois nenhuma
disciplina é dona absoluta de um assunto.
O tema saúde, por
exemplo, pode ser abordado por todas as disciplinas. Pode-se trabalhar a saúde
de uma forma geral ou específica de um indivíduo, de uma população, de uma
comunidade etc. Podemos, por exemplo, nos referir à poluição sonora em relação
à população humana, aos animais domésticos e aos animais conhecidos como
selvagens. Sobre essa questão temática, teríamos assunto para abordar em todas
as áreas, em todas as disciplinas, profissões etc. Podemos abordar a questão da
saúde mental, como, por exemplo, irritação, estresse e depressão, como também
podemos abordar a questão da saúde física, apontando, por exemplo, diferentes
causas de surdez, seja ela de origem genética ou não. Nesse caso, é importante
discutir o modo como a sociedade, hoje ou em outras épocas, tem encarado essa
problemática. Com relação a essa questão, podemos levantar os seguintes
questionamentos: qual é a realidade em que se encontra a surdez dos músicos ou
dos operários? Como os animais reagem ao ruído? Por que os cães não gostam de
foguetes? Quais são os animais mais sensíveis aos ruídos? Todas as pessoas
ouvem os ruídos? Qual é a anatomia do sistema auditivo? Quais são os
profissionais que trabalham com o ouvido e quais são os que trabalham com o
som? O que é som? Quais são os sons da natureza? Ouvimos os sons da natureza?
Que sons você considera agradáveis? E quais você considera desagradáveis?
Trabalhar dessa
forma contribui sensivelmente para melhorar, de forma efetiva, a educação
científica em sala de aula, aproximando o aluno da natureza e das questões do
seu cotidiano, relacionando os conteúdos necessários à aprendizagem de Ciências
às questões relacionadas à vida, de modo que o aluno, na atualidade e no futuro,
possa exercer sua cidadania na plenitude e seja capaz de decidir seu destino
com autonomia. No trabalho educacional, realizado pelo professor junto com os
alunos, o importante é colocá-los em contato direto com a natureza, observando,
manipulando, controlando, registrando, conhecendo e entendendo os processos de
funcionamento e ação da natureza e sendo capazes de compreender os resultados
dessas manifestações nas suas vidas. O cotidiano do aluno é cercado por
ciências e tecnologias por todos os lados; para onde ele olhe, naquilo que usa
ou quando faz alguma coisa, em geral, existem ciências e tecnologias envolvidas
e das quais dependemos. Sendo assim, para realizar experiências a partir de
determinadas observações dos fenômenos naturais e até mesmo tecnológicos, em
sala-de-aula, você não precisa utilizar toda a ‘parafernália’ típica de um
laboratório: basta olhar em volta e envolver os alunos nesse olhar!
O importante não
é fazer os alunos encontrarem respostas corretas ou fazerem formulações exatas
sobre o que está sendo abordado, mas dar-lhes a oportunidade de falar, de expor
seus pontos de vista e trocar idéias com coleguinhas, envolvidos em atividades
através das quais podem desenvolver seu próprio conhecimento dos fenômenos
naturais. Em síntese, você não precisa fazer muitas coisas, mas pode fazer
pouca coisa bem feita. Em outras palavras, o seu ensino deve visar ao
desenvolvimento de conhecimentos, atitudes e habilidades científicas do aluno,
desenvolvimento este que considere a importância das suas ‘descobertas
iniciais’, explicações e representações, bem como o fato de poder demonstrar,
‘testar’ suas próprias idéias e fazer crítica a elas, compreendendo que aprende
através da sua própria atividade.
Vimos, no estudo
desta Seção, a importância que representa conhecer a história da Ciência e
identificá-la como produção humana, abordando, também, de forma breve, as
repercussões de sua fragmentação na vida e no ensino. Vamos em frente,
realizando uma atividade para exercitar o que estudamos.
ATIVIDADE
2 - COMENTADA
O papel da
Ciência na concretização dos objetivos de vida da humanidade.
Tempo: vinte
minutos.
1. Tendo em vista o que foi estudado nesta seção, elabore uma questão que faculte a discussão, com seus alunos, objetivando fazê-los aprender a relacionar o papel da Ciência com grandes transformações sociais.
________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Comentário: Queremos lembrar que o campo das ciências é repleto de notáveis
descobertas e invenções que marcaram a História da humanidade, sendo importante
que seus alunos identifiquem algumas delas em um contexto histórico
determinado. Um dos objetivos desta disciplina é que nós mesmos c nossos alunos
reconheçamos o valor da ciência na busca e na transformação do conhecimento, o
que tem permitido ao homem não só controlar certas transformações conhecidas,
mas, também, obter um número cada vez maior de novos materiais, Os tecidos das
roupas que usamos, as borrachas sintéticas, os plásticos, a obtenção dos metais
e de ligas metálicas, os medicamentos, os sabões e detergentes biodegradáveis,
a utilização dos combustíveis, os materiais usados construções de casas,
móveis, embarcações, aviões, eletrodomésticos, computadores, etc, são exemplos
da enorme aplicação dos processos das ciências em nossa vida.
2. A ciência e seu processo histórico — os registros dos livros didáticos.
Tempo: duas
horas.
1. Escolha um livro didático de Ciências de Séries Iniciais, um livro qualquer ou um que você já conheça. Escolha um capítulo de seu interesse e avalie a forma com que a Ciência é apresentada pelo autor. Observe se, em alguma situação, fica evidente a preocupação com o processo histórico e indique os avanços e os limites que o conteúdo do livro apresenta.
________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Comentário: sabemos que é difícil encontrar o
livro didático perfeito, por isso mesmo é importante conhecer e discutir o
conteúdo dos livros que utilizamos para o ensino de Ciências Naturais,
analisando cuidadosamente o que neles é apresentado: a adequação de conteúdos,
as idéias a respeito dos fenômenos, a veiculação correta de conceituação que
evite induzir a erros, bem como a possível existência de abordagens teóricas já
superadas etc.
LEMBRETE: a
Ciência é...
·
uma atividade humana, coletiva, social, política e
histórica;
·
coletiva, uma vez que é uma produção humana que se dá no
interior das relações humanas, o homem solidariza-se num esforço coletivo para
superar o medo e a estranheza que a natureza desperta nele;
·
social, pois se dá no interior das instituições sociais
(institutos de pesquisa, universidades, escolas, etc.) e a serviço delas. Um
cientista não sobrevive no seu trabalho, independentemente dos seus colegas e
livre de qualquer instituição que possa lhe fornecer subsídios econômicos para
viabilizar suas pesquisas;
·
política, pois não é uma atividade “neutra”, isto é, a
Ciência não constitui um fim em si mesma, independente dos valores que pautam a
vida dos homens, da visão de mundo e da ideologia que subjaz às atividades
políticas;
·
uma atividade histórica, pois é um patrimônio socialmente
acumulado de toda a humanidade - está sujeita a interferências de qualquer
ordem e grau, como qualquer outra atividade, e sujeita, portanto, à avaliação
da própria sociedade no “seio” da qual se constrói para o conhecimento da
história das idéias científicas, o que se torna cada vez mais importante no
processo educacional, pois, a partir do conhecimento de teorias do passado, o
estudante pode melhor compreender as concepções do presente. Professor e aluno
podem, assim, caminhar juntos cm direção a novas práticas, superando
procedimentos e informações que não se mostrem adequados ao ensino de Ciências
Naturais.
ATIVIDADE 3 - RESPONDA
1.
Qual
o conceito de ciência?
2.
Quais
elementos ou fatores podem influenciar o desenvolvimento da ciência?
3.
Como
se deram na história, os primeiros conhecimentos da humanidade?
4.
Explique
e exemplifique o conhecimento mitológico.
5.
A
ciência moderna surgiu a partir do Séc. XVII com o desenvolvimento do método
científico. Qual a importância desse método e quais suas principais etapas
6. Diferencie método científico dedutivo de indutivo e numere seus 5 passos básicos.
6. Diferencie método científico dedutivo de indutivo e numere seus 5 passos básicos.
7.
Na
história da ciência, pesquise sobre o elixir da vida e a pedra filosofal.
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