Material
Extraído dos Cadernos Pedagógicos da UDESC
CONTEÚDO
E METODOLOGIAS DO ENSINO DE CIÊNCIAS
Elaboração
Isabel Cristina da Cunha
Isabel Cristina da Cunha
Janice
Miot Silva
Marise
Borba da Silva
Colaboração
Maria Juliani Nesi
Maria Juliani Nesi
Florianópolis,
junho de 2003.
AS DIFERENTES
CONCEPÇÕES QUE INFLUENCIAM AS CIÊNCIAS NATURAIS
E SUAS IMPLICAÇÕES NO ENSINO
E SUAS IMPLICAÇÕES NO ENSINO
Objetivo Geral: refletir sobre a importância histórica das diferentes concepções que orientaram o estudo do objeto de conhecimento das Ciências Naturais e suas -implicações para o ensino, em face da necessidade de repensar as grandes linhas que têm norteado as metodologias de ensino de Ciências, além de compreender melhor as implicações dessas concepções com a prática pedagógica e com as noções que as crianças constroem para explicar os fenômenos que elas observam.
AS CONCEPÇÕES NATURALISTA E CRIACIONISTA NA EXPLICAÇÃO DA VIDA E SEUS FENÔMENOS
Objetivo específico: identificar diferentes concepções, fundamentadas nas leis da natureza e em forças divinas, que predominaram no início da humanidade, bem como sua influência nas Ciências Naturais.
Com o estudo que vamos iniciar agora, enfatizamos a importância que representa conhecer algumas concepções que influenciaram o desenvolvimento das Ciências Naturais e, conseqüentemente, da própria história do ensino de Ciências. Saiba que tais concepções têm papel determinante na forma como os conteúdos desta disciplina são ensinados, implicando o desenvolvimento das práticas a ela relacionadas.
Ressaltamos que a abordagem dessa questão tem tido pouca relevância no
interior da escola, e, por isso mesmo, trazemos a discussão para este Caderno
com a preocupação de que as considerações feitas possam responder a uma simples
pergunta: como podem ser concebidos os conteúdos de Ciências ao serem ensinados
para os alunos? Convidamos você a refletir sobre sua prática, à luz desta
discussão.
Por muito tempo, Ciência, Cultura e Sociedade estiveram separadas na nossa
cabeça, como se fossem três realidades distintas e incapazes de “misturar-se”.
Não é mesmo? É como se Ciência fosse uma coisa, Cultura, outra, e Sociedade,
uma terceira coisa. Vejamos, agora, um exemplo que contribui para que essa
separação seja questionada, analisando o desmoronamento de uma encosta em que
fica uma favela na periferia urbana, processo causado por erosão do solo,
fenômeno que têm acontecido em muitos lugares onde determinada parcela da
população se concentra. Se, para algumas pessoas que presenciam fatos como esse
ou que assistem à notícia pela televisão fosse perguntado “por que o morro
desmoronou?”, sem sombra de dúvida, seriam muitas e diversas as respostas.
Antes de prosseguirmos, perguntamos a você que explicação você daria para
esse acontecimento, com base em experiências anteriores em que tenha tomado
conhecimento de episódios semelhantes. Pergunte a outras pessoas e pergunte,
também, aos seus alunos, na tentativa de levantar as causas comumente
apresentadas para fenômenos como esse.
Provavelmente, as
respostas levantadas por você quanto à causa do desmoronamento de uma encosta
que beira uma favela na periferia urbana podem até ser parecidas, mas,
seguramente, serão distintas na essência. Uns poderão dizer que houve
desmatamento; outros talvez apontem para o processo de urbanização e, ainda,
haverá quem diga, quem sabe, que foi a chuva que provocou o deslizamento ou que
havia excesso de pessoas morando no local. Muita coisa poderá surgir! Decorre
daí que não podemos mais pensar que um fenômeno natural (ou social), observado
por vários indivíduos, apresente-se da mesma forma para todos eles. Seria o
mesmo que dizer, e já “falamos” antes sobre isso, que o observador é neutro,
que não imprime sua marca ao externar sua interpretação.
Ora, sabemos que,
muito pelo contrário, o observador intervém com seu referencial cultural e
social ao observar fenômenos da natureza (e também os fenômenos sociais). A
história da Ciência tem nos mostrado isso ao longo dos anos. Vejamos o caso das
explicações dadas para o nosso planeta ao longo do tempo: com Gláudio Ptolomeu,
originou-se a Teoria Geocêntrica, que afirmava ser a Terra fixa, e que todos os
demais astros giravam em torno dela; depois, com Copérnico, surgiu a Teoria
Heliocêntrica, segundo a qual a Terra executa um movimento completo em torno de
seu eixo, o que explicaria o movimento do Sol e das Estrelas, produzindo o dia
e a noite, teoria que foi defendida e desenvolvida por Galileu e por seu
contemporâneo Johannes Kepler.
Pouco mais tarde,
veio Giordani Bruno, que acrescentou à Teoria de Copérnico e à teoria de
Galileu a idéia do Universo infinito, levantando novamente a polêmica; hoje, já
existe quem queira provar que a Terra não gira em torno do Sol, como foi
escrito por Copérnico e que Galileu o teria comprovado. (Discussão disponível
em http:// www.davinoservidio.hpg.ig.com.br). E a história segue em frente, O
que será que virá ainda?
Para os alunos,
principalmente os mais jovens, é difícil a superação de concepções intuitivas
acerca da forma da Terra, de sua espessura, de seu diâmetro, de sua localização
e da descrição de seus movimentos. As concepções intuitivas, você poderá
observar com seus alunos, permitem às crianças pequenas desenharem-se “dentro”
da Terra ou como que penduradas ao redor dela. Para conhecer as concepções das
crianças sobre a origem do Universo e da Vida, é importante, então, que você
apresente a elas o que já sabemos sobre o tema, o que já é de domínio cultural,
para que possam compreender que existem diferentes formas de explicar essa
mesma origem. Assim, é importante que o professor abra o diálogo para as
distintas concepções de seus alunos, sobre o Universo antes de ensinar a
perspectiva científica mais atual.
De uma forma simples. adequada ao entendimento de seus alunos, você pode
apresentar-lhes as teorias que vamos abordar agora. Vamos a elas, começando com
o Criacionismo, que deriva de uma idéia da criação. Em muitas religiões, a
criação é concebida em termos transcendentais, a partir de uma única divindade,
a partir da crença de que Deus criou o mundo. Essa é, provavelmente, a primeira
idéia que é apresentada à criança, pata explicar tanto a origem do Universo
quanto à origem da vida, que é preciso respeitar, seja qual for sua concepção,
e contextualizar num quadro de referências mais amplo para que ela conheça
outras formas de interpretações e tenha condições de comparar seus pontos de
vistas sem, necessariamente, traumatizar-se pela perda de uma referencia que
até então a orientava. Ao contrário, pode enriquecer seu código de cultura
conhecendo concepções diversas sobre um mesmo assunto.
A origem extraterrestre (também chamada de Panspermia), é uma outra
hipótese, bem antiga, quase não mais aceita hoje. Essa corrente de pensamento
propõe que a vida originou-se fora da Terra e chegou ao nosso planeta sob a
forma de esporos, trazidos por meteoritos vindos do espaço, como se a vida
tivesse sido “semeada” sobre a Terra. Esses esporos, encontrando condições
favoráveis, teriam evoluído gradativamente, originando a vida como a conhecemos
hoje. Há, ainda, em uma visão científica, a origem explicada pela evolução
gradual dos sistemas químicos. Nessa evolução química, prevalece a hipótese
clássica, mais aceita hoje em dia, de que a vida teria se originado há alguns
bilhões de anos atrás, a partir de moléculas da atmosfera primitiva (metano,
amônia, hidrogênio e água) que se combinaram, resultando em agregados cada vez
mais complexos. Depois de um longo tempo e de inúmeras reações, esses
agregados, de forma casual, teriam adquirido a complexidade necessária para
constituir um organismo muito simples.
No caso da origem do Universo, temos as explicações dadas pela evolução
físico-matemática, por sua vez, bastante difundida, teorizando que o início do
universo deu-se pelo Big-Bang. Essa teoria teve início a partir de estudos
físico-matemáticos, sendo que o Big-Bang representaria a explosão que deu
origem ao universo, criando, então, as dimensões de tempo e de espaço, assim
como as galáxias, as estrelas, as partículas etc.
Existe uma
variedade de interpretações, como é possível ver, e é importante que a criança
as conheça e, inclusive, acrescente aquelas de que já ouviu falar. É fundamental, porém, que a criança reconheça que, mesmo
num planeta aconchegante como o nosso, o processo evolutivo fez trilhões de
tentativas até o surgimento da vida em geral, e do homem, em particular, o que
nos possibilita afirmar, com certeza, que a existência de vida na Terra é, no
mínimo, um fenômeno extremamente raro. Interessante é discutir com as crianças,
também, as notícias veiculadas na mídia em geral sobre a existência de vida em
Marte, pois, se for confirmada, nossas idéias sobre a origem da vida na Terra e
sobre a presença de vida no Universo sofrerão certamente um impacto muito
grande, obrigando-nos a reformular vários conceitos construídos historicamente.
A compreensão inicial desses domínios, bem como as inter-relações entre eles,
desde a Educação Infantil, ajuda a construir a idéia da dinâmica da Terra.
Compreender o Universo projetando-se para além do horizonte terrestre,
alcançando dimensões novas e maiores de espaço e de tempo, pode dar ao nosso
aluno novo significado aos limites do planeta em que vivemos, ressignificando
nossa existência no Cosmos. Sabendo que várias transformações ocorreram no
Universo, até podermos estar habitando nosso Planeta, e que aconteceram muitas
relações entre os vários componentes do ambiente terrestre para podermos
habitá-lo, pode dar à criança uma dimensão da nossa enorme responsabilidade por
esse mesmo universo, ainda que possamos imaginar outras formas de vida fora
dele, pois o nosso domínio de vida é o fenômeno que nos parece mais certo até
hoje, somos o único planeta com vida inteligente no Sistema Solar.
A identificação
das diferentes teorias acerca dos aspectos do Universo é uma demonstração de
que o conhecimento humano, desde o início da humanidade, tem sido condicionado
por fatores naturais e hist6rico-sociais. O homem sempre se questionou sobre
temas como a origem e o fim do universo, as causas, a natureza e a relação
entre as coisas e entre os &tos. Não existe nenhuma ‘neutralidade’, como
podemos ver; existe, isso sim, uma intervenção humana na forma como esse
conteúdo é apreendido, que vai mudando à medida que tal conteúdo é enriquecido
com novos elementos. Assim, podemos supor que as teorias científicas não nascem
em um vazio e, também, que elas evoluem com o passar dos anos. Da mesma forma,
as concepções sobre o objeto de estudo das Ciências são abordagens diferentes
sobre a natureza desse objeto, dependendo de qual das idéias sobre a relação
homem-natureza predomine no pensamento de um ou de outro educador.
Diante dessa constatação, nos últimos anos, a relação da Metodologia de
Ensino de Ciências com as concepções que os professores e alunos têm a respeito
dos conceitos científicos e com suas repercussões na formulação curricular tem
recebido crescente importância. Se você pensar bem sobre essa questão,
entenderá o quanto ela é pertinente, pois aponta distintas realidades que
constatamos na educação e para as quais nem sempre dedicamos muita atenção: a
Ciência ensinada nos espaços educativos (formais e não-formais), a visão de
Ciência apresentada nos livros didáticos, a relação entre as concepções sobre
os conteúdos de Ciências Naturais, as concepções dos professores e as
concepções dos estudantes, no ensino referente a essa disciplina. Vamos
conhecer algumas delas?
CONCEPÇÕES FUNDADAS NA NATUREZA: o império das leis da
Natureza e das leis divinas que invocam uma Entidade superior
Tais concepções têm como pressuposto, desde o pensamento grego, que a
Natureza segue leis naturais, ‘racionais’ e necessárias: a razão é posta na
natureza! Nada aconteceria ao acaso, pois o mundo seria regido por uma harmonia
preestabelecida - uma espécie de “acordo” natural - entre os seres vivos e seu ambiente, corno se tudo já
estivesse organizado, pronto, sob a lei de forças naturais. A Natureza, sob
essa ótica, é concebida como se progredisse, gradativamente, das coisas
inanimadas para as criaturas vivas.
Uma demonstração dessa forma de pensar é o princípio da geração espontânea
ou abiogênese, formulado por Aristóteles, segundo o qual alguns seres vivos
desenvolver-se-iam a partir da matéria inorgânica em contato com um princípio
ativo existente nas coisas. Assim, a vida surgiria sempre que as condições
(naturais) do meio fossem favoráveis. Os insetos e os vermes, por exemplo,
surgiriam da gota de orvalho e do lodo. Os ratos e os peixes, por outro lado,
surgiriam da lama e da areia As coisas vivas em geral surgiriam de suas
adjacências imediatas. E você, o que pensa a respeito disso? Como será que seus
alunos pensam a origem da vida’.
A concepção naturalista apresenta variações, conforme se acentua o papel da
vida orgânica ou dos elementos físico-químicos como causadores da realização
dos fenômenos, ou mesmo, quando não há prioridade de um sobre outro. Tais
variações são: a) Animismo, b) Vitalismo, c) Finalismo Vamos tratar delas muito rapidamente, apenas para que você as diferencie e
estabeleça sua relação com o desenvolvimento das Ciências Naturais e com
prováveis resquícios que ainda existem no ensino de Ciências.
O ANIMISMO: marcando o início do pensamento da humanidade
No início da História da humanidade, identificamos o Animismo, que coexiste
nos povos primitivos pela crença de que tudo está animado e vivificado, de que
os objetos da Natureza são, em sua singularidade e em sua totalidade, seres
animados, Entidades como o deus sol, a divindade lunar, o trovão, a montanha
sagrada, os espíritos da água, do fogo, do vento... Veja bem: os animistas concebiam que havia espíritos
vivendo em tudo: em pedras, árvores, sementes, água e em pessoas vivas ou
mortas.
A animação de todos os seres era concebida, naturalmente, em comparação com
a vida do homem, prevalecendo a crença de que os fenômenos e as forças da
natureza eram capazes de intervir nos assuntos humanos. O Animismo atribui,
portanto, aos seres inanimados e evolutivamente mais elementares, qualidades
biológicas como a vida mais desenvolvida, ou qualidades psicológicas, como a
consciência, a intencionalidade do próprio homem. Não existe diferença entre
ser animado e inanimado, ser inconsciente e ser consciente. É como se Natureza
e divindade se confundissem: deus é inerente ao natural.
O VITALISMO: a natureza possui vida e consciência
De modo semelhante, para as concepções que vamos estudar a seguir - Vitalismo e Finalismo - há uma alma existente
nas coisas, ou seja, uma força superior que animaria a matéria. Para o
Vitalismo, os seres vivos são animados por uma força vital, uma espécie de
“centelha divina”, alguma coisa bem fora do domínio da Ciência. Assim, todas as
funções e os processos da vida baseiam-se, portanto, na existência de um
componente não-físico para explicar a vida, o princípio vital, inerente aos
organismos vivos, independentemente de causas externas e de origem de seus complexos
fenômenos.
Vamos usar um exemplo de Vitalismo na Biologia para você entender melhor.
Segundo essa concepção, a matéria de que são feitos os seres vivos, uma planta,
por exemplo, exibe “algo mais” que um simples arranjo diferente de átomos; suas
propriedades devem-se a substâncias especiais e não a leis da Física e da
Química, por serem essas mesmas leis insuficientes para explicar o fenômeno da
vida, Os seres vivos, movidos por essa força desconhecida, seriam capazes de
reagir naturalmente e de maneira independente a qualquer tipo de circunstância
que os afetasse.
Em resumo, por muitos anos, permaneceu uma indistinção entre os fenômenos
vitais e os fenômenos relacionados à vida consciente. Você nem pode imaginar o
quanto o Vitalismo influenciou as Ciências Naturais! É claro que tal
influência, também, manifestou-se na forma como as ciências foram ensinadas nas
escolas, aparecendo o estudo dos fenômenos da matéria viva sem nenhuma relação
com os fenômenos físico-químicos ou confundidos com os da vida consciente,
sendo a vida entendida de uma forma fragmentada e animada por algo que não
tinha existência material. Levou tempo para que os homens falassem em átomos,
moléculas e outras evidências materiais.
O FINALISMO: a vida existe para uma finalidade previamente estabelecida
O Finalismo concebe uma finalidade intrínseca existente nas coisas, que
seriam movidas por causas externas, como se tudo fosse feito necessariamente
dirigido para o melhor fim e visando à perfeição. É assim que essa concepção
vai influenciar as Ciências Naturais, de modo tal que o conjunto dos fenômenos
(especificamente, os processos vitais) é explicado em vista de um fim
determinado, previsto, e numa ordem hierárquica: cada coisa é colocada numa
ordem de continuidade, da mais inferior à mais complexa, visando à perfeição;
cada coisa é, também, colocada tendo em vista uma função, um fim a ser
alcançado. Na concepção finalista, por exemplo, a evolução orgânica está
orientada para um claro fim de especialização e aperfeiçoamento, começando com
o ser considerado mais imperfeito até chegar ao mais perfeito.
O pensamento finalista aparece em Aristóteles, quando, por exemplo, concebe
que o olho teria como causa final a visão, isto é, o olho existiria para
realizar sua finalidade que e ver Aristóteles também considerava que os seres vivos se desenvolveram
numa ordem do menos perfeito ou mais simples ao mais perfeito ou mais complexo.
Na mesma linha de raciocínio, segueTeofrasto de Eresos (372-288 a C), discípulo de
Aristóteles e de Platão, denominado “o fundador da Botânica” Teofrasto de
Eresos classificou os vegetais segundo a hierarquia finalista, em “árvores,
arbustos, subarbustos e ervas”, classificação que hoje já não é mais válida,
considerado o avanço da Botânica Você percebe, nessa concepção, que ha uma
ordem natural, uma escalada harmônica que vai de um ser a outro, não aparecendo
qualquer característica que anuncie uma transformação, uma construção, nenhuma
espécie de relação de troca entre seres vivos e os elementos do ambiente capaz
de justificar a intervenção daqueles sobre este.
Esperamos que tenha compreendido que o que une essas concepções é a
existência de um princípio vital, imaterial, para explicar os fenômenos
naturais. A natureza possui vida e consciência e as vontades dos homens e das
coisas entrecruzam-se numa rede inextrincável, ligando-se num mesmo destino em
face da impossibilidade de os sujeitos representarem sua própria vida. Mesmo
com sua base anti-evolucionista, o Vitalismo e o Finalismo, em especial, com
Platão e Aristóteles, possibilitaram ao homem perceber a existência de coisas
com “movimentos próprios”, organizadas e hierarquicamente ordenadas e com um
fim determinado a ser alcançado (finalidade), embora tendo em comum uma causa
natural, regida por deuses (Zeus, Atena, Apoio, Netuno, Vênus...), como o
princípio ordenador último, por falta de conhecimento sobre a matéria que
constitui a vida.
O CRIACIONISMO: o surgimento das espécies de seres vivos por obra e intervenção de um “projetista divino”.
As idéias findadas numa lei natural, imutável e perfeita atravessaram
séculos, até que a noção d0 princípio vital fosse submetida à ação contínua de
um poder no plano Criador, mediante a intervenção de Deus. Surgiu, assim, uma
nova concepção — o Criacionismo. Ao contrário das demais concepções, a ação divina ou
sobrenatural sobrepõe-se à explicação dada pelo “fenômeno natural”, ou seja, o
efeito de causas simplesmente naturais.
Em conseqüência disso, a idéia implícita nessa concepção torna inútil
qualquer investigação científica a respeito da origem da vida, por justamente
assentar sua base em um principio dogmático, ou seja, a criação pelo divino.
Citamos como exemplo dessa concepção, a explicação criacionista da origem da
vida e a classificação botânica de Lineu (nos seus primeiros estudos), para
quem as diferentes espécies seriam tantas quantas saíssem da criação divina e
assim seriam dadas na natureza. Podemos perceber que, com base no Criacionismo,
o processo de criação de novas espécies nunca ocorre, já que todas foram criadas por Deus durante os seis dias da
criação. Vejamos o que nos “diz” Piaget (1973, p. 92) sobre isso:
Mas se, de acordo com o
Livro do Gênesis, os vegetais foram criados no terceiro dia e as aves no
quinto, os animais terrestres no começo do sexto e o homem no fim deste dia, é
claro que não procedem uns dos outros, e que só é temporal a realização de um
plano preestabelecido, por ocasião ao próprio plano, que pode ser eterno ou
concebido por etapas.
Observamos que, no Criacionismo, a exemplo das concepções naturalistas,
permanece a idéia de uma harmonia
predeterminada em que
Deus Criador
justifica a criação e que, também, fica de fora qualquer idéia de transformação, pois as formas aparecem independentes uma das outras,
indiferentes, sem qualquer referência a uma causalidade evolutiva, ainda.
Preste, porém atenção: o avanço do Criacionismo, ao contrário das concepções
anteriores, está em afirmar a possibilidade de uma criação adquirida pouco a
pouco, trazendo a idéia de sucessão histórica para a explicação dos fenômenos
que antes eram concebidos como atemporais. Não é simplesmente no dogma de que o
mundo foi criado em sete dias, portanto, que está a ênfase do Criacionismo, mas
no que isso passou a representar. O termo “dia” tem um significado temporal,
você percebe?
Muito bem! Vimos um pouco sobre as concepções: Animismo, Vitalismo,
Finalismo e Criacionismo. Vamos, agora, conhecer alguns exemplos das concepções
abordadas até aqui.
A explicação sobre a germinação da semente, encontrada em alguns livros ou
dada por professores ou mesmo por alguns pais, como se a semente fosse um ser
humano ou tivesse características humanas, reporta-nos às concepções que
estudamos, especialmente, a animista. Procure observar se, nos livros de
Ciências que tem a mão, você encontra exemplos semelhantes, tais como: “a
semente está dormindo embaixo da terra, quando acorda, vira uma plantinha”; “os
bichinhos da cárie estão sempre presentes na nossa boca, para impedi-los de
fazerem “xixi” a toda hora não podemos dar comida a eles o todo momento. Esse
“xixi” é tão forte, que é capaz de furar o dente,causando a cárie dentária”
(exemplo encontrado na internet); “o sol já vai dormir”; “a cegonha vai trazer
seu irmãozinho amanhã” ou “Olha como a árvore está triste!”, entre outros casos.
As explicações sobre a gestação ganham especial enfoque nesse campo, em
exemplos como do papai que colocou uma sementinha na barriga da mamãe”; é
provável que a criança imagine um jardim ou fique a imaginar a trajetória dessa
sementinha. Observe uma atividade comum em livros didáticos que pode reforçar a
concepção animista nas crianças, e escreva ao lado a sua opinião a respeito.
Observando a
natureza: ...observe a natureza ao seu redor, “fale” com a Natureza, procure
entender o seu mundo, o seu ecossistema”.
ATIVIDADE 1 - COMENTADA
1. Leia o que
perguntamos e responda: como você analisa a representação que as crianças fazem
do sol, da lua e das plantas, por exemplo, com características e sentimentos
humanos, muitas vezes reforçada pelos adultos?
_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Comentário: Você deve ter apontado o Animismo que impregna e reforça tais práticas.
Não é que elas devam ser rejeitadas, no início do pensamento infantil, mas
devemos estar atentos, corno educadores, para que elas não se mantenham vida
afora. Afinal, cada coisa tem o seu lugar. Pensar assim corresponde a uma forma
de interação com o mundo, própria de um determinado tempo de nossas vidas,
quando ainda estamos iniciando nossas primeiras “aventuras” em um mundo que é,
de certa forma, pouco conhecido. É muito lógico que nossos atos sejam guiados
pelas primeiras representações que dele fazemos, mas é preciso superar tais
representações em favor de um conhecimento que abarque novas relações bm um
universo que resta conhecer Foi assim que o Vitalismo foi superado, em favor de
uma nova visão de mundo.
2. Vamos agora, analisar o Vitalismo e o Finalismo, ambos, acompanhando
algumas idéias que têm servido como explicação de conteúdos de Ciências para
crianças...
a) Quando dá trovoada, é Papai-do-céu que está bravo!
b) A clorofila mora na folha; ela ajuda a planta a fabricar seu alimento.
c) O gafanhoto é uma praga da lavoura; ele destrói as plantações e faz
muito mal ao homem.
d) Existem cogumelos bons e maus para o homem.
e) Fruto: - minha função é guardar a semente que dará origem a uma nova planta. Folha: - sou responsável pela
respiração e pela transpiração da planta; ajudo-a na fabricação de seu
alimento. Caule: - minha função é sustentar as folhas, as flores e os frutos.
f) Os órgãos dos sentidos são cinco: a língua, que serve para sentir o
gosto; os olhos, para ver; os ouvidos, para ouvir; o nariz para cheirar e a
pele para sentir as coisas.
Comentário: Você identificou as concepções apontadas? Conseguiu apontar o Vitalismo
presente nos itens a, b, c e e, o Finalismo, mais marcadamente em e e f? Muito
bem! Sabe por quê? Observe que, além dos exemplos manifestarem um “poder
natural” nos cogumelos que seriam bons ou maus (à semelhança de atributos
humanos), e que o gafanhoto teria em si inerente uma “força natural” que o
torna uma ‘praga’, as funções e os processos desses seres devem-se a um
princípio vital (energia ou poderes vitais ocultos, sobrenaturais...), baseado
em leis naturais e distinto das forças físico-químicas (leis da física e da
química) que não eram ainda concebidas na explicação dos fenômenos.
Podemos “dizer”, ainda, que há, também, Finalismo nos itens b e d, pois, se
você prestar atenção, em ambos parece haver um Finalismo dirigido,
predeterminado, de pressuposto naturalista, expressado nos seres que seriam
imperfeitos por natureza, o que é evidenciado nos itens e e f, cujo fim último
do desenvolvimento de uma parte ou órgão do organismo rende a satisfizer as
necessidades impostas pelo ambiente.
3. Aproveite a
ocasião e procure nos livros que você tem ou que existem na sua escola, em
especial de Ciências, evidências dessas idéias sobre determinados fenômenos
naturais. E você, já recorreu a alguma
dessas concepções que apresentamos aqui?
Imagine que, em
uma aula de Ciências, o professor pergunte aos seus alunos o que eles entendem
sobre a diversidade das espécies animais. Numa abordagem criacionista, é
esperado que alguns alunos respondam da seguinte forma: “Deus criou um casal de
cada espécie e colocou-os no mundo”. Como você construiria com seus alunos uma
nova explicação a partir dessa representação prévia? Faça um esforço para abrir
caminho e introduzir a ciência em suas aulas, acompanhando os próprios avanços
conceptuais que ela teve na sua história.
_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Comentário: Continuemos! Segundo Soncini (1993, p. 5), “embora ainda predominasse a
idéia de uma natureza fixa e invariável e, ainda que, para a maioria dos
naturalistas, tudo houvesse sido feito de um só golpe pelo criador, o problema
da diversidade das espécies continuava a instigar mentes curiosas”. No “trem”
da História, surgiu, então, uma nova concepção: abriu-se o palco da humanidade
para inaugurar uma nova idéia: o Reducionismo.
ATIVIDADE 2 – RESPONDA
Relacione as teorias levantadas ao longo da história
da ciência e da própria humanidade:
a.
Criacionismo ( ) as espécies não sofrem modificações e
são assim desde a
criação
b.
Abiogênese ( ) a vida surgiu de reações químicas dos
gases da atmosfera
primitiva
c.
Biogênese ( ) todas as coisas teriam uma finalidade
intrínseca visando à
perfeição
d.
Panspermismo ( ) uma explosão de matéria super
concentrada deu origem ao
universo
e.
Fixismo ( ) a animação da matéria parte de um
princípio vital inerente
aos
seres vivos
f.
Naturalismo ( ) a vida evoluiu a partir de
microrganismos vindos do espaço
em meteoros
g.
Big Bang ( ) um ser vivo somente pode existir a
partir de outro
preexistente
h.
Animismo ( ) a vida surge da matéria bruta do meio a
partir de um
princípio
vital
i.
Vitalismo ( ) os seres são obra da criação divina
j. Finalismo (
) os seres eram animados naturalmente
pela própria existência

Nenhum comentário:
Postar um comentário