Material
Extraído dos Cadernos Pedagógicos da UDESC
CONTEÚDO
E METODOLOGIAS DO ENSINO DE CIÊNCIAS
Elaboração
Isabel Cristina da Cunha
Isabel Cristina da Cunha
Janice
Miot Silva
Marise
Borba da Silva
Colaboração
Maria Juliani Nesi
Maria Juliani Nesi
Florianópolis,
junho de 2003.
POR QUE
ENSINAR CIÊNCIAS?
Objetivos específicos: analisar e discutir criticamente os objetivos e a importância do ensino de Ciências Naturais na formação científica inicial das crianças, a partir da compreensão do conteúdo fundamental desta disciplina.
Se nos
reportarmos à forma como o ensino de Ciências vem sendo efetivado, veremos que
ainda é realizado em função de um conjunto de conteúdos que constituem
programas, sem que fique devidamente claro qual é na verdade, o objeto de
conhecimento da disciplina com o qual esses conteúdos devem estar estreitamente
articulados, para que não sejam tratados como assuntos isolados e estanques,
pouco atraentes e nada significativos para os alunos. Você mesmo(a) já parou
para pensar o que é estudado em Ciências? Será que à sua cabeça ainda vêm
conteúdos como ar, água solo, animais e plantas? Não estranhe, isso pode
acontecer! Isolados ou abordados em conjunto, se você prestar atenção, esses
conteúdos são os tópicos básicos ainda implícitos nos programas, principalmente,
quando tais programas são destinados a crianças.
Ainda que seja
outra a organização, você poderá perceber que uma coisa não muda: a forma
hierárquica, linear, fragmentada, com que esses conteúdos são apresentados, o
que vai se refletir, também, na forma como serão ensinados.
A Ciência
“caminha” apressada, e a tecnologia ainda mais! Embora aconteçam tantas
reformas no ensino da disciplina de Ciências, tantas propostas curriculares,
tantas discussões, parece que tais avanços não chegam à escola. Torna-se cada
vez mais necessário repensar o ensino de Ciências, como já dizia Darcy Ribeiro
(apud RODRIGUES,1989), ver o que se quer, efetivamente, com ele. É por isso que fizemos esta abordagem inicial, para deixar
claro quais são os assuntos-chave de que trata o ensino de Ciências, para que,
a partir deles, seja pensada uma proposta que corresponda às necessidades do
processo de ensino-aprendizagem.
As Ciências da
Natureza estudam três ordens de fenômenos: os relacionados com a vida, os
fenômenos físicos e as transformações que ocorrem na natureza. Constituem,
assim, três grandes ciências: a Biologia, a Física e a Química. Vamos, agora,
falar um pouquinho sobre o universo que cada uma dessas ciências abarca, sendo
importante saber que elas já se especificaram em muitos e diferentes ramos,
como é o exemplo da Ecologia, Botânica e da Zoologia, na Biologia.
Iniciemos pela Física.
Desde o início da
infância, cada um de nós pode observar uma grande variedade de fenômenos, ou
seja, uma multiplicidade de transformações que ocorrem continuamente no
ambiente em que vivemos. São, assim, muitas as perguntas que cada um de nós é
levado a se fazer, e muitos são, também, os “porquês” aos quais gostaríamos de
poder dar uma resposta, por exemplo: por que vemos nossa imagem refletida num
espelho? Por que os objetos caem no
chão? Por que as estrelas não são lançadas no solo como urna pedra? E assim
sucessivamente.
Podemos, então,
recorrer à Física (do grego physis, natureza ), que e a Ciência que se propõe a descrever e a compreender
os fenômenos que se desenvolvem na natureza, tais como os fenômenos do
movimento, os fenômenos sonoros, os fenômenos térmicos; a natureza da luz e os
fenômenos por ela produzidos, os fenômenos elétricos e magnéticos e os
fenômenos que dizem respeito às moléculas e aos átomos.
“Falemos”, agora,
da Química.
A Química
estuda os diferentes materiais, suas ocorrências, seus processos de obtenção e
suas aplicações, em especial, as transformações das substâncias. É uma Ciência que está relacionada a quase tudo em nossa vida:
quando comemos, respiramos, pensamos, estamos realizando processos químicos. A
Química está, também, nas nossas necessidades básicas: alimentação, vestuário,
saúde, moradias, transporte, entre outros.
A Biologia,
ciência que tem seu nome originado de duas palavras gregas: bios, vida , e logos, estudo , tem por
objeto o estudo dos seres vivos, portanto os biólogos são os responsáveis por
investigar todas as formas vivas (bactérias, protozoários, fungos, vegetais,
animais, inclusive os vírus), em busca de respostas para sua origem e evolução,
processos de reprodução e relação com o meio ambiente, além dos problemas
envolvidos com esse processo.
Muito bem! Você
agora já tem maiores informações acerca do objeto de estudo de cada uma das ciências, cujas noções básicas podemos formar desde a
infância. Existem muitas aplicações práticas da Física, da Química e da
Biologia em nosso cotidiano: tomar banho, ferver água ou mesmo observar a face
de uma colher são bons exemplos.
Explorar o olhar
e o perceber do mundo infantil é um desafio para os educadores, com o objetivo
de despertar o interesse pela Ciência e justificar alguns fenômenos que ocorrem
no dia-a-dia. Para tanto, é fundamental tomar como ponto de partida esses
conhecimentos trazidos pelos alunos e organizá-los de acordo com as afinidades
e interesses, levando em conta o trabalho espontâneo e movido pela integração,
pelas indagações e expectativas das crianças, fazendo com que cada um ajude o
outro, construa a sua concepção de mundo e desenvolva o gosto pela ciência e
pela natureza.
Os fenômenos
biológicos, físicos e químicos fazem parte do nosso dia-a-dia. A Física, por
exemplo, está presente numa simples situação em que a água sofre uma mudança no
seu estado físico, como quando ela se transforma em gelo ou em vapor d’água. A
Física está, ainda, na força que atrai os ímãs que usamos para enfeitar a
geladeira ou mesmo em nossas brincadeiras, quando deslizamos pelo escorregador
ou caímos na calçada em dia de chuva, ou quando “gastamos” a sola de nossos
chinelos e sapatos.
Um outro exemplo
interessante é o que acontece nos banheiros em que há cortinas de plástico à
guisa de box. Assim que o chuveiro é aberto, essa cortina gruda no corpo da
pessoa, porque a água aumenta a velocidade do ar que está em volta, diminuindo
a pressão interna ao box, sendo que, do fado de fora, a pressão é maior, o ar
empurra a cortina para dentro. Interessante, não é mesmo? Esses são alguns
exemplos de como a Física está presente em nosso cotidiano.
A Química, por
sua vez, participa comumente de nosso cotidiano tanto quanto a Física e a
Biologia. Ela está presente em fenômenos como no apodrecimento de frutos,
deterioração de alimentos, enferrujamento do ferro, assim como está presente na
nossa saliva, na formação da coalhada, na respiração dos seres vivos, na
produção de pão (farinha, fermento, água, sal e açúcar - durante a fermentação ocorre liberação de gás carbônico, por isso o pão
cresce), na produção do vinho a partir da fermentação da uva, na
produção de sabão etc. E claro que nestes exemplos, como você já ter
evidenciado, a Física e a Biologia estão presentes, agindo conjuntamente em
tais fenômenos.
A Biologia está na vida ao nosso redor. Está em nós quando nos alimentamos,
respiramos, dormimos, geramos um novo ser, quando cheiramos uma flor, quando brincamos com um animalzinho... Está numa planta que nasce, numa flor que desabrocha, num pássaro que canta, enfim, está onde a vida se desenvolve! Ah! Já que falamos
em natureza, nos exemplos dados, ficam registrados os versos de Diana Almeida
(poetisa portuguesa) para ilustrar suas aulas.
NATUREZA
Adoro a tarde,
A noite,
O dia.
A natureza,
Os animais,
A fantasia.
O sopro do vento,
Dando empurrões ao mar.
O céu azul,
O sol brilhante.
E as crianças a brincar,
Respirando o ar puro,
Que a natureza não se cansa de lhes dar.
Pensamos que, ao conhecer o que essas ciências estudam, torna-se mais fácil
compreender a importância do Ensino de Ciências para as crianças e, também,
estabelecer quais são os objetivos fundamentais desse ensino. De uma forma
bastante simples, Darcy Ribeiro (1989, p.5) registra o seguinte: ‘Acho que,
desde a infância, é importante aprender Ciências. Se o ensino for bem feito,
ajudará a criança a compreender o mundo em que da vive. A cultura projeta o futuro.
A Ciência, quando tratada como cultura, imagina e projeta o futuro e cria as
utopias. Então, é claro que ela é fundamental desde a infância”. Se bem feito,
portanto, o ensino de Ciências possibilita que as crianças conheçam melhor suas
relações com os demais seres vivos e, em conseqüência, conheçam melhor a si
próprias; interpretem fenômenos que acontecem no meio ambiente e, sobretudo,
saibam que são capazes de intervir nesse meio, consciência essa que abre caminho para que
aprendam a viver com qualidade e dignidade.
A educação em
Ciências Naturais é um componente fundamental na formação do cidadão
contemporâneo. Para ser um bom educador em Ciências Naturais, o professor
precisa ter uma cultura científica e um conhecimento didático que lhe
possibilite planejar e conduzir boas situações de aprendizagem nessa área. O
primeiro passo rumo a esse caminho deve ser o de buscar conteúdos dentro do
mundo em que a criança brinca e vive que possam leva-la a construir os
primeiros significados do mundo científico como base para novos conhecimentos
que serão construídos ao longo de sua aprendizagem de Ciências.
Levando em conta
esses avanços que a aprendizagem científica pode promover, é importante que,
quando você tiver de selecionar e organizar conteúdos para trabalhar com seus
alunos focalize, antes de tudo, o que de significativo o ensino da disciplina
poderá trazer para a construção da identidade desses sujeitos e da cultura na
qual se inserem. Um bom começo é considerar e valorizar o repertório de
representações e explicações da realidade que as crianças trazem,
representações que não podem ser deixadas de lado nos processos de ensino e de
aprendizagem, pois são muito significativas para a formação dos conceitos
científicos.
Como é possível
constatar, os professores de Ciências têm sob a sua responsabilidade uma tarefa
muito importante e desafiadora: construir socialmente o saber científico, desde
a infância, colaborando para que as crianças aprendam a pensar de maneira
lógica sobre os fatos e os fenômenos do seu dia-a-dia, assim como aprendam a
resolver problemas práticos, desenvolvendo habilidades intelectuais valiosas
para qualquer tipo de atividade, habilidades das quais possam se valer e as
quais possam potencializar em qualquer lugar em que vivam. Não se trata,
portanto, de apenas repassar conhecimentos à criança, mas buscar, de todas as
formas, atingir a própria relação dela com a vida, com seu modo de agir,
lidando com a compreensão que ela tem sobre por que está no mundo, um mundo que
muda constantemente e cujas mudanças não chegam muitas vezes aos espaços
educativos.
Sabendo o que
precisa fazer, de início, você pode, então, relacionar, com mais segurança e
determinação, os objetivos que pretende alcançar com o ensino da disciplina de
Ciências. Indicamos alguns objetivos que consideramos prioritários para
auxiliar na sua decisão sobre o que quer com o ensino de Ciências. Eles são dirigidos ao aluno. Ei-los:
a) explicar a natureza como um todo, como uma rede de relações dinâmicas,
concebendo o homem como um ser integrante e capaz de representar o mundo em que
vive e nele intervir;
b) identificar relações existentes entre a Ciência, a produção de
tecnologia e o desenvolvimento das condições de vida no mundo de hoje e em sua
evolução histórica;
c) contextualizar e formular problemas reais; propor soluções para tais
problemas, colocando em prática, noções básicas, procedimentos e atitudes
correspondentes;
d) participar do trabalho em grupo, interativamente, atuando de forma
crítica, colaborativa e cooperativa na construção coletiva do conhecimento;
e) compreender a tecnologia como uma “ferramenta” importante para atender a
necessidades humanas, sabendo que seus usos incorretos prejudicam o equilíbrio
da relação entre a natureza e o homem.
Se tais objetivos forem perseguidos por você, a discussão que empreendemos
até aqui foi proveitosa. Recomendamos, ainda, que, desde o início, você
delineie os principais conteúdos de Ciências que deseja trabalhar com seus
alunos, conteúdos que são importantes dentro do contexto da educação científica
inicial e dentro do contexto de mundo em que seus alunos vivem.
Acentuamos essa preocupação porque as pessoas em geral têm dificuldades de
aplicar ao seu dia-a-dia o conhecimento aprendido nas aulas de Ciências, não
conseguindo, na grande maioria das vezes, interpretar fenômenos que estão
relacionados diretamente com elas, a exemplo de alguma coisa que ocorra com seu
corpo em relação ao meio ambiente - se, por exemplo, ingerir água contaminada, comer um
alimento sem cuidados higiênicos ou contrair uma gripe após um banho de chuva.
Além do mais, na falta dessa articulação entre a teoria e a prática, tais
pessoas não conseguem acompanhar, muitas vezes, o próprio desenvolvimento
científico e tecnológico que ocorre à sua volta e, muito menos, a interferência
desse desenvolvimento na sua própria vida.
Levando em conta
que as considerações feitas foram muito importantes, sugerimos que você as
discuta mais intensamente com seus colegas e com todos os envolvidos no espaço
educativo em que você atua, agindo como um grande disseminador das sementes que
aqui jogamos e das provocações que fizemos para a promoção de um ensino de
Ciências que efetivamente tenha valor formativo.
Nesta seção,
reafirmamos que a questão fundamental que motivou este estudo é fazer você
refletir sobre a necessidade de tornar o ensino de Ciências mais interessante,
participativo e motivador para os seus alunos, sem perder de vista a
perspectiva do desenvolvimento científico, a partir do ensino de noções de
fácil compreensão, de práticas simples, descomplicadas, que podemos realizar
com as crianças, dando os primeiros passos em busca dessa formação.
Questões comuns
levadas à sala de aula podem tornar-se grandes questões, ajudando os estudantes
a compreenderem o meio em que vivem e a procurar transformá-lo, a exemplo do
estudo do bairro ou da comunidade, uma gota d’água que contribui para mudar a
sociedade. Essa iniciativa, que não apresenta grandes dificuldades e pode
motivar bastante os alunos, permite-lhes desenvolver muitas coisas, algumas de
imediato, outras em longo prazo.
Dentre as grandes
conquistas, podemos destacar a capacidade de observação e de pesquisa,
desenvolvendo a consciência sobre a importância da preservação do meio ambiente
e do respeito à natureza, integrando o homem no universo como ser vivo e como
sujeito que nele intervém; a possibilidade de, ao estudar a vida, desenvolver a
auto-estima e o respeito ao próprio corpo e ao dos outros; a valorização dos
modos de intervir na natureza e de utilizar seus recursos conscientemente,
identificando os recursos tecnológicos que possam realizar essas mediações e
auxiliando no entendimento da qualidade de vida como um valor pessoal e social;
a compreensão da sexualidade humana sem mitos e preconceitos; o desencadeamento
de uma grande reflexão coletiva e de iniciativas de responsabilidade sobre
questões éticas implícitas nas relações entre Ciência, sociedade e tecnologia.
A atividade que
propomos que você faça, a seguir, tem, exatamente, este objetivo: integrar você
neste grande projeto de que os conteúdos do ensino de Ciências sejam relevantes
de um ponto de vista sociocultural, capacitando o aluno a se desenvolver como
cidadão que compreende as relações entre homem e a natureza, entre ciência,
sociedade e tecnologia, expressando essa
aprendizagem em suas ações cotidianas.
aprendizagem em suas ações cotidianas.
ATIVIDADE 1 - COMENTADA
1. Planejando o ensino de conteúdos de Ciências.
Levante qual o
grande problema que você considera que está influenciando, de alguma forma, a
qualidade de vida ambiental aí da comunidade
escolar onde você atua. Com base nessa identificação, organize os conteúdos que
precisariam ser trabalhados com as crianças com relação a essa questão,
delimite os objetivos a serem alcançado e trace, objetivamente, iniciativas
praticas que poderiam ser desenvolvidas com a comunidade e com as crianças numa
tentativa de, se não resolver, pelo menos, minimizar a problemática existente.
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Comentário: ao realizar esta atividade, você perceberá que aprendizagem científica depende, em boa parte, da formação e da compreensão de noções e conceitos, sendo necessário cuidar para que sejam adequados, claros e distintos. Assim, o ato de ensinar é de imensa responsabilidade, cabendo ao professor orientar a aprendizagem, afinal é em grande parte por sua causa que os alunos passam a conhecer ou continuam a ignorar a Ciência. E necessário, ainda, fazer uma reflexão para decidir o quanto é preciso ensinar, como ordenar os assuntos tratados, de que maneira utilizar as atividades práticas e como proceder a uma avaliação justa e criteriosa do que foi aprendido. Essa atividade que propomos, se bem realizada, poderá ajudar o cidadão a se posicionar em relação a inúmeros problemas da vida moderna, como poluição, destino do lixo, recursos energéticos, reservas minerais, uso de matérias-primas, desmoronamentos, enchentes, fabricação e uso de inseticidas, pesticidas, adubos e agrotóxicos, fabricação e uso de medicamentos e muitos outros.
ATIVIDADE
2 - RESPONDA
1.
O
que significa dizer que é preciso analisar e discutir criticamente os objetivos
e a importância do ensino de ciências?
2.
Por
que ensinar ciências no Ensino Fundamental?
3.
O
que é a forma linear da construção dos conceitos curriculares? Qual sua
implicação no processo ensino-aprendizagem?
4.
Quais
as 3 grandes áreas das Ciências e seus respectivos focos de interesse?
5.
Cite
aspectos do cotidiano em que vivenciamos diretamente a Biologia, a Química e a
Física.
6.
De
que modo é possível buscar conteúdos dentro do mundo em que a criança vive e
brinca?
7.
O
que caracteriza a construção do saber científico?
8.
Como
romper com o distanciamento entre a teoria e a prática que se perpetua no
ensino de ciências?
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