Material
Extraído dos Cadernos Pedagógicos da UDESC
CONTEÚDO
E METODOLOGIAS DO ENSINO DE CIÊNCIAS
Elaboração
Isabel Cristina da Cunha
Isabel Cristina da Cunha
Janice
Miot Silva
Marise
Borba da Silva
Colaboração
Maria Juliani Nesi
Maria Juliani Nesi
Florianópolis,
junho de 2003.
CONCEPÇÕES
REDUCIONISTAS: A INFLUÊNCIA DO MECANICISMO NA EXPLICAÇÃO DOS FENÔMENOS NATURAIS
Objetivos específicos: caracterizar as
concepções reducionistas e suas implicações no ensino das Ciências Naturais.
O Vitalismo, o Finalismo e o Criacionismo conviveram, da mesma forma, por séculos, até o surgimento do Reducionismo Mecanicista, que inaugurou uma nova concepção de homem e também uma nova forma de relacionamento do homem com o mundo, passando a ganhar adeptos e prevalecendo até hoje.
Se antes existia
pouca clareza sobre a diferença entre mundo vivo, mundo inanimado e vida
consciente, o Reducionismo aproximou esses mundos, tornando a matéria a base de
toda a existência. Para o reducionismo, existe a idéia de que as coisas são
feitas de outras coisas, que elas têm existência material, abrindo, assim,
caminho para a descoberta dos átomos. A idéia revolucionária, neste caso, foi,
sobretudo, a diferenciação da matéria inanimada, da matéria orgânica e da vida
consciente.
Mas quem o foi
grande sábio que inaugurou a nova visão? Ao contrário de Sócrates, para quem o
conhecimento sobre a natureza já existe, só precisamos pari-lo (o conhecimento
é uma força vital adormecida que precisa ser despertada, não havendo ainda
distinção entre o animado e o consciente), Descartes concluiu que, se o homem
pensava, era alguma coisa diferente da matéria (inanimada e animada), mostrando
essa evidência ao proclamar: “penso, logo existo”. Nessa célebre expressão,
Descartes reconheceu claramente que a natureza inteligente era distinta da
natureza corporal. Passamos, então, a nos tornar seres vivos e pensantes O
homem passou a ser definido pela capacidade de pensar e pelo fato de saber que
pensa. Assim, como ser racional, o homem distingue-se das demais espécies.
Abrem-se, então, as portas para o domínio que o homem moderno exerce até hoje
sobre a natureza. Podemos datar, aqui, a crítica que mais tarde os
irracionalistas Iriam mover a chamada “razão instrumental” o momento em que a
razão tornou-se uma ferramenta do progresso humano e não mais da especulação
desinteressada.
O Reducionismo nasceu, então, fundamentado na filosofia de Descartes,
influenciado por seu racionalismo, mediante o qual tudo funcionava de acordo
com leis exatas, com a certeza e a exatidão dos raciocínios próprio das leis
matemáticas, contrariamente ao predomínio das leis da natureza que vigoravam
nas concepções naturalista e criacionista.
Descartes pavimentou não apenas o caminho do Reducionismo que vamos estudar
um pouco agora, mas, também, o do Materialismo moderno e do Construtivismo,
pois seus sucessores não se orientariam mais na tentativa de interpretar os
fenômenos por força e vontade de uma providência divina, - - mas, sim, pela razão e por sua própria consciência. Na
visão reducionista, os fenômenos naturais podiam e deveriam ser explicados com
base nas leis da matéria em movimento, passando a ser formulados sob uma base
mecânica.
Paralelamente ao reducionismo e ao pensamento analítico, na era da máquina
entendia-se que a interação entre objetos ou entre fenômenos poderia ser
reduzida a uma relação fundamental, a de causa e efeito. Diz-se que uma coisa é
causa de outra (efeito), sendo a primeira tanto necessária quanto suficiente
para a outra. Efeitos são completamente determinados por suas causas. Dessa
maneira, a relação de causa e efeito num fenômeno é estudada à parte do
ambiente. Leis, como a da gravidade, são formuladas de maneira a excluir a ação
do ambiente (a idéia do vácuo, por exemplo) e são testadas em laboratórios
criados especialmente para explicar a ação do ambiente sobre o fenômeno em estudo. Consistente
com as características da era da máquina, a visão do mundo era determinística:
tudo o que ocorre é sempre determinado por alguma coisa que o precedeu. Do
mesmo jeito que se explicavam os fenômenos naturais com essa maneira de pensar
aplicou-se a mesma lógica para os homens, individualmente, e para a sociedade.
Essa foi a marca do mecanicismo.
Com Newton, instalou-se o Determinismo Mecanicista (mecânica clássica),
consagrando as bases para o advento da era moderna, a era das máquinas. A idéia
que passou a prevalecer nas Ciências Naturais, a - partir de então, foi que os fenômenos (incluindo os
ligados aos seres vivos) podem e devem ser separados, classificados e reduzidos em suas menores partes,
por sua vez, irredutíveis. Essa redução, regida por um sistema mecânico, é
determinada por cadeias lineares de causa e efeito, de um modo tão rigoroso que
um fenômeno, em sua totalidade, só é compreendido se forem conhecidos os
fenômenos que o antecederam e o acompanham, da mesma forma que determinam o
conhecimento dos resultados conseqüentes. Assim, tal causa, tal efeito! A
relação de causa e efeito representa o resultado da forma habitual de perceber
fenômenos, através da repetição constante desses mesmos fenômenos.
Quando a água é colocada no fogo, por exemplo, esperamos que ela, naturalmente,
vá ferver!
Para você
compreender melhor essa ordem reducionista, acompanhe o exemplo que criamos,
acerca de como se forma a brisa do mar, similar a muitas explicações
encontradas nos livros didáticos de Ciências: ‘A areia da praia, ao receber
calor do Sol, aquece-se mais rapidamente do que a água do mar; o calor da areia
passa, então, para o ar, que se dilata, fica menos denso e sobe, fazendo com
que o ar das camadas superiores, que é mais denso, vá descendo para ocupar o
lugar do ar que subiu”.
Você percebe a
linearidade, a relação causa-efeito na ordem das mudanças, colocadas umas após
as outras, sem a devida representação das transformações que acontecem? Observe
que há uma relação apenas funcional, não aparece a essência, o “sentido” do
fenômeno; as mudanças são reduzidas a meras combinações de elementos, numa
ordem de coisas, uma causando a outra: areia da praia, calor do sol, dilatação
do ar, formação de correntes, a brisa e assim sucessivamente. Ora, você sabe
que a brisa não se forma num “vapt-vupt”! Existe uma série de elementos e
fenômenos relacionados com a sua formação.
Vejamos: é
preciso que pensemos no ar, como matéria, com sua composição e propriedade.
Quando dizemos que a brisa resulta do ar em movimento, é necessário pensarmos
em determinada altitude, direção e intensidade, em altas e baixas pressões, em
temperatura, em calor, em dilatação e numa série de outros fatores. É preciso,
sobretudo, pensar numa série de elementos e fenômenos relacionados, sem que
aconteçam um após o outro, mas que podem acontecer simultaneamente. Sendo
assim, professor e aluno precisam dominar conteúdos básicos de Física, Química
e Biologia relacionados à formação da brisa.
Veja só até aonde
foi o Reducionismo em Ciências!
As plantas e os
animais também passaram a ser vistos como simples maquinas criadas para
executarem funções muito precisas, o corpo humano passou a ser desumanizado e
visto fracionadamente, tanto que o homem tornou-se um conjunto de partes, como
um amontoado de peças, reunidas em aparelhos e sistemas cujos funcionamentos
aparentam ausência de relações entre si. Esse e um dos grandes equívocos no
Ensino de Ciências, pois os alunos têm dificuldade de entender o organismo como
um todo a partir dessa visão.
Nos livros
didáticos e nas aulas de Ciências, de modo geral, a analogia entre os processos
vivos e os mecânicos é comum, corno na explicação de que assim como os carros
circulam pelas ruas, o sangue circula pelo nosso corpo; as avenidas percorridas
pelo sangue se chamam velas e artérias”, etc. Se você tiver um livro didático
de Ciências, um pouco mais antigo, ainda pode encontrar marcas muito profundas dessa visão mecanicista, a exemplo de
textos intitulados: “A máquina perfeita - o corpo humano” ou “O organismo é uma
máquina maravilhosa, na qual cada parte desempenha uma função”.
Para ilustrar ainda mais o Reducionismo Mecanicista, como forte concepção
presente no ensino de Ciências, observe se você já leu alguma coisa semelhante
ao que indicamos a seguir...
- “As partes que compõem o corpo humano são cabeça, tronco e
membros”.
- “Vamos descobrir algumas funções do corpo humano?
* Para que servem os
dedos? Para pegarmos coisas com eles.
* Para que serve o pulmão? Para respirarmos.
* E o coração? O coração é a máquina que ‘bombeia’ o
sangue.
- “O cérebro é o computador do corpo humano; ele também
precisa de ginástica para se manter forte e vigoroso”.
É possível evidenciar exemplos claros do mecanicismo nas
explicações dadas, não é mesmo? Pois bem! No exemplo que vamos dar a seguir,
identifique o Reducionismo e a ideologia nele implícita.
“O corpo humano é como uma fábrica: o cérebro é o chefe, e os órgãos, os
operários”.
O texto ilustra algo que possibilita a você não só compreender as
implicações mecanicistas no ensino, mas relacioná-las, inclusive, com práticas
sociais. Com essa concepção, nasceu a indústria moderna - a era das máquinas! Essa realidade mudou muita coisa na
história da vida dos homens, da Ciência e, certamente, repercutiu no ensino.
Pense na forma como o conteúdo do corpo humano é trabalhado com as crianças,
interferindo na sua concepção de mundo, de homem, de sociedade. Você vai,
assim, relacionando conteúdo e metodologia, introduzindo essa relação na sua
prática de um modo natural e consciente, tornando-se bastante capaz de refletir
sobre o que as concepções movidas por uma lógica mecanicista nos deixaram como
“herança”.
O Empirismo, de
que você tanto já ouviu falar e sobre o qual estudou no curso que faz, é uma
outra vertente que tem suas raízes no Reducionismo. A diferença marcante é que,
ao contrário do Racionalismo, que considera a razão como a verdadeira fonte de
conhecimento, o Empirismo confia exclusivamente na experiência proveniente dos
sentidos, ou na simples observação. Para os empiristas, somente o que pode ser
experimentado através dos sentidos de um observador é considerado real, sendo
as Ciências Naturais o modelo de conhecimento para o empirismo, que exerceu
suas influências no pensamento de muitos biólogos, devido ao papel decisivo da
experimentação. Com o Empirismo, em Ciências, os organismos vivos passam a ser
considerados passivos em relação ao ambiente, cujos elementos físico-químicos
constituintes são considerados os causadores das modificações não só externas,
mas, também, internas dos organismos. Um exemplo clássico é o das
características humanas, como cor de olhos e cor da pele, que por muito tempo
foram consideradas apenas resultados da ação do meio ambiente, sendo ignoradas
as interações das espécies entre si e com o meio. Você, também, já deve ter
ouvido uma explicação empirista para justificar certas situações cotidianas,
enfatizando a ação do meio nas seguintes expressões: “é de pequenino que se
torce o pepino” ou “o cachimbo deixa a boca torta”.
Observe a afirmação
comum nas propriedades das plantas: “os seres vivos têm uma característica
chamada excitabilidade propriedade segundo a qual eles respondem estímulos do
meio”. Pense, também, na razão pela qual as flores, conhecidas como onze horas
abrem-se às onze horas, período de sol intenso. Será apenas por causa do sol?
Se você prestar atenção, verá que a ênfase é dada ao fenômeno, como se se
tratasse de uma simples reação da planta aos elementos do meio (excesso de
luz), sendo secundarizado o papel da atividade do organismo em relação ao fator
externo. Trata-se de uma relação de causa-efeito, ou o que na Psicologia
Comportamentalista (Behaviorista) corresponde à relação estímulo-resposta.
Voltando a
Descartes, com sua teoria não só houve a autonomia da razão, libertando-a das
amarras religiosas, mas o método cartesiano forneceu também as bases de uma
Ciência que prometia ser um método para a unificação de todo o saber, com a
crença na certeza do conhecimento científico por meio da Matemática. O método
de aulas de Ciências sobre Será que o girassol movimenta-se apenas para
acompanhar o Sol?
Descartes, aplicando-se a realidades, fatos ou fenômenos não
suscetíveis de comprovação experimental passou a reduzir tudo até seus
componentes fundamentais, para, a partir desse nível, perceber relações
implicadas em cada fenômeno. Esse método é analítico e reducionista,
considerando que todo o saber constrói-se a partir da razão mediante a intuição
e a dedução (método dedutivo, que parte do geral para o particular). Se, no
método Racionalista, primeiro elaboram-se as suposições (hipóteses) e, depois,
são feitas as comprovações (ou não), no Empirismo o método Matemático de
Descartes não é aceito, já que a experiência é o ponto de partida do
conhecimento; logo, não há necessidade de estabelecer hipóteses. O Empirismo
antepõe a observação e a experimentação como passos prévios à generalização e à
laboração de teorias. Assim se caracteriza o método indutivo que parte do
particular (experiências) para a elaboração de princípios gerais.
Conforme registramos anteriormente, Bacon destacou o caráter eminentemente
empírico do método científico. A ciência, sob esse enfoque, é entendida como um
conjunto sistematizado de conhecimentos sobre a realidade observada, o que
decorre da aplicação do método científico. Em outras palavras, a ciência
deveria ser baseada na indução e na experimentação, não na metafísica e na
especulação. O método científico, assim, deveria ser usado para atingir um conhecimento
científico.
Sobre o método científico, é possível registrar que, por sua história, tem
sua origem, aplicação e desenvolvimento no âmbito das ciências naturais e
físicas, e sua base racional na existência da realidade e na possibilidade de
seu conhecimento. As principais correntes de pensamento, relativas ao estudo do
método científico e a atraírem a atenção dos cientistas no século XX foram
principalmente aquelas propostas por Karl Popper e Thomas Kuhn, sem esquecer
dos positivistas, inspirados em Augusto Comte , os quais consideram que o caminho
mais correto para a Ciência é a busca da confirmação da hipótese inicial. Se as
experiências confirmarem a hipótese, estamos diante de uma teoria verdadeira,
mesmo que o seja provisoriamente. Esses dois pensadores - Popper e Kuhn - não apenas divergem em suas conclusões sobre o método
científico, mas também, e principalmente, seguem, desde o início, abordagens
totalmente diversas.
Karl Popper (1902-1994) critica o Indutivismo com paixão, a ponto mesmo de ignorar
a indução. Sua visão do método científico e do conhecimento em geral é que
ambos progridem através de conjecturas e refutações, sendo que a tentativa de
refutação conta com o apoio da lógica dedutiva, que passa a ser um instrumento
de crítica, construindo o Racionalismo crítico. Estabelece uma regra
metodológica associada a seu método dedutivo de prova, e propõe a
“falseabilidade” como critério a ser adotado pelos cientistas para o
teste de suas teorias. Para Popper, a indução, que é o método mais tradicional
da ciência, apresenta problemas, sendo o mais grave deles, o fato de
trabalharmos com amostragens, e elas não excluírem a possibilidade de
contra-exemplos. Por sua vez, Kuhn constrói as suas idéias tomando por base
argumentos históricos.
Em linhas gerais,
traça um perfil da evolução das ciências, estabelecendo a partir daí uma
espécie de comportamento padrão a ser observado pelos cientistas, considerando
que a ciência é produzida dentro de certos paradigmas que, num determinado
tempo, orientam a comunidade científica; os períodos revolucionários seriam os
desencadeados pela falácia dos paradigmas até então aceitos como verdadeiros,
Os cientistas, de acordo com Kuhn, não estão livres para desenvolverem suas
pesquisas, as quais deverão ser coerentes como paradigma em vigor, que funciona
como um imenso guarda-chuva que abriga os cientistas de uma determinada época
ou cultura. A ciência se transforma, segundo ele, quando ocorrem revoluções
científicas e um paradigma dá lugar a Outro.
A teoria de Kuhn,
ao ser aceita, enfraquece sobremaneira a falseabilidade lógica de Popper. Mas
como será que ambos vêem o cientista? Se, para Popper, o cientista deve adotar
uma atitude revolucionária permanente, segundo Kuhn, ele deve acomodar-se aos
dogmas vigentes, sob pena de ser alijado da comunidade científica. Apoiados em
sua visão da história da ciência, Kuhn (1922-1996), Lakatos e Feyerabend, entre
outros, criticam tanto Popper quanto os indutivistas, alegando que sempre é
possível fazer alterações nas hipóteses e nas teorias auxiliares quando uma
previsão não se realiza.
É importante salientar que, na linha racionalista, a principal corrente foi o
positivismo, particularmente em sua forma evolucionista. O marxismo, surgido
nessa época, influenciaria o pensamento do século seguinte. O positivismo
evolucionista via a lógica da natureza na dinâmica social, porém tendo o todo
adquirido a forma de um grande sistema. O marxismo, que privilegiava as
relações materiais como base explicativa das mudanças sociais, via aspectos
dialéticos na natureza, sendo esta concomitantemente condição e parte
integrante do processo de reprodução social. Enquanto no processo de trabalho e
nas relações de produção o ambiente influenciaria a sociedade, esta, ao se
desenvolver, progressivamente transformaria a natureza.
A noção que se
tem hoje do conhecimento científico é bastante influenciada pelos pontos de
vista do Círculo de Viena e dos pensadores Karl Popper e Thomas S. Kuhn, pela
interferência de suas propostas epistemológicas. O Círculo de Viena, que não
vamos aprofundar neste estudo, é de inspiração positivista e surgiu na Europa
no início do século XX. Acreditava na possibilidade de as ciências humanas e
sociais seguirem as mesmas metodologias das ciências naturais e estava
preocupado em diferenciar o conhecimento científico dos outros tipos de
conhecimento. Essa corrente de pensamento também acreditava que o método científico
deveria utilizar a indução.
A Ciência,
considerada como a máxima expressão do conhecimento já desde a Grécia antiga,
baseia toda sua disciplina de investigação e desenvolvimento no auxílio de
diversas ferramentas disponíveis e em uma série de procedimentos que se
denominam genericamente “método científico”. O método é adequado para a
investigação e a compreensão do mundo e como uma maneira de resolver problemas
de forma sistemática e lógica, um processo de raciocínio que pretende não
somente descrever os fenômenos, senão também explicá-los. Quando o homem sai de
uma posição meramente passiva, deixando de ser mera testemunha dos fenômenos,
sem poder de ação ou controle sobre tais fenômenos, indo além da realidade
imediatamente percebida e lançando princípios explicativos que sirvam de base
para a organização e a classificação que caracteriza o conhecimento, ao adotar
uma atitude racionalista e lógica que busca entender o mundo através de
questionamentos, faz surgir a necessidade do método.
A história do
método passa pelo primeiro método formulado para acompanhar o desenvolvimento
das Ciências Naturais na Idade Moderna, o Indutivismo, a que já fizemos referência anteriormente. Depois, surgiram outros
métodos, como o hipotético-dedutivista, que acreditava que a ciência se origina
de problemas, teóricos ou práticos, que preocupam o homem. Vimos, também, o
Falsacionismo, em que
Popper enfoca a questão metodológica na única possibilidade
que, segundo ele, pode ser garantida logicamente: a refutação. E, assim, alguns
métodos evoluem, outros chegam ao seu limite, principalmente nas Ciências
Naturais, sobretudo porque delas se espera um guia para operar sobre a
natureza.
Ao longo da Era
Moderna, pensadores, filósofos, cientistas, matemáticos, naturalistas,
humanistas, enfim, todos aqueles que se dedicaram à Ciência, aplicaram o método
científico para criar conhecimentos sobre fatos e fenômenos do mundo.
Inicialmente, o interesse era voltado ao estudo do mundo físico e natural,
passando, paulatinamente, ao mundo social, técnico e tecnológico. Com a
contribuição de cada um deles e de todos eles em conjunto, o método científico
vem sendo continuamente aprimorado, sem que esteja constituído por instruções
mecânicas e infalíveis nem tampouco esteja nos brindando com demonstrações
absolutas e invariáveis; ao contrário, apresenta-se dinâmico, fundamentado na
própria prática de sua aplicação. Assim, como tempo, foi construída uma forma
para o pensar científico que pode auxiliar a todos aqueles que buscam respostas
para questões sobre os fenômenos naturais e, também, os sociais. O método
científico e a capacidade da razão permitem-nos
seguir avançando em busca de novos caminhos para aumentar nosso conhecimento
científico sobre o mundo.
Muito freqüentemente o método científico é apresentado nas escolas e nos
livros escolares como uma receita para fazer ciência, com etapas delimitadas, o
que é preciso rever. Acreditamos que a formação metódica desejável consiste em
ajudar os alunos a se formarem como cidadãos preparados, com certo nível de
conhecimento científico básico; ajudá-los a serem futuramente conscientes do
contexto social e político-econômico atual, visando a uma melhor compreensão da
Ciência e ao desenvolvimento de um pensamento crítico nos alunos. Ora, o método
científico permite que os alunos reflitam sobre a importância da Ciência e
analisem as diferenças básicas entre a ciência e outras formas de conhecimento,
a exemplo do senso comum. A educação em Ciências Naturais
é um componente fundamental na formação do cidadão contemporâneo. E, para ser
um bom educador em
Ciências Naturais , o professor precisa ter, ele próprio, uma
cultura científica e um conhecimento didático que lhe possibilitem planejar e
conduzir boas situações de aprendizagem nessa área, trabalhando não apenas tio
sentido de um único método científico, mas para o ensino de um conjunto de
procedimentos que aproximem as crianças de formas de trabalhar mais
responsáveis, disciplinadas e criativas, coerentes com o modo de produção do
conhecimento científico em que as crianças estão dando seus primeiros passos.
Tantas e tantas teorias em seu conjunto, como as de cunho reducionista,
estão focalizadas nos imensos avanços da Ciência ocorridos no final do século
XIX e em todo o século XX. É impossível enumerar todas. Não há como negar que o Reducionismo, em suas
diferentes concepções, racionalistas e empiristas, trouxe muitos avanços. De
suas bases, também surgiu a principal contribuição para uma nova concepção de
Ciência, dada por Einstein. As suas teorias da relatividade restrita e da
relatividade geral foram muito importantes. Enquanto Bacon afirmara que as
idéias preconcebidas deveriam ser eliminadas da mente do investigador, Einstein
não as eliminou; demonstrou que, mais do que uma simples descrição da
realidade, a Ciência é a proposta de
uma interpretação dessa mesma realidade. E é assim, com pensadores brilhantes
como esses que a Ciência vem “caminhando”, O grande salto que foi dado com
esses e outros pensadores, considerados modernos, está no reconhecimento de que
uma teoria jamais poderá ser aceita como definitivamente confirmada, O
progresso científico, então, deixa de ser acumulativo para ser cada vez mais
dinâmico e processual.
Ainda que tenha
sido fantástico o desenvolvimento científico e tecnológico, auxiliando o homem
a construir a sociedade que temos caracterizada como moderna, ou contemporânea
para uns, com a fragmentação do saber e das ciências, surgiu uma visão de mundo
profundamente dedutivista, materialista e mecanicista, um terreno fértil para o
supercapitalismo e para uma sociedade que nos ensinou a olhar as coisas como
simples objetos, com novos valores calcados no racionalismo, no utilitarismo e
no individualismo materialista, na ética e estética do consumo e na exaltação
do ‘lucro econômico’ como expressão máxima do triunfo individual. Depois de um
longo período pensando de forma reducionista, é que se deram os passos iniciais
que marcariam grandes mudanças (nas três primeiras décadas do século XX) face
às novas descobertas e teorias sobre as ciências e sobre o homem. Tais
descobertas e teorias foram fundamentais no sentido de criar uma nova maneira
de abordagem no estudo do homem em sua relação com a natureza, superando as
visões fragmentadas que predominavam até então sobre essa relação.
É difícil para nós, professores de Ciências, depois de tanto tempo pensando
os objetos, seres, fatos e fenômenos da natureza de forma fragmentada, mudarmos
de uma hora para outra nosso modo de ver as coisas, de interpretá-las e,
sobretudo, de ensina-las. Mas é preciso tentar, começar! É preciso mudar o
rumo! O aprendizado de Ciências deve ser baseado justamente na intenção homem-natureza-sociedade
de modo que nós e nossos alunos possamos interpretar os fenômenos da natureza a
partir de uma postura investigativa e reflexiva, conhecendo como se deu o
processo de transformação desses elementos (homem, natureza, sociedade) através
dos tempos. É nisso que devemos
centrar nossa ação!
Trazendo essa
discussão para o ensino das Ciências Naturais, é importante destacar que o
reducionismo, por sua natureza analítica, propõe que problemas complexos sejam
subdivididos em problemas mais simples. Ao reduzir os fenômenos às suas menores
partes (ou o contrário) e suas explicações à relação causa-efeito (tratando-se
o ‘todo’ como se fosse mera soma das partes), as teorias reducionistas deixaram
de analisar as interações ocorridas entre esses mesmos fenômenos, bem como não
analisaram o que acontece na ausência de um de seus integrantes, nem tão pouco,
as transformações realizadas. Assim, o Homem foi tratado como um amontoado de
peças em funcionamento, com corpo, mente, emoção e raciocínio, e o Universo e a
Vida foram fragmentados e reduzidos a partes distintas.
Pensamos, por exemplo, por anos e anos, sobre um Homem sempre dividido,
como social, sexual, intelectual, biológico, como se tudo isso não fosse o
mesmo homem. Perdemos a visão total do homem, enxergando-o apenas em suas
partes, estudando-as e analisando-as minuciosamente, dissociadas de seu
funcionamento total e da vida original. Desse modo, a idéia de totalidade
passou a ser secundarizada e ficou de lado o contexto do próprio homem nessa
relação, questão que se tornou alvo de preocupação por parte das concepções que
sucederam ao Reducionismo, trazendo novas formas de pensar o mundo.
Este estudo abre passagem para o reconhecimento do aspecto dinâmico e
transformador do conhecimento, que marca novos tempos pan a Ciência. Antes de
seguirmos para o estudo das novas concepções, deixamos uma atividade para você
realizar com vistas a articular efetivamente o estudo desta Seção com sua
prática pedagógica!
ATIVIDADE 1 - COMENTADA
Caracterizando a ciência
Tempo: 15 minutos.
Com base no que estudamos até aqui sobre o Reducionismo, suas contribuições
e limites, sobre os benefícios trazidos à Ciência, leia o texto que elaboramos
a seguir e responda à pergunta registrada posteriormente a ele.
“É importante que o aluno tenha conhecimento da produção que a humanidade
acumulou e sistematizou sobre o conhecimento da vida, do Universo etc., melhor
entendendo essa produção e como tudo isso aconteceu e continua acontecendo, O
aluno deve perceber que, no seu dia-a dia, lida com conhecimentos científicos o
tempo todo. A cada tema do conhecimento !1tad0 o aluno deve perceber: 1) o que
já sabe sobre ele; 2) que fenômenos já observou; 3) que relações esses
fenômenos manchem entre si; 4) qual é a importância dessas relações para sua vida,
seus estudos, seu lazer, o trabalho de seus pais etc Essas considerações
apontam para exigência de planejamento, de uma organização ou sistematização
que o ensino de Ciências requer no desenvolvimento dos conteúdos e na forma de
trabalhá-los. Podemos “dizer” que essa constatação corresponde a um critério
muito importante que registra a cientificidade do conhecimento e o caracteriza
como Ciência, e que é essencial ter sempre presente no trabalho com os alunos.
A qual critério você acha que estamos nos referindo?
_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Comentário:
você conheceu algumas particularidades e exigências do conhecimento para ser
considerado científico. Um dos critérios fundamentais que marcam o caráter de
cientificidade, e, sem dúvida, que mais caracteriza a Ciência como um
conhecimento distinto dos demais pela exigência de rigor e planejamento
sistemático no estudo de um fenômeno, fora do conhecimento comum a que estamos
acostumados (por ser mais fácil e imediato para nós), é o método, o caminho
para ajudar o aluno a seguir das idéias do senso comum em direção ao pensamento
científico.
ATIVIDADE 2 –
RESPONDA
Complete com
as correntes filosóficas que influenciaram o desenvolvimento da ciência
corretas segundo as sugestões a seguir:
EMPIRISMO – REDUCIONISMO – MARXISMO – MECANICISMO –
BEHAVIORISMO – DETERMINISMO – RACIONALISMO – POSITIVISMO
a. Baseia-se no método científico como
forma confiável de busca ao conhecimento _____________________
b. Privilegiava as relações materiais
como base explicativa das mudanças sociais _____________________
c. A redução dos fenômenos é regida
por um sistema mecânico que só podem ser compreendidos se forem conhecidos os
fenômenos que o antecedem e sucedem ______________________
d. Os fenômenos podem e devem ser
separados, classificados, reduzidos em suas menores partes, estas, irredutíveis
_______________________
e. Há uma relação estímulo – resposta
entre os fenômenos nas áreas do comportamento humano ____________
f. O conhecimento é oriundo de
experiências vivenciadas no cotidiano ____________________
g. A razão é a verdadeira fonte do conhecimento
_______________________
h. Tudo funciona de acordo com leis
exatas. Os fenômenos são determinados por uma relação de causa e efeito
_____________________

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