15/08/2014

CONCEPÇÕES REDUCIONISTAS: A INFLUÊNCIA DO MECANICISMO NA EXPLICAÇÃO DOS FENÔMENOS NATURAIS

Material Extraído dos Cadernos Pedagógicos da UDESC
CONTEÚDO E METODOLOGIAS DO ENSINO DE CIÊNCIAS

Elaboração
Isabel Cristina da Cunha
Janice Miot Silva
Marise Borba da Silva
Colaboração
Maria Juliani Nesi

Florianópolis, junho de 2003.

CONCEPÇÕES REDUCIONISTAS: A INFLUÊNCIA DO MECANICISMO NA EXPLICAÇÃO DOS FENÔMENOS NATURAIS

Objetivos específicos: caracterizar as concepções reducionistas e suas implicações no ensino das Ciências Naturais.

O Vitalismo, o Finalismo e o Criacionismo conviveram, da mesma forma, por séculos, até o surgimento do Reducionismo Mecanicista, que inaugurou uma nova concepção de homem e também uma nova forma de relacionamento do homem com o mundo, passando a ganhar adeptos e prevalecendo até hoje.
Se antes existia pouca clareza sobre a diferença entre mundo vivo, mundo inanimado e vida consciente, o Reducionismo aproximou esses mundos, tornando a matéria a base de toda a existência. Para o reducionismo, existe a idéia de que as coisas são feitas de outras coisas, que elas têm existência material, abrindo, assim, caminho para a descoberta dos átomos. A idéia revolucionária, neste caso, foi, sobretudo, a diferenciação da matéria inanimada, da matéria orgânica e da vida consciente.
Mas quem o foi grande sábio que inaugurou a nova visão? Ao contrário de Sócrates, para quem o conhecimento sobre a natureza já existe, só precisamos pari-lo (o conhecimento é uma força vital adormecida que precisa ser despertada, não havendo ainda distinção entre o animado e o consciente), Descartes concluiu que, se o homem pensava, era alguma coisa diferente da matéria (inanimada e animada), mostrando essa evidência ao proclamar: “penso, logo existo”. Nessa célebre expressão, Descartes reconheceu claramente que a natureza inteligente era distinta da natureza corporal. Passamos, então, a nos tornar seres vivos e pensantes O homem passou a ser definido pela capacidade de pensar e pelo fato de saber que pensa. Assim, como ser racional, o homem distingue-se das demais espécies. Abrem-se, então, as portas para o domínio que o homem moderno exerce até hoje sobre a natureza. Podemos datar, aqui, a crítica que mais tarde os irracionalistas Iriam mover a chamada “razão instrumental” o momento em que a razão tornou-se uma ferramenta do progresso humano e não mais da especulação desinteressada.
O Reducionismo nasceu, então, fundamentado na filosofia de Descartes, influenciado por seu racionalismo, mediante o qual tudo funcionava de acordo com leis exatas, com a certeza e a exatidão dos raciocínios próprio das leis matemáticas, contrariamente ao predomínio das leis da natureza que vigoravam nas concepções naturalista e criacionista.
Descartes pavimentou não apenas o caminho do Reducionismo que vamos estudar um pouco agora, mas, também, o do Materialismo moderno e do Construtivismo, pois seus sucessores não se orientariam mais na tentativa de interpretar os fenômenos por força e vontade de uma providência divina, - - mas, sim, pela razão e por sua própria consciência. Na visão reducionista, os fenômenos naturais podiam e deveriam ser explicados com base nas leis da matéria em movimento, passando a ser formulados sob uma base mecânica.
Paralelamente ao reducionismo e ao pensamento analítico, na era da máquina entendia-se que a interação entre objetos ou entre fenômenos poderia ser reduzida a uma relação fundamental, a de causa e efeito. Diz-se que uma coisa é causa de outra (efeito), sendo a primeira tanto necessária quanto suficiente para a outra. Efeitos são completamente determinados por suas causas. Dessa maneira, a relação de causa e efeito num fenômeno é estudada à parte do ambiente. Leis, como a da gravidade, são formuladas de maneira a excluir a ação do ambiente (a idéia do vácuo, por exemplo) e são testadas em laboratórios criados especialmente para explicar a ação do ambiente sobre o fenômeno em estudo. Consistente com as características da era da máquina, a visão do mundo era determinística: tudo o que ocorre é sempre determinado por alguma coisa que o precedeu. Do mesmo jeito que se explicavam os fenômenos naturais com essa maneira de pensar aplicou-se a mesma lógica para os homens, individualmente, e para a sociedade. Essa foi a marca do mecanicismo.
Com Newton, instalou-se o Determinismo Mecanicista (mecânica clássica), consagrando as bases para o advento da era moderna, a era das máquinas. A idéia que passou a prevalecer nas Ciências Naturais, a - partir de então, foi que os fenômenos (incluindo os ligados aos seres vivos) podem e devem ser separados, classificados e reduzidos em suas menores partes, por sua vez, irredutíveis. Essa redução, regida por um sistema mecânico, é determinada por cadeias lineares de causa e efeito, de um modo tão rigoroso que um fenômeno, em sua totalidade, só é compreendido se forem conhecidos os fenômenos que o antecederam e o acompanham, da mesma forma que determinam o conhecimento dos resultados conseqüentes. Assim, tal causa, tal efeito! A relação de causa e efeito representa o resultado da forma habitual de perceber fenômenos, através da repetição constante desses mesmos fenômenos. Quando a água é colocada no fogo, por exemplo, esperamos que ela, naturalmente, vá ferver!
Para você compreender melhor essa ordem reducionista, acompanhe o exemplo que criamos, acerca de como se forma a brisa do mar, similar a muitas explicações encontradas nos livros didáticos de Ciências: ‘A areia da praia, ao receber calor do Sol, aquece-se mais rapidamente do que a água do mar; o calor da areia passa, então, para o ar, que se dilata, fica menos denso e sobe, fazendo com que o ar das camadas superiores, que é mais denso, vá descendo para ocupar o lugar do ar que subiu”.
Você percebe a linearidade, a relação causa-efeito na ordem das mudanças, colocadas umas após as outras, sem a devida representação das transformações que acontecem? Observe que há uma relação apenas funcional, não aparece a essência, o “sentido” do fenômeno; as mudanças são reduzidas a meras combinações de elementos, numa ordem de coisas, uma causando a outra: areia da praia, calor do sol, dilatação do ar, formação de correntes, a brisa e assim sucessivamente. Ora, você sabe que a brisa não se forma num “vapt-vupt”! Existe uma série de elementos e fenômenos relacionados com a sua formação.
Vejamos: é preciso que pensemos no ar, como matéria, com sua composição e propriedade. Quando dizemos que a brisa resulta do ar em movimento, é necessário pensarmos em determinada altitude, direção e intensidade, em altas e baixas pressões, em temperatura, em calor, em dilatação e numa série de outros fatores. É preciso, sobretudo, pensar numa série de elementos e fenômenos relacionados, sem que aconteçam um após o outro, mas que podem acontecer simultaneamente. Sendo assim, professor e aluno precisam dominar conteúdos básicos de Física, Química e Biologia relacionados à formação da brisa.
Veja só até aonde foi o Reducionismo em Ciências!
As plantas e os animais também passaram a ser vistos como simples maquinas criadas para executarem funções muito precisas, o corpo humano passou a ser desumanizado e visto fracionadamente, tanto que o homem tornou-se um conjunto de partes, como um amontoado de peças, reunidas em aparelhos e sistemas cujos funcionamentos aparentam ausência de relações entre si. Esse e um dos grandes equívocos no Ensino de Ciências, pois os alunos têm dificuldade de entender o organismo como um todo a partir dessa visão.
Nos livros didáticos e nas aulas de Ciências, de modo geral, a analogia entre os processos vivos e os mecânicos é comum, corno na explicação de que assim como os carros circulam pelas ruas, o sangue circula pelo nosso corpo; as avenidas percorridas pelo sangue se chamam velas e artérias”, etc. Se você tiver um livro didático de Ciências, um pouco mais antigo, ainda pode encontrar marcas muito profundas dessa visão mecanicista, a exemplo de textos intitulados: “A máquina perfeita - o corpo humano” ou “O organismo é uma máquina maravilhosa, na qual cada parte desempenha uma função”.
Para ilustrar ainda mais o Reducionismo Mecanicista, como forte concepção presente no ensino de Ciências, observe se você já leu alguma coisa semelhante ao que indicamos a seguir...
- “As partes que compõem o corpo humano são cabeça, tronco e membros”.
- “Vamos descobrir algumas funções do corpo humano?
* Para que servem os dedos? Para pegarmos coisas com eles.
* Para que serve o pulmão? Para respirarmos.
* E o coração? O coração é a máquina que ‘bombeia’ o sangue.
- “O cérebro é o computador do corpo humano; ele também precisa de ginástica para se manter forte e vigoroso”.
É possível evidenciar exemplos claros do mecanicismo nas explicações dadas, não é mesmo? Pois bem! No exemplo que vamos dar a seguir, identifique o Reducionismo e a ideologia nele implícita.
“O corpo humano é como uma fábrica: o cérebro é o chefe, e os órgãos, os operários”.
O texto ilustra algo que possibilita a você não só compreender as implicações mecanicistas no ensino, mas relacioná-las, inclusive, com práticas sociais. Com essa concepção, nasceu a indústria moderna - a era das máquinas! Essa realidade mudou muita coisa na história da vida dos homens, da Ciência e, certamente, repercutiu no ensino. Pense na forma como o conteúdo do corpo humano é trabalhado com as crianças, interferindo na sua concepção de mundo, de homem, de sociedade. Você vai, assim, relacionando conteúdo e metodologia, introduzindo essa relação na sua prática de um modo natural e consciente, tornando-se bastante capaz de refletir sobre o que as concepções movidas por uma lógica mecanicista nos deixaram como “herança”.
O Empirismo, de que você tanto já ouviu falar e sobre o qual estudou no curso que faz, é uma outra vertente que tem suas raízes no Reducionismo. A diferença marcante é que, ao contrário do Racionalismo, que considera a razão como a verdadeira fonte de conhecimento, o Empirismo confia exclusivamente na experiência proveniente dos sentidos, ou na simples observação. Para os empiristas, somente o que pode ser experimentado através dos sentidos de um observador é considerado real, sendo as Ciências Naturais o modelo de conhecimento para o empirismo, que exerceu suas influências no pensamento de muitos biólogos, devido ao papel decisivo da experimentação. Com o Empirismo, em Ciências, os organismos vivos passam a ser considerados passivos em relação ao ambiente, cujos elementos físico-químicos constituintes são considerados os causadores das modificações não só externas, mas, também, internas dos organismos. Um exemplo clássico é o das características humanas, como cor de olhos e cor da pele, que por muito tempo foram consideradas apenas resultados da ação do meio ambiente, sendo ignoradas as interações das espécies entre si e com o meio. Você, também, já deve ter ouvido uma explicação empirista para justificar certas situações cotidianas, enfatizando a ação do meio nas seguintes expressões: “é de pequenino que se torce o pepino” ou “o cachimbo deixa a boca torta”.
Observe a afirmação comum nas propriedades das plantas: “os seres vivos têm uma característica chamada excitabilidade propriedade segundo a qual eles respondem estímulos do meio”. Pense, também, na razão pela qual as flores, conhecidas como onze horas abrem-se às onze horas, período de sol intenso. Será apenas por causa do sol? Se você prestar atenção, verá que a ênfase é dada ao fenômeno, como se se tratasse de uma simples reação da planta aos elementos do meio (excesso de luz), sendo secundarizado o papel da atividade do organismo em relação ao fator externo. Trata-se de uma relação de causa-efeito, ou o que na Psicologia Comportamentalista (Behaviorista) corresponde à relação estímulo-resposta.
Voltando a Descartes, com sua teoria não só houve a autonomia da razão, libertando-a das amarras religiosas, mas o método cartesiano forneceu também as bases de uma Ciência que prometia ser um método para a unificação de todo o saber, com a crença na certeza do conhecimento científico por meio da Matemática. O método de aulas de Ciências sobre Será que o girassol movimenta-se apenas para acompanhar o Sol?
Descartes, aplicando-se a realidades, fatos ou fenômenos não suscetíveis de comprovação experimental passou a reduzir tudo até seus componentes fundamentais, para, a partir desse nível, perceber relações implicadas em cada fenômeno. Esse método é analítico e reducionista, considerando que todo o saber constrói-se a partir da razão mediante a intuição e a dedução (método dedutivo, que parte do geral para o particular). Se, no método Racionalista, primeiro elaboram-se as suposições (hipóteses) e, depois, são feitas as comprovações (ou não), no Empirismo o método Matemático de Descartes não é aceito, já que a experiência é o ponto de partida do conhecimento; logo, não há necessidade de estabelecer hipóteses. O Empirismo antepõe a observação e a experimentação como passos prévios à generalização e à laboração de teorias. Assim se caracteriza o método indutivo que parte do particular (experiências) para a elaboração de princípios gerais.
Conforme registramos anteriormente, Bacon destacou o caráter eminentemente empírico do método científico. A ciência, sob esse enfoque, é entendida como um conjunto sistematizado de conhecimentos sobre a realidade observada, o que decorre da aplicação do método científico. Em outras palavras, a ciência deveria ser baseada na indução e na experimentação, não na metafísica e na especulação. O método científico, assim, deveria ser usado para atingir um conhecimento científico.
Sobre o método científico, é possível registrar que, por sua história, tem sua origem, aplicação e desenvolvimento no âmbito das ciências naturais e físicas, e sua base racional na existência da realidade e na possibilidade de seu conhecimento. As principais correntes de pensamento, relativas ao estudo do método científico e a atraírem a atenção dos cientistas no século XX foram principalmente aquelas propostas por Karl Popper e Thomas Kuhn, sem esquecer dos positivistas, inspirados em Augusto Comte, os quais consideram que o caminho mais correto para a Ciência é a busca da confirmação da hipótese inicial. Se as experiências confirmarem a hipótese, estamos diante de uma teoria verdadeira, mesmo que o seja provisoriamente. Esses dois pensadores - Popper e Kuhn - não apenas divergem em suas conclusões sobre o método científico, mas também, e principalmente, seguem, desde o início, abordagens totalmente diversas.
Karl Popper (1902-1994) critica o Indutivismo com paixão, a ponto mesmo de ignorar a indução. Sua visão do método científico e do conhecimento em geral é que ambos progridem através de conjecturas e refutações, sendo que a tentativa de refutação conta com o apoio da lógica dedutiva, que passa a ser um instrumento de crítica, construindo o Racionalismo crítico. Estabelece uma regra metodológica associada a seu método dedutivo de prova, e propõe a “falseabilidade” como critério a ser adotado pelos cientistas para o teste de suas teorias. Para Popper, a indução, que é o método mais tradicional da ciência, apresenta problemas, sendo o mais grave deles, o fato de trabalharmos com amostragens, e elas não excluírem a possibilidade de contra-exemplos. Por sua vez, Kuhn constrói as suas idéias tomando por base argumentos históricos.
Em linhas gerais, traça um perfil da evolução das ciências, estabelecendo a partir daí uma espécie de comportamento padrão a ser observado pelos cientistas, considerando que a ciência é produzida dentro de certos paradigmas que, num determinado tempo, orientam a comunidade científica; os períodos revolucionários seriam os desencadeados pela falácia dos paradigmas até então aceitos como verdadeiros, Os cientistas, de acordo com Kuhn, não estão livres para desenvolverem suas pesquisas, as quais deverão ser coerentes como paradigma em vigor, que funciona como um imenso guarda-chuva que abriga os cientistas de uma determinada época ou cultura. A ciência se transforma, segundo ele, quando ocorrem revoluções científicas e um paradigma dá lugar a Outro.
A teoria de Kuhn, ao ser aceita, enfraquece sobremaneira a falseabilidade lógica de Popper. Mas como será que ambos vêem o cientista? Se, para Popper, o cientista deve adotar uma atitude revolucionária permanente, segundo Kuhn, ele deve acomodar-se aos dogmas vigentes, sob pena de ser alijado da comunidade científica. Apoiados em sua visão da história da ciência, Kuhn (1922-1996), Lakatos e Feyerabend, entre outros, criticam tanto Popper quanto os indutivistas, alegando que sempre é possível fazer alterações nas hipóteses e nas teorias auxiliares quando uma previsão não se realiza.
É importante salientar que, na linha racionalista, a principal corrente foi o positivismo, particularmente em sua forma evolucionista. O marxismo, surgido nessa época, influenciaria o pensamento do século seguinte. O positivismo evolucionista via a lógica da natureza na dinâmica social, porém tendo o todo adquirido a forma de um grande sistema. O marxismo, que privilegiava as relações materiais como base explicativa das mudanças sociais, via aspectos dialéticos na natureza, sendo esta concomitantemente condição e parte integrante do processo de reprodução social. Enquanto no processo de trabalho e nas relações de produção o ambiente influenciaria a sociedade, esta, ao se desenvolver, progressivamente transformaria a natureza.
A noção que se tem hoje do conhecimento científico é bastante influenciada pelos pontos de vista do Círculo de Viena e dos pensadores Karl Popper e Thomas S. Kuhn, pela interferência de suas propostas epistemológicas. O Círculo de Viena, que não vamos aprofundar neste estudo, é de inspiração positivista e surgiu na Europa no início do século XX. Acreditava na possibilidade de as ciências humanas e sociais seguirem as mesmas metodologias das ciências naturais e estava preocupado em diferenciar o conhecimento científico dos outros tipos de conhecimento. Essa corrente de pensamento também acreditava que o método científico deveria utilizar a indução.
A Ciência, considerada como a máxima expressão do conhecimento já desde a Grécia antiga, baseia toda sua disciplina de investigação e desenvolvimento no auxílio de diversas ferramentas disponíveis e em uma série de procedimentos que se denominam genericamente “método científico”. O método é adequado para a investigação e a compreensão do mundo e como uma maneira de resolver problemas de forma sistemática e lógica, um processo de raciocínio que pretende não somente descrever os fenômenos, senão também explicá-los. Quando o homem sai de uma posição meramente passiva, deixando de ser mera testemunha dos fenômenos, sem poder de ação ou controle sobre tais fenômenos, indo além da realidade imediatamente percebida e lançando princípios explicativos que sirvam de base para a organização e a classificação que caracteriza o conhecimento, ao adotar uma atitude racionalista e lógica que busca entender o mundo através de questionamentos, faz surgir a necessidade do método.
A história do método passa pelo primeiro método formulado para acompanhar o desenvolvimento das Ciências Naturais na Idade Moderna, o Indutivismo, a que fizemos referência anteriormente. Depois, surgiram outros métodos, como o hipotético-dedutivista, que acreditava que a ciência se origina de problemas, teóricos ou práticos, que preocupam o homem. Vimos, também, o Falsacionismo, em que Popper enfoca a questão metodológica na única possibilidade que, segundo ele, pode ser garantida logicamente: a refutação. E, assim, alguns métodos evoluem, outros chegam ao seu limite, principalmente nas Ciências Naturais, sobretudo porque delas se espera um guia para operar sobre a natureza.
Ao longo da Era Moderna, pensadores, filósofos, cientistas, matemáticos, naturalistas, humanistas, enfim, todos aqueles que se dedicaram à Ciência, aplicaram o método científico para criar conhecimentos sobre fatos e fenômenos do mundo. Inicialmente, o interesse era voltado ao estudo do mundo físico e natural, passando, paulatinamente, ao mundo social, técnico e tecnológico. Com a contribuição de cada um deles e de todos eles em conjunto, o método científico vem sendo continuamente aprimorado, sem que esteja constituído por instruções mecânicas e infalíveis nem tampouco esteja nos brindando com demonstrações absolutas e invariáveis; ao contrário, apresenta-se dinâmico, fundamentado na própria prática de sua aplicação. Assim, como tempo, foi construída uma forma para o pensar científico que pode auxiliar a todos aqueles que buscam respostas para questões sobre os fenômenos naturais e, também, os sociais. O método científico e a capacidade da razão permitem-nos seguir avançando em busca de novos caminhos para aumentar nosso conhecimento científico sobre o mundo.
Muito freqüentemente o método científico é apresentado nas escolas e nos livros escolares como uma receita para fazer ciência, com etapas delimitadas, o que é preciso rever. Acreditamos que a formação metódica desejável consiste em ajudar os alunos a se formarem como cidadãos preparados, com certo nível de conhecimento científico básico; ajudá-los a serem futuramente conscientes do contexto social e político-econômico atual, visando a uma melhor compreensão da Ciência e ao desenvolvimento de um pensamento crítico nos alunos. Ora, o método científico permite que os alunos reflitam sobre a importância da Ciência e analisem as diferenças básicas entre a ciência e outras formas de conhecimento, a exemplo do senso comum. A educação em Ciências Naturais é um componente fundamental na formação do cidadão contemporâneo. E, para ser um bom educador em Ciências Naturais, o professor precisa ter, ele próprio, uma cultura científica e um conhecimento didático que lhe possibilitem planejar e conduzir boas situações de aprendizagem nessa área, trabalhando não apenas tio sentido de um único método científico, mas para o ensino de um conjunto de procedimentos que aproximem as crianças de formas de trabalhar mais responsáveis, disciplinadas e criativas, coerentes com o modo de produção do conhecimento científico em que as crianças estão dando seus primeiros passos.
Tantas e tantas teorias em seu conjunto, como as de cunho reducionista, estão focalizadas nos imensos avanços da Ciência ocorridos no final do século XIX e em todo o século XX. É impossível enumerar todas. Não há como negar que o Reducionismo, em suas diferentes concepções, racionalistas e empiristas, trouxe muitos avanços. De suas bases, também surgiu a principal contribuição para uma nova concepção de Ciência, dada por Einstein. As suas teorias da relatividade restrita e da relatividade geral foram muito importantes. Enquanto Bacon afirmara que as idéias preconcebidas deveriam ser eliminadas da mente do investigador, Einstein não as eliminou; demonstrou que, mais do que uma simples descrição da realidade, a Ciência é a proposta de uma interpretação dessa mesma realidade. E é assim, com pensadores brilhantes como esses que a Ciência vem “caminhando”, O grande salto que foi dado com esses e outros pensadores, considerados modernos, está no reconhecimento de que uma teoria jamais poderá ser aceita como definitivamente confirmada, O progresso científico, então, deixa de ser acumulativo para ser cada vez mais dinâmico e processual.
Ainda que tenha sido fantástico o desenvolvimento científico e tecnológico, auxiliando o homem a construir a sociedade que temos caracterizada como moderna, ou contemporânea para uns, com a fragmentação do saber e das ciências, surgiu uma visão de mundo profundamente dedutivista, materialista e mecanicista, um terreno fértil para o supercapitalismo e para uma sociedade que nos ensinou a olhar as coisas como simples objetos, com novos valores calcados no racionalismo, no utilitarismo e no individualismo materialista, na ética e estética do consumo e na exaltação do ‘lucro econômico’ como expressão máxima do triunfo individual. Depois de um longo período pensando de forma reducionista, é que se deram os passos iniciais que marcariam grandes mudanças (nas três primeiras décadas do século XX) face às novas descobertas e teorias sobre as ciências e sobre o homem. Tais descobertas e teorias foram fundamentais no sentido de criar uma nova maneira de abordagem no estudo do homem em sua relação com a natureza, superando as visões fragmentadas que predominavam até então sobre essa relação.
É difícil para nós, professores de Ciências, depois de tanto tempo pensando os objetos, seres, fatos e fenômenos da natureza de forma fragmentada, mudarmos de uma hora para outra nosso modo de ver as coisas, de interpretá-las e, sobretudo, de ensina-las. Mas é preciso tentar, começar! É preciso mudar o rumo! O aprendizado de Ciências deve ser baseado justamente na intenção homem-natureza-sociedade de modo que nós e nossos alunos possamos interpretar os fenômenos da natureza a partir de uma postura investigativa e reflexiva, conhecendo como se deu o processo de transformação desses elementos (homem, natureza, sociedade) através dos tempos. É nisso que devemos centrar nossa ação!
Trazendo essa discussão para o ensino das Ciências Naturais, é importante destacar que o reducionismo, por sua natureza analítica, propõe que problemas complexos sejam subdivididos em problemas mais simples. Ao reduzir os fenômenos às suas menores partes (ou o contrário) e suas explicações à relação causa-efeito (tratando-se o ‘todo’ como se fosse mera soma das partes), as teorias reducionistas deixaram de analisar as interações ocorridas entre esses mesmos fenômenos, bem como não analisaram o que acontece na ausência de um de seus integrantes, nem tão pouco, as transformações realizadas. Assim, o Homem foi tratado como um amontoado de peças em funcionamento, com corpo, mente, emoção e raciocínio, e o Universo e a Vida foram fragmentados e reduzidos a partes distintas.
Pensamos, por exemplo, por anos e anos, sobre um Homem sempre dividido, como social, sexual, intelectual, biológico, como se tudo isso não fosse o mesmo homem. Perdemos a visão total do homem, enxergando-o apenas em suas partes, estudando-as e analisando-as minuciosamente, dissociadas de seu funcionamento total e da vida original. Desse modo, a idéia de totalidade passou a ser secundarizada e ficou de lado o contexto do próprio homem nessa relação, questão que se tornou alvo de preocupação por parte das concepções que sucederam ao Reducionismo, trazendo novas formas de pensar o mundo.
Este estudo abre passagem para o reconhecimento do aspecto dinâmico e transformador do conhecimento, que marca novos tempos pan a Ciência. Antes de seguirmos para o estudo das novas concepções, deixamos uma atividade para você realizar com vistas a articular efetivamente o estudo desta Seção com sua prática pedagógica!

ATIVIDADE 1
- COMENTADA

Caracterizando a ciência
Tempo: 15 minutos.

Com base no que estudamos até aqui sobre o Reducionismo, suas contribuições e limites, sobre os benefícios trazidos à Ciência, leia o texto que elaboramos a seguir e responda à pergunta registrada posteriormente a ele.
“É importante que o aluno tenha conhecimento da produção que a humanidade acumulou e sistematizou sobre o conhecimento da vida, do Universo etc., melhor entendendo essa produção e como tudo isso aconteceu e continua acontecendo, O aluno deve perceber que, no seu dia-a dia, lida com conhecimentos científicos o tempo todo. A cada tema do conhecimento !1tad0 o aluno deve perceber: 1) o que já sabe sobre ele; 2) que fenômenos já observou; 3) que relações esses fenômenos manchem entre si; 4) qual é a importância dessas relações para sua vida, seus estudos, seu lazer, o trabalho de seus pais etc Essas considerações apontam para exigência de planejamento, de uma organização ou sistematização que o ensino de Ciências requer no desenvolvimento dos conteúdos e na forma de trabalhá-los. Podemos “dizer” que essa constatação corresponde a um critério muito importante que registra a cientificidade do conhecimento e o caracteriza como Ciência, e que é essencial ter sempre presente no trabalho com os alunos. A qual critério você acha que estamos nos referindo?
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Comentário: você conheceu algumas particularidades e exigências do conhecimento para ser considerado científico. Um dos critérios fundamentais que marcam o caráter de cientificidade, e, sem dúvida, que mais caracteriza a Ciência como um conhecimento distinto dos demais pela exigência de rigor e planejamento sistemático no estudo de um fenômeno, fora do conhecimento comum a que estamos acostumados (por ser mais fácil e imediato para nós), é o método, o caminho para ajudar o aluno a seguir das idéias do senso comum em direção ao pensamento científico.

ATIVIDADE 2 – RESPONDA

Complete com as correntes filosóficas que influenciaram o desenvolvimento da ciência corretas segundo as sugestões a seguir:

EMPIRISMO – REDUCIONISMO – MARXISMO – MECANICISMO – BEHAVIORISMO – DETERMINISMO – RACIONALISMO – POSITIVISMO

a. Baseia-se no método científico como forma confiável de busca ao conhecimento _____________________
b. Privilegiava as relações materiais como base explicativa das mudanças sociais _____________________
c. A redução dos fenômenos é regida por um sistema mecânico que só podem ser compreendidos se forem conhecidos os fenômenos que o antecedem e sucedem ______________________
d. Os fenômenos podem e devem ser separados, classificados, reduzidos em suas menores partes, estas, irredutíveis _______________________
e. Há uma relação estímulo – resposta entre os fenômenos nas áreas do comportamento humano ____________
f. O conhecimento é oriundo de experiências vivenciadas no cotidiano ____________________
g. A razão é a verdadeira fonte do conhecimento _______________________
h. Tudo funciona de acordo com leis exatas. Os fenômenos são determinados por uma relação de causa e efeito _____________________

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