26/08/2014

CIÊNCIA, TECNOLOGIA E ÉTICA





Material Extraído dos Cadernos Pedagógicos da UDESC
CONTEÚDO E METODOLOGIAS DO ENSINO DE CIÊNCIAS

Elaboração
Isabel Cristina da Cunha
Janice Miot Silva
Marise Borba da Silva
Colaboração
Maria Juliani Nesi
Florianópolis, junho de 2003.

UNIDADE INDISSOCIÁVEL: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E ÉTICA

Objetivos específicos: relacionar Ciência, tecnologia e ética, identificando suas implicações nas transformações e nos avanços sociais.
“A Ciência pode ser descrita como um jogo a dois parceiros: trata-se de adivinhar o comportamento duma realidade distinta de nós, insubmissa tanto às nossas crenças e ambições como as nossas esperanças” (PRIGOGINE e STENGERS).
A crescente participação da tecnologia na vida do cidadão e a contínua transformação do sistema de produção pela dinâmica científico-tecnológica vêm mudando significativamente as relações entre o ser humano e a natureza e, conseqüentemente, as relações sociais. Isso demanda, além de compreensão prática, urna reflexão crítica sobre Ciência e tecnologia, em todas as suas implicações. A tecnologia e a complexa dimensão científico-tecnológica tornam-se temas fortes de nosso tempo, abrangendo uma série de questões intelectuais, econômicas e políticas, além do risco ambiental e social e além de questões relacionadas aos meios de comunicação etc.
Assim, é preciso pensar que essa relação que se torna cada vez mais vigorosa - a tecnociência - tem de ser vista tanto sob a ótica de sermos beneficiários do seu uso como sob a ótica de sermos vítimas do abuso delas, pelo aumento de poder que adquiriram durante o curso de nossa existência, tanto para a vida e o bem quanto para a morte e o mal.
Com relação aos benefícios, entre tantos outros, estão os automóveis, os aviões, as descobertas feitas nas ciências da bacteriologia, na Química e na técnica da cirurgia; o progresso na Química aplicado à invenção de drogas de potência e eficácia inéditas, o avanço na cirurgia que tornou possível realizar operações que seriam inconcebíveis antigamente etc. Há, por outro lado, os casos das armas atômicas usadas nas guerras, as armas e outros equipamentos usados no crime organizado, além de ações inconseqüentes motivadas por influência de uma cultura tecnológica de risco, como, por exemplo, as decorrentes do ‘poder’ exercido pelos jogos eletrônicos e computadorizados. Existe ainda pouca clareza sobre os efeitos que esses jogos provocam, cabendo aos educadores discutir mais sobre essa questão.
O último século foi palco de profundas mudanças tecnológicas que interferiram nas áreas social, econômica, científica, educacional e política. A humanidade vivencia novas situações, problemas, indefinições e soluções em diversos setores da vida. Ganha evidência a idéia de que precisamos repensar os rumos da nossa cidadania e que definamos com maior urgência o que nos diz respeito à nossa existência, considerando as mudanças ocorridas na sociedade.
Na década de 1990, assistimos à crescente sensibilização e à agitação no que se refere a problemas relacionados com políticas científico-tecnológicas, motivadas pelo pressuposto de que a participação pública no desenvolvimento científico e tecnológico constitui importante avanço para as sociedades democráticas. No rumo desses acontecimentos, as discussões em torno da ética e da biossegurança têm avançado em muitos países. Muitos movimentos reivindicatórios, simultaneamente, têm surgido a partir daí, tendo como pontos máximos a preservação de recursos naturais, o ataque aos alimentos transgênicos (alimentos modificados geneticamente) e a exigência pelo fim de experiências com armas nucleares, por exemplo, visando ao equilíbrio entre homem e natureza. As questões decorrentes dessas discussões preocupam não apenas aos movimentos ecológicos, mas, também, sensibilizam outros setores organizados da sociedade. Atualmente, com base em princípios éticos, o homem busca estabelecer uma convivência menos conflitante entre as nações, entre a ciência e a sociedade.
Além das discussões em torno de biossegurança, com ênfase em qualidade de vida, riscos químicos e biológicos, estamos :, assistindo ao surgimento, com o foco em uma nova visão no campo das Ciências Biológicas e áreas afins, do que chamamos “Bioética’, que significa “ética da vida”, O princípio básico da Bioética é a busca de benefícios e de garantias à integridade do ser humano, tendo como grande aspiração a defesa da dignidade humana. Para que você tenha uma idéia, alguns assuntos mais “significativos” da Bioética giram em torno dos temas atualmente conhecidos como “direitos reprodutivos” (concepção, contracepção, esterilização, aborto, infertilidade e novas tecnologias reprodutivas conceptivas), sexualidade, acesso aos meios de manutenção da saúde e da vida, saúde pública, doentes terminais, eutanásia e manipulações genéticas.
A Bioética visa a, em última instância, assegurar mais humanismo nas ações do cotidiano das práticas médicas e nas experimentações científicas que utilizam animais e humanos. A Bioética tem, ainda, a particularidade de ser reflexão (sobre as implicações sociais, políticas, econômicas e éticas dos novos saberes biológicos) e “ação” (objetivando estabelecer um novo “contrato social” entre sociedade e cientistas, profissionais da saúde e governos) sobre as questões do presente e as perspectivas de faturo. Como vemos, a Bioética apresenta-se como um importante instrumento para a socialização do debate sobre as tecnociências. Cabe, aqui, portanto, a pergunta fundamental: qual é a importância dessa discussão sobre a relação entre Ciência, tecnologia e ética ou, então, sobre a relação da própria Bioética para o ensino de Ciências? Segundo Oliveira (1997, p. 59), “os assuntos da Bioética são importantes para todas as pessoas, porque cientistas e profissionais da saúde existem para “atender” às necessidades das pessoas; todas, portanto, têm o direito de conhecer bem os procedimentos e o grau de risco e, então, fazer sua escolha. Enfim, todos têm o direito de decidir”.
Sabemos que nem sempre é simples e fácil para quem não é especialista compreender o que se passa nas Ciências Biológicas, devido à velocidade com que os saberes dessa área são gerados e devido aos rápidos avanços das pesquisas básicas e sua aplicação no setor industrial. Além de tudo, a linguagem complexa da Ciência dificulta o acesso a esses saberes e às suas conseqüências. Isso não quer dizer que devamos adotar uma postura contra a Ciência e a tecnologia, mas é preciso que haja uma regulamentação pública sobre as atividades científicas e os produtos da Ciência, numa tentativa de exigir compromisso e responsabilidade de cientistas e demais profissionais da saúde em relação à sociedade como um todo.
As avaliações da Ciência e da tecnologia e de suas repercussões na sociedade precisam, seguramente, tomar rumos mais claros e intensos nas atividades didáticas. Nesse sentido, a educação científica e tecnológica nos espaços educativos deve contribuir pata que os cidadãos tenham o poder de tomar decisões responsáveis, relativas às questões tecnológicas predominantes na sociedade contemporânea.
Questões atuais, como contaminação do meio ambiente, esgotamento dos recursos naturais, ameaças de uma guerra nuclear, criação de indivíduos manipulados geneticamente, deteriorização da qualidade do trabalho, entre outras, não podem estar fora dos currículos escolares. Assim é que, para Waks (apud, ANDONI, et al., 1996), a educação científico-tecnológica pode realizar-se como uma espécie de ciclo de responsabilidades , que deve se repetir em cada nível de ensino, desde a Educação Infantil. Esse ciclo começa dinamizando nas crianças atitudes de responsabilidade social e pessoal; desenvolve-se integrando a comunidade no estudo de problemas, de tomada de decisões e de uma ação responsável, e finaliza com a ligação de cada questão específica com o contexto mais amplo da Ciência e da tecnologia na sociedade, incluindo uma tomada de posição de todos os envolvidos com respeito às questões de ética e valores.
O compromisso do professor, de proporcionar análises reflexivas sobre a relação Ciência, tecnologia e sociedade é bastante desafiador! Isso requer dele urna boa formação, para que possa atingir seus alunos, fazendo com que esses mesmos alunos sejam capazes de refletir sobre as repercussões das aplicações da Ciência e da tecnologia, junto à sociedade, entendendo que não há aí nenhuma neutralidade, mas intenções, interesses, objetivos, conscientes ou não. Paralelamente, através da colocação de algumas noções conceituais básicas sobre as aplicações e as repercussões da Ciência e da tecnologia ao longo da história, é possível demonstrar que a apropriação de assuntos dessa natureza deve servir de elemento motivador para que os alunos reconheçam nos recursos tecnológicos elementos mediadores potencialmente capazes de ajudá-los a resolver problemas práticos, problemas seus, da sua comunidade e da sociedade em geral. Abre-se, aqui, o grande espaço para a atuação do educador!

ATIVIDADE 1 - COMENTADA

1. Refletindo sobre a relação Ciência, tecnologia e ética. Comente as duas faces de uma mesma questão que elaboramos para você refletir sobre um assunto que é polêmico: “As novas tecnologias reprodutivas conceptivas podem permitir que casais inférteis possam ter filhos, mas, também, podem interferir no organismo das mulheres, podendo causar-lhes sérios problemas”.
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Comentário: sabemos que essas tecnologias possibilitam a realização do desejo de muitos casais de terem filhos. Ainda que representem avanços para a humanidade, sabemos, porém, que constituem tema polêmico, pois se refere à procriação e aos domínios da hereditariedade, concebidos conforme os padrões culturais do diferentes grupos sociais. Assim, todas as opiniões a respeito devem ser respeitadas, incluindo a sua. Aproveite e procure saber o que seus colegas pensam sobre o tema abordado.

ATIVIDADE 2 – RESPONDA

1. Busque os conceitos abaixo e depois exemplifique descrevendo a relação entre eles:
A. Ciência     B. Tecnologia           C. Ética          D. Cultura                 E. Sociedade

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