Material
Extraído dos Cadernos Pedagógicos da UDESC
CONTEÚDO
E METODOLOGIAS DO ENSINO DE CIÊNCIAS
Elaboração
Isabel Cristina da Cunha
Isabel Cristina da Cunha
Janice
Miot Silva
Marise
Borba da Silva
Colaboração
Maria Juliani Nesi
Maria Juliani Nesi
Florianópolis,
junho de 2003.
UNIDADE
INDISSOCIÁVEL: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E ÉTICA
Objetivos específicos: relacionar Ciência, tecnologia e ética, identificando suas implicações nas transformações e nos avanços sociais.
“A Ciência
pode ser descrita como um jogo a dois parceiros: trata-se de adivinhar o
comportamento duma realidade distinta de nós, insubmissa tanto às nossas
crenças e ambições como as nossas esperanças” (PRIGOGINE e STENGERS).
A crescente participação da tecnologia na vida do cidadão e a contínua
transformação do sistema de produção pela dinâmica científico-tecnológica vêm
mudando significativamente as relações entre o ser humano e a natureza e,
conseqüentemente, as relações sociais. Isso demanda, além de compreensão
prática, urna reflexão crítica sobre Ciência e tecnologia, em todas as suas
implicações. A tecnologia e a complexa dimensão científico-tecnológica
tornam-se temas fortes de nosso tempo, abrangendo uma série de questões
intelectuais, econômicas e políticas, além do risco ambiental e social e além
de questões relacionadas aos meios de comunicação etc.
Assim, é preciso pensar que essa relação que se torna cada vez mais
vigorosa - a tecnociência - tem de ser vista tanto
sob a ótica de sermos beneficiários do seu uso como sob a ótica de sermos
vítimas do abuso delas, pelo aumento de poder que adquiriram durante o curso de
nossa existência, tanto para a vida e o bem quanto para a morte e o mal.
Com relação aos
benefícios, entre tantos outros, estão os automóveis, os aviões, as descobertas
feitas nas ciências da bacteriologia, na Química e na técnica da cirurgia; o
progresso na Química aplicado à invenção de drogas de potência e eficácia
inéditas, o avanço na cirurgia que tornou possível realizar operações que
seriam inconcebíveis antigamente etc. Há, por outro lado, os casos das armas
atômicas usadas nas guerras, as armas e outros equipamentos usados no crime
organizado, além de ações inconseqüentes motivadas por influência de uma
cultura tecnológica de risco, como, por exemplo, as decorrentes do ‘poder’
exercido pelos jogos eletrônicos e computadorizados. Existe ainda pouca clareza
sobre os efeitos que esses jogos provocam, cabendo aos educadores discutir mais
sobre essa questão.
O último século
foi palco de profundas mudanças tecnológicas que interferiram nas áreas social,
econômica, científica, educacional e política. A humanidade vivencia novas
situações, problemas, indefinições e soluções em diversos setores da vida.
Ganha evidência a idéia de que precisamos repensar os rumos da nossa cidadania
e que definamos com maior urgência o que nos diz respeito à nossa existência,
considerando as mudanças ocorridas na sociedade.
Na década de 1990, assistimos à crescente sensibilização e à agitação no que
se refere a problemas relacionados com políticas científico-tecnológicas, motivadas
pelo pressuposto de que a participação pública no desenvolvimento científico e
tecnológico constitui importante avanço para as sociedades democráticas. No
rumo desses acontecimentos, as discussões em torno da ética e da biossegurança
têm avançado em muitos países. Muitos movimentos reivindicatórios,
simultaneamente, têm surgido a partir daí, tendo como pontos máximos a
preservação de recursos naturais, o ataque aos alimentos transgênicos
(alimentos modificados geneticamente) e a exigência pelo fim de experiências
com armas nucleares, por exemplo, visando ao equilíbrio entre homem e natureza.
As questões decorrentes dessas discussões preocupam não apenas aos movimentos
ecológicos, mas, também, sensibilizam outros setores organizados da sociedade. Atualmente,
com base em princípios éticos, o homem busca estabelecer uma convivência menos
conflitante entre as nações, entre a ciência e a sociedade.
Além das discussões em torno de biossegurança, com ênfase em qualidade de
vida, riscos químicos e biológicos, estamos :, assistindo ao surgimento, com o foco em uma nova visão no
campo das Ciências Biológicas e áreas afins, do que chamamos “Bioética’, que
significa “ética da vida”, O princípio básico da Bioética é a busca de
benefícios e de garantias à integridade do ser humano, tendo como grande
aspiração a defesa da dignidade humana. Para que você tenha uma idéia, alguns
assuntos mais “significativos” da Bioética giram em torno dos temas atualmente
conhecidos como “direitos reprodutivos” (concepção, contracepção,
esterilização, aborto, infertilidade e novas tecnologias reprodutivas
conceptivas), sexualidade, acesso aos meios de manutenção da saúde e da vida,
saúde pública, doentes terminais, eutanásia e manipulações genéticas.
A Bioética visa a, em última instância, assegurar mais humanismo nas ações
do cotidiano das práticas médicas e nas experimentações científicas que
utilizam animais e humanos. A Bioética tem, ainda, a particularidade de ser
reflexão (sobre as implicações sociais, políticas, econômicas e éticas dos
novos saberes biológicos) e “ação” (objetivando estabelecer um novo “contrato
social” entre sociedade e cientistas, profissionais da saúde e governos) sobre
as questões do presente e as perspectivas de faturo. Como vemos, a Bioética
apresenta-se como um importante instrumento para a socialização do debate sobre
as tecnociências. Cabe, aqui, portanto, a pergunta fundamental: qual é a
importância dessa discussão sobre a relação entre Ciência, tecnologia e ética
ou, então, sobre a relação da própria Bioética para o ensino de Ciências?
Segundo Oliveira (1997, p. 59), “os
assuntos da Bioética são importantes para todas as pessoas, porque cientistas e
profissionais da saúde existem para “atender” às necessidades das pessoas;
todas, portanto, têm o direito de conhecer bem os procedimentos e o grau de
risco e, então, fazer sua escolha. Enfim, todos têm o direito de decidir”.
Sabemos que nem sempre é simples e fácil para quem não é especialista
compreender o que se passa nas Ciências Biológicas, devido à velocidade com que
os saberes dessa área são gerados e devido aos rápidos avanços das pesquisas
básicas e sua aplicação no setor industrial. Além de tudo, a linguagem complexa
da Ciência dificulta o acesso a esses saberes e às suas conseqüências. Isso não
quer dizer que devamos adotar uma postura contra a Ciência e a tecnologia, mas
é preciso que haja uma regulamentação pública sobre as atividades científicas e
os produtos da Ciência, numa tentativa de exigir compromisso e responsabilidade
de cientistas e demais profissionais da saúde em relação à sociedade como um
todo.
As avaliações da Ciência e da tecnologia e de suas repercussões na
sociedade precisam, seguramente, tomar rumos mais claros e intensos nas
atividades didáticas. Nesse sentido, a educação científica e tecnológica nos
espaços educativos deve contribuir pata que os cidadãos tenham o poder de tomar
decisões responsáveis, relativas às questões tecnológicas predominantes na
sociedade contemporânea.
Questões atuais, como contaminação do meio ambiente, esgotamento dos
recursos naturais, ameaças de uma guerra nuclear, criação de indivíduos
manipulados geneticamente, deteriorização da qualidade do trabalho, entre
outras, não podem estar fora dos currículos escolares. Assim é que, para Waks (apud, ANDONI, et al., 1996), a educação
científico-tecnológica pode realizar-se como uma espécie de ciclo de
responsabilidades , que deve se repetir em cada nível de ensino, desde a Educação Infantil.
Esse ciclo começa dinamizando nas crianças atitudes de responsabilidade social
e pessoal; desenvolve-se integrando a comunidade no estudo de problemas, de
tomada de decisões e de uma ação responsável, e finaliza com a ligação de cada
questão específica com o contexto mais amplo da Ciência e da tecnologia na
sociedade, incluindo uma tomada de posição de todos os envolvidos com respeito
às questões de ética e valores.
O compromisso do professor, de proporcionar análises reflexivas sobre a
relação Ciência, tecnologia e sociedade é bastante desafiador! Isso requer dele
urna boa formação, para que possa atingir seus alunos, fazendo com que esses
mesmos alunos sejam capazes de refletir sobre as repercussões das aplicações da
Ciência e da tecnologia, junto à sociedade, entendendo que não há aí nenhuma neutralidade, mas intenções, interesses, objetivos,
conscientes ou não. Paralelamente, através da colocação de algumas noções
conceituais básicas sobre as aplicações e as repercussões da Ciência e da
tecnologia ao longo da história, é possível demonstrar que a apropriação de
assuntos dessa natureza deve servir de elemento motivador para que os alunos
reconheçam nos recursos tecnológicos elementos mediadores potencialmente
capazes de ajudá-los a resolver problemas práticos, problemas seus, da sua
comunidade e da sociedade em
geral. Abre-se , aqui, o grande espaço para a atuação do
educador!
ATIVIDADE
1 - COMENTADA
1. Refletindo sobre a relação Ciência, tecnologia e ética. Comente as duas
faces de uma mesma questão que elaboramos para você refletir sobre um assunto
que é polêmico: “As novas tecnologias reprodutivas conceptivas podem permitir
que casais inférteis possam ter filhos, mas, também, podem interferir no
organismo das mulheres, podendo causar-lhes sérios problemas”.
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Comentário: sabemos que essas
tecnologias possibilitam a realização do desejo de muitos casais de terem
filhos. Ainda que representem avanços para a humanidade, sabemos, porém, que
constituem tema polêmico, pois se refere à procriação e aos domínios da hereditariedade, concebidos
conforme os padrões culturais do diferentes grupos sociais. Assim, todas as
opiniões a respeito devem ser respeitadas, incluindo a sua. Aproveite e procure
saber o que seus colegas pensam sobre o tema abordado.
ATIVIDADE
2 – RESPONDA
1. Busque os conceitos abaixo e depois
exemplifique descrevendo a relação entre eles:
A. Ciência B. Tecnologia C. Ética D. Cultura E. Sociedade
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