Material
Extraído dos Cadernos Pedagógicos da UDESC
CONTEÚDO
E METODOLOGIAS DO ENSINO DE CIÊNCIAS
Elaboração
Isabel Cristina da Cunha
Isabel Cristina da Cunha
Janice
Miot Silva
Marise
Borba da Silva
Colaboração
Maria Juliani Nesi
Maria Juliani Nesi
Florianópolis,
junho de 2003.
O CURRÍCULO DISCIPLINAR E OS PROJETOS DE ENSINO INTERDISCIPLINARES
Objetivo específico: identificar as situações em que as atividades de aprendizagem devem ser organizadas por projetos e quais delas necessitam de um trabalho disciplinar.
As discussões em torno da fragmentação do conhecimento têm apontado que o trabalho com disciplinas isoladas tem
dificultado a abordagem de situações do cotidiano que exigem o conhecimento escolar. Nesse aspecto, cabem as preocupações: Quando
é que a pesquisa disciplinar, objeto de uma determinada ciência, deve dar lugar
a projetos de pesquisa interdisciplinares? Quando o currículo disciplinar deve
admitir projetos de ensino interdisciplinares? Já vimos que todo o conhecimento
que a humanidade produziu e continua produzindo, precisa ser classificado,
sistematizado, para que se tenha uma ordenação que corresponda a um conjunto de
conhecimentos específicos, com características próprias quanto à natureza do
seu objeto, método de ensino e de pesquisa e proximidade conceitual, mediante
os quais se estabelece o estatuto de cada disciplina e a perspectiva que se
adota para estudá-la. Assim, a matéria, enquanto estrutura e movimento é objeto
da Física, enquanto composição, transformação e conservação são objetos da
Química, enquanto constituinte de um organismo vivo é objeto da Biologia e
assim por diante.
Quando o trabalho interdisciplinar
se impõe? Vejamos a questão da medicina. É possível
que o biólogo saiba manifestar com muita clareza os conhecimentos pelos quais a
sua disciplina concebe o fígado humano, por exemplo. No entanto, ao mesmo
especialista não é facultado o direito de prever e executar ações voltadas para
a cura de doença hepática, de uma pessoa determinada.
Os conhecimentos envolvidos, nesse
caso, são de outro patamar e exigem que se leve em conta elementos particulares
do doente em questão, os quais a Biologia, deles no se ocupa. Trata-se de
elementos particulares dos quais se ocupa o médico, que devem ser considerados,
agora, como por exemplo, o tipo de alimentação do doente, o provável uso de
alguma droga, o tipo de atividade que exerce, o uso de algum tipo de medicamento e assim por diante, uma vez que esse
profissional deve executar uma ação: curar o doente ou, ao menos, minorar seu
sofrimento.
Para essa ação, o conhecimento disciplinar é insuficiente, pois se trata da exigência de conhecimentos mais específicos sobre a complexidade de um sistema que é o
corpo humano, com todas as suas singularidades. Isso requer o vasto conhecimento acumulado e
desenvolvido através de séculos de aprendizado: e experiência, principalmente quando são necessários
exames que se constituem basicamente de Imagens e, às vezes, de alguns
gráficos, como o cateterismo cardíaco, por exemplo, que só mesmo um
especialista é capaz de ler e interpretar.
Como você percebe
os conhecimentos de uma área específica não são suficientes para o estudo de um dado objeto, fato ou fenômeno que queremos
aprofundar, para solucionar algum problema. Trabalhar de forma a aplicar-se à
interdisciplinaridade, contribui para minimizar as fronteiras existentes entre
disciplinas e o isolamento entre as pessoas, colabora com a relação entre
conteúdos, faz rever a concepção fragmentária de ensinar e contribui para a
superação da dicotomia entre ensino e pesquisa, entre outras possibilidades.
Não estamos
querendo negar as especialidades de cada disciplina, ignorando o território de
cada campo do conhecimento; o que se quer e superar a separação extrema entre
as disciplinas e demonstrar que e possível trabalhar o conhecimento através de
interdependências e de conexões recíprocas. Nesse aspecto, o trabalho com
projetos, tentando sintonizar diferentes abordagens disciplinares, pode ajudar.
Além disso, essas iniciativas interdisciplinares
funcionam como uma espécie de “laboratório” para
os próprios educadores dinamizarem as abordagens de certas problemáticas,
referentes ao processo ensino-aprendizagem, sob diferentes óticas, criarem situações de aprendizagem através de atividades articuladas, e não como atividades isoladas, podendo
se converter numa orientação metodológica eficaz.
O critério pelo
qual agrupamos determinadas informações e conhecimentos não é o fato de
pertencerem a uma determinada disciplina, à geografia, por exemplo. Agrupamos
as novas informações e conhecimentos por critérios lógicos e não convencionais
puramente. Qualquer informação que obtemos através do noticiário e que diz
respeito à descoberta de um novo Planeta no Sistema Solar, por exemplo, não
precisa estar envolvido com o nome de uma disciplina escolar para poder ser
aprendida.
A mente opera de forma
lógica com as informações obtidas, colocando-as em relação com o conhecimento
prévio, não necessária e exclusivamente escolar, conseguindo, dessa forma,
ampliar os conceitos de espaço, tempo, movimentos sociais, etc, envolvidos
nessas informações. Na verdade, a formação de conceitos é interdisciplinar uma vez que a ela afluem
todos os significantes de uma mesma categoria cognitiva e de outras, com as
quais apresentam alguma analogia. Assim, se essas categorias forem chamadas de
disciplinas, conclui-se daí que toda construção de conceitos é, por natureza,
interdisciplinar. De fato, se a criança não conseguir colocar o rinoceronte na
categoria dos animais, por um lado, a visão desse ser vivo permanece solta, sem
significado e, por outro lado, o conceito de animal não se amplia.
Se o professor de
ciências pergunta a seus alunos: como era o planeta Terra antes do surgimento do homem? Para a solução desse problema não só bastam os conhecimentos referentes a
uma única disciplina em particular, mas sim um conjunto de conhecimentos
difundidos entre as várias áreas do conhecimento e que compõem os conceitos de
espaço, tempo, natureza, trabalho, transformação, relações sociais, etc.
ATIVIDADE 1 – COMENTADA
Observe a ilustração que segue. Com base no que você estudou sobre
interdisciplinaridade, interprete e comente essa ilustração, correlacionando,
com a sua ação pedagógica.
Comentário: esperamos, com essa atividade, que você tenha percebido
qual o efeito da fragmentação do conhecimento, e, ao mesmo tempo, a necessidade
do processo analítico. Como resolver essa questão, isto é, a correlação entre análise e síntese? Se você conseguiu correlacionar a
figura com a ação pedagógica, significa que você compreendeu o que apresentamos
sobre interdisciplinaridade.
1.
O
que é um currículo disciplinar?
2.
Quando
se faz necessário trabalhar um conteúdo de modo interdisciplinar?
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