26/08/2014

O CURRÍCULO DISCIPLINAR E PROJETOS DE ENSINO INTERDISCIPLINARES

Material Extraído dos Cadernos Pedagógicos da UDESC
CONTEÚDO E METODOLOGIAS DO ENSINO DE CIÊNCIAS

Elaboração
Isabel Cristina da Cunha
Janice Miot Silva
Marise Borba da Silva
Colaboração
Maria Juliani Nesi

Florianópolis, junho de 2003.

O CURRÍCULO DISCIPLINAR E OS PROJETOS DE ENSINO INTERDISCIPLINARES

Objetivo específico: identificar as situações em que as atividades de aprendizagem devem ser organizadas por projetos e quais delas necessitam de um trabalho disciplinar.

As discussões em torno da fragmentação do conhecimento têm apontado que o trabalho com disciplinas isoladas tem dificultado a abordagem de situações do cotidiano que exigem o conhecimento escolar. Nesse aspecto, cabem as preocupações: Quando é que a pesquisa disciplinar, objeto de uma determinada ciência, deve dar lugar a projetos de pesquisa interdisciplinares? Quando o currículo disciplinar deve admitir projetos de ensino interdisciplinares? Já vimos que todo o conhecimento que a humanidade produziu e continua produzindo, precisa ser classificado, sistematizado, para que se tenha uma ordenação que corresponda a um conjunto de conhecimentos específicos, com características próprias quanto à natureza do seu objeto, método de ensino e de pesquisa e proximidade conceitual, mediante os quais se estabelece o estatuto de cada disciplina e a perspectiva que se adota para estudá-la. Assim, a matéria, enquanto estrutura e movimento é objeto da Física, enquanto composição, transformação e conservação são objetos da Química, enquanto constituinte de um organismo vivo é objeto da Biologia e assim por diante.
Quando o trabalho interdisciplinar se impõe? Vejamos a questão da medicina. É possível que o biólogo saiba manifestar com muita clareza os conhecimentos pelos quais a sua disciplina concebe o fígado humano, por exemplo. No entanto, ao mesmo especialista não é facultado o direito de prever e executar ações voltadas para a cura de doença hepática, de uma pessoa determinada.
Os conhecimentos envolvidos, nesse caso, são de outro patamar e exigem que se leve em conta elementos particulares do doente em questão, os quais a Biologia, deles no se ocupa. Trata-se de elementos particulares dos quais se ocupa o médico, que devem ser considerados, agora, como por exemplo, o tipo de alimentação do doente, o provável uso de alguma droga, o tipo de atividade que exerce, o uso de algum tipo de medicamento e assim por diante, uma vez que esse profissional deve executar uma ação: curar o doente ou, ao menos, minorar seu sofrimento.
Para essa ação, o conhecimento disciplinar é insuficiente, pois se trata da exigência de conhecimentos mais específicos sobre a complexidade de um sistema que é o corpo humano, com todas as suas singularidades. Isso requer o vasto conhecimento acumulado e desenvolvido através de séculos de aprendizado: e experiência, principalmente quando são necessários exames que se constituem basicamente de Imagens e, às vezes, de alguns gráficos, como o cateterismo cardíaco, por exemplo, que só mesmo um especialista é capaz de ler e interpretar.
Como você percebe os conhecimentos de uma área específica não são suficientes para o estudo de um dado objeto, fato ou fenômeno que queremos aprofundar, para solucionar algum problema. Trabalhar de forma a aplicar-se à interdisciplinaridade, contribui para minimizar as fronteiras existentes entre disciplinas e o isolamento entre as pessoas, colabora com a relação entre conteúdos, faz rever a concepção fragmentária de ensinar e contribui para a superação da dicotomia entre ensino e pesquisa, entre outras possibilidades.
Não estamos querendo negar as especialidades de cada disciplina, ignorando o território de cada campo do conhecimento; o que se quer e superar a separação extrema entre as disciplinas e demonstrar que e possível trabalhar o conhecimento através de interdependências e de conexões recíprocas. Nesse aspecto, o trabalho com projetos, tentando sintonizar diferentes abordagens disciplinares, pode ajudar. Além disso, essas iniciativas interdisciplinares funcionam como uma espécie de “laboratório” para os próprios educadores dinamizarem as abordagens de certas problemáticas, referentes ao processo ensino-aprendizagem, sob diferentes óticas, criarem situações de aprendizagem através de atividades articuladas, e não como atividades isoladas, podendo se converter numa orientação metodológica eficaz.
O critério pelo qual agrupamos determinadas informações e conhecimentos não é o fato de pertencerem a uma determinada disciplina, à geografia, por exemplo. Agrupamos as novas informações e conhecimentos por critérios lógicos e não convencionais puramente. Qualquer informação que obtemos através do noticiário e que diz respeito à descoberta de um novo Planeta no Sistema Solar, por exemplo, não precisa estar envolvido com o nome de uma disciplina escolar para poder ser aprendida.
A mente opera de forma lógica com as informações obtidas, colocando-as em relação com o conhecimento prévio, não necessária e exclusivamente escolar, conseguindo, dessa forma, ampliar os conceitos de espaço, tempo, movimentos sociais, etc, envolvidos nessas informações. Na verdade, a formação de conceitos é interdisciplinar uma vez que a ela afluem todos os significantes de uma mesma categoria cognitiva e de outras, com as quais apresentam alguma analogia. Assim, se essas categorias forem chamadas de disciplinas, conclui-se daí que toda construção de conceitos é, por natureza, interdisciplinar. De fato, se a criança não conseguir colocar o rinoceronte na categoria dos animais, por um lado, a visão desse ser vivo permanece solta, sem significado e, por outro lado, o conceito de animal não se amplia.
Se o professor de ciências pergunta a seus alunos: como era o planeta Terra antes do surgimento do homem? Para a solução desse problema não só bastam os conhecimentos referentes a uma única disciplina em particular, mas sim um conjunto de conhecimentos difundidos entre as várias áreas do conhecimento e que compõem os conceitos de espaço, tempo, natureza, trabalho, transformação, relações sociais, etc.



ATIVIDADE 1 – COMENTADA

Observe a ilustração que segue. Com base no que você estudou sobre interdisciplinaridade, interprete e comente essa ilustração, correlacionando, com a sua ação pedagógica.

Comentário: esperamos, com essa atividade, que você tenha percebido qual o efeito da fragmentação do conhecimento, e, ao mesmo tempo, a necessidade do processo analítico. Como resolver essa questão, isto é, a correlação entre análise e síntese? Se você conseguiu correlacionar a figura com a ação pedagógica, significa que você compreendeu o que apresentamos sobre interdisciplinaridade.

ATIVIDADE 2 - RESPONDA

1.    O que é um currículo disciplinar?
2.    Quando se faz necessário trabalhar um conteúdo de modo interdisciplinar?


Nenhum comentário:

Postar um comentário