Material
Extraído dos Cadernos Pedagógicos da UDESC
CONTEÚDO
E METODOLOGIAS DO ENSINO DE CIÊNCIAS
Elaboração
Isabel Cristina da Cunha
Isabel Cristina da Cunha
Janice
Miot Silva
Marise
Borba da Silva
Colaboração
Maria Juliani Nesi
Maria Juliani Nesi
Florianópolis,
junho de 2003.
O DESENVOLVIMENTO DA QUÍMICA COMO CIÊNCIA E COMO
DISCIPLINA CURRICULAR
Objetivo específico: contextualizar a história da Química como Ciência e como disciplina, fornecendo subsídios para a formação de uma consciência crítica das relações entre a Química e o cotidiano, que sirvam corno elementos para a renovação do ensino dessa ciência natural em sala de aula.
Segundo
historiadores da ciência, o termo ‘química’ tem muitas origens, transitando
entre o latim, o grego e o árabe. Mas, o que se pode constatar, é que existe um
vínculo estreito como termo alquimia, uma palavra derivada do árabe al-kimia, que por sua vez originou-se do grego khymeia, que significava “mistura de vários ingredientes”.
Observamos, pela
própria terminologia da palavra, que a Química remonta ao passado de muitas
civilizações, representando, basicamente, um conjunto de observações sobre
substâncias e fenômenos. Com que surpresa e curiosidade os seres humanos mais
remotos passaram a observar a transformação das substâncias (como a carne assando,
a madeira queimando e a fumaça levantando pelos ares). Aí estava a química
presente, sem que eles, é claro, se dessem conta disso.
Certamente, a
partir daí, começaram as especulações sobre as causas dessas transformações. A
alquimia, é importante esclarecer, interessava-se em buscar a pedra
filosofal (que teria o poder de
transformar qualquer metal em ouro) e o elixir da longa vida (que daria imortalidade), visando a descoberta da cura de
todas as doenças e o caminho para tornar a vida eterna. Tentando atingir esses
objetivos, os alquimistas criaram muitas substâncias (álcool, ácido clorídrico,
ácido nítrico, ácido sulfúrico, etc.) e construíram equipamentos químicos
usados até hoje, por exemplo, o alambique, introduzindo e aperfeiçoando
técnicas de metalurgia, sintetizando várias substâncias, isolando outras, além
de terem registrado um grande número de experimentos em suas observações,
realizando, por exemplo, a destilação e a descoberta de novos metais e novos
componentes.
No começo do
século XV o suíço Paracelso preconizou a fusão entre a alquimia e a medicina.
Com seus propósitos, a química nascente foi colocada a serviço da medicina.
A nova ciência
desponta como um conjunto organizado de conhecimentos e estuda a natureza da
matéria, suas propriedades, suas transformações e a energia envolvida nesses
processos. Comumente se diz que a Química é a ciência da matéria, e com isso se
diz muito pouco sobre sua dimensão, pois ele vai muito além, estudando a
composição dos seres vivos, da Terra e dos astros. Estudam, ainda, a formação
de substâncias naturais e artificiais, suas transformações em contato com
diversos elementos em variadas condições.
No final do
século XVIII, durante a Revolução Francesa, a Química, a exemplo da Física,
torna-se uma Ciência exata. Dentre os cientistas com essa nova proposta,
destaca-se o francês Lavoisier, estabelecendo um marco importante no surgimento
da Química moderna, iniciando-se, a partir daí um grande número de trabalhos
relevantes, como aconteceu, no século XIX com aplicação da Química à Biologia,
feita pelo químico e bacteriologista francês Louis Pasteur, e, no século XX,
com as descobertas sobre a estrutura do átomo envolvendo vários cientistas.
O inglês Robert
Boyle, em 1661, não só deu uma definição exata de Química, mas enunciou
definitivamente as suas bases como atividade científica começando por demolir,
de uma vez para sempre, as absurdas teorias alquimistas, esclarecendo os
conceitos básicos de elementos, misturas e combinações, assim como os objetivos
fundamentais da Química. Foi grande sua contribuição, o que é reconhecido pelos
químicos.
Você, já parou para pensar
quantas coisas à sua volta resultam de fenômenos químicos? Desde que o homem
surgiu na Terra ao longo do tempo, foi transformando e aperfeiçoando os
materiais da natureza para satisfazer suas necessidades. A prática da
agricultura, que atualmente aumenta com o auxílio de adubos, inseticidas e
outros produtos; a produção de alimentos de origem animal cresce com o uso de
rações especiais, medicamentos veterinários, entre outros; a pecuária, a
produção de novos alimentos (pães, bebidos, queijos etc); a conservação de
alimentos, facilitada pelo emprego de aditivos alimentares e sistemas de
refrigeração; a construção dos prédios e residências modernas, que empregam
muitos materiais diferentes (tijolos, areia, cimento, ferro, vidro, cerâmicas,
fibras, etc.); o vestuário, pelo uso, em nossos dias, do algodão, do linho
etc., além dos tecidos sintéticos, como o náilon, o poliéster e outros. Podemos
ainda falar dos cuidados da saúde, quando hoje dispomos de medicamentos
sofisticados (calmantes, antibióticos, analgésicos, antidepressivos etc),
sintetizados em modernas indústrias farmacêuticas.
Ao mesmo tempo,
teve início a união de ciências que antes estavam totalmente separadas. A
criação de disciplinas intercientíficas, como a geoquímica ou a bioquímica,
impulsionou todas as ciências originais.
Atualmente,
exige-se a aproximação, e, mais que isso, a perspectiva interdisciplinar entre
as ciências, chegando-se a uni ponto em que é impossível fazer-se uma divisão
rigorosa entre a Química, a Física e a Biologia, sem falar de outros campos do
conhecimento.
A Química,
ciência que avança cada vez mais, trouxe relevantes invenções e descobertas
para a humanidade, integrando-se ao campo da investigação racional,
característico das ciências contemporâneas, a exemplo do Projeto Genoma Humano,
que se encontra em franco desenvolvimento.
Saiba mais...
O Projeto Genoma Humano, iniciado
formalmente em 1990 foi projetado para durar 15 anos, tendo como objetivos: a)
Identificar e fazer o mapeamento dos genes existentes no DNA das células do
corpo humano; b) Determinar as seqüências das bases químicas que compõem o DNA
humano; e) Armazenar a informação em bancos de dados, desenvolver ferramentas
eficientes para analisar esses dados e torná-los acessíveis para novas
pesquisas biológicas. Paralelamente, o Projeto está desenvolvendo estudos com
outros organismos.
No Brasil, o
ensino da Química tem a mesma caminhada que o ensino da Física, embora, hoje,
os educadores já discutam com mais ênfase a necessidade de dar maior
importância à formação química, preocupando-se que esta deva começar, com
noções básicas, desde a infância.
ATIVIDADE 1 - A química e os
alimentos
Considerando o
estudo feito e a importância da Química em nossa vida, você já observou as
informações contidas nas embalagens de produtos de supermercados, que tratam da
composição química e valores calóricos desses produtos? De que forma você
investiga essas informações em relação aos seus hábitos de consumo? Como você
trabalha essa questão na sala de aula considerando a educação ambiental e os
conhecimentos de Química?
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COMENTÁRIO: atualmente os produtos
embalados dispõem d informações diversas, tais como valores nutricionais,
necessidades diárias, data de validade, composição química etc. Essas
informações devem ser lidas pelo consumidor e levadas em consideração para que
ele tenha uma alimentação mais saudável e saiba o que está ingerindo. Da mesma
maneira, é importante trabalhar isso nas escolas e nos espaços não formais de
forma a possibilitar às pessoas esses conhecimentos, favorecendo, também, a
educação ambiental, uma vez que o próprio consumo um elemento importante na
relação do homem com a natureza.
CONCEITOS BÁSICOS DE QUÍMICA
Objetivo específico: utilizar conceitos da Química como base de novos conhecimentos científicos e em diferentes contextos, identificando-os em fenômenos químicos que ocorrem em diferentes situações do cotidiano. Do que são feitas as coisas que compõem nosso Universo? Afinal, por que essa pergunta é tão provocativa e por que respondê-la é tão importante?
É importante
responder a essa pergunta porque é necessário saber interpretar a natureza e
porque o que temos a dizer a respeito da constituição das coisas que compõem o
Universo parece ser insuficiente diante da diversidade de elementos e de suas
infinitas possibilidades de combinações. O que será que todas as coisas do
Universo têm em comum? Por mais diferentes que possam parecer, todas ocupam um
lugar no espaço. Todas são feitas de matéria. Logo, se fizermos essa pergunta
hoje, já se pode ouvir que o Universo é formado por matéria e energia. A
matéria inclui os materiais que formam o Universo: as rochas, a água, o ar e a
multiplicidade de coisas vivas. Tudo que é sólido, líquido ou gasoso é uma
forma de matéria.
A energia é um
pouco mais complexo de definir que a matéria, embora esteja intimamente ligada
a ela. Formas de energia, corno a luz, o som e o calor, não são consideradas
matéria, pois não possuem massa nem ocupam lugar no espaço.
Em linguagem
científica, dizemos que a energia é a capacidade de realizar um trabalho.
Entende-se por trabalho o movimento da matéria contra uma
força que se opõe ao seu movimento. Assim, tudo o que o tem capacidade de
movimentar a matéria possui energia. Vejamos estes exemplos: a energia do nosso corpo, que vem
da transformação dos alimentos; a força que aplicamos para empurrar um carrinho
de mão e deslocá-lo; a energia elétrica, que movimenta máquinas e gera luz e o som em
uma danceteria, etc.
Nesse mundo rico
em materiais diferentes, a natureza conseguiu formar essa diversidade de matérias que
conhecemos, as quais estão constantemente em transformação. Estudar
os fenômenos em que há transformação da matéria, ou seja, os fenômenos
químicos, hoje em dia, é indispensável para todos os que querem entender e
explicar o surgimento de novas matérias.
A matéria pode
aparecer no Universo de diversas maneiras. Tomemos como exemplo um copo de suco
de laranja. Nesse suco, estão misturadas as substâncias água, açúcar e outros
elementos presentes na fruta. Em Química, isso se chama uma mistura. Agora
vamos nos concentrar no açúcar desse suco. Vamos imaginar que podemos esmagar
um grão de açúcar fragmentando-o em pedaços cada vez menores; chegaremos,
assim, à molécula de açúcar. Se dividirmos a molécula, ela deixa de ser açúcar,
o mesmo acontece se dividirmos a molécula de água. Por isso, molécula é considerada a menor parte de uma
substância. As moléculas, por sua vez, são formadas por átomos, que não são
realmente indivisíveis como se pensou durante algum tempo. Hoje o homem já
dispõe de potentes aparelhos para estudá-los, chegando a constatar que são
formados por partículas ainda menores.
O professor deve
definir esses termos químicos considerando a representação que os seus alunos
têm a respeito do assunto. Ensinar química é pensar na ação humana sobre o
meio, buscando contribuir para o desenvolvimento da Ciência e, por
conseqüência, da sociedade, direcionando o conhecimento químico como fonte de
criação do fazer humano. Conhecer melhor a química e ‘descomplicá-la’, é um
trabalho que os professores podem fazer com seus alunos, visando a uma melhor
qualidade de suas vidas, e, por conseguinte, ajudá-los a cuidar do meio
ambiente e a preservá-lo. Assim, compreendemos a química como ciência da
natureza, que possibilitará aos alunos a contextualização da química em seu
dia-a-dia e as relações com outras disciplinas.
Voltando, agora,
ao exemplo do suco de laranja, o professor pode perguntar aos alunos “- Neste suco, onde encontramos
a água?” O professor encaminhará a discussão de modo que os alunos se dêem
conta do limite de suas respostas, levando-os a pensarem sobre que ingredientes
compõem o suco. Esses ‘ingredientes’, antes de estarem misturados no suco,
deveriam ser reconhecidos isoladamente, para que os alunos percebessem o seu
estado puro. Com base nessas considerações, o professor pode trabalhar noções
importantes tais como: matéria, substância, molécula, átomo, mistura,
combinação etc. Lembramos que o suco é uma mistura, porque é uma porção de
matéria que corresponde a adição de varias substancias, no caso, a água, sais
minerais, açúcar etc. Essas, a partir da hora em que são misturadas, deixam de
ser puras, conservando, no entanto, as suas propriedades e podem ser separadas
por processos físicos, por exemplo, pela destilação. Já, a combinação é formada
por duas ou mais substâncias que perdem suas propriedades ao se combinarem,
dando origem a uma outra substância com propriedades diferentes. Na vida real,
encontramos muitos elementos em combinação; assim, a água (H20)
traduz uma proporção de combinação entre o gás Hidrogênio e o gás Oxigênio, a
água oxigenada (H202), é uma substância também
constituída por Hidrogênio e Oxigênio e os minérios em geral são combinações de
outras substâncias.
De acordo como
que vimos, é necessário que, ao longo do trabalho, o professor registre o que
foi apreendido pelos alunos, anotando todas as respostas que forem dadas.
Depois disso, ele pode fazer, junto com seus alunos, uma discussão sobre o que
observou a respeito do que eles disseram, com base na sua compreensão dos
fenômenos químicos. Ao mesmo tempo que o professor
retoma o conteúdo trabalhado, as crianças reelaboram seus conceitos em função
da aprendizagem que tiveram.
ATIVIDADE 1 – COMENTADA
A Química em nossa formação.
Professor (a),
considere as noções químicas básicas que você recebeu no Ensino Fundamental e
no Médio (quando estudou, ainda que deforma fragmentada, os recursos naturais
como ar, água, solo e suas relações com os seres vivos em geral). Tente lembrar
de sua aprendizagem nessa área e avalie até que ponto o que você aprendeu é
suficiente para que você compreenda seu mundo e suas transformações crescentes
na atualidade.
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Comentário:
considerando que essa atividade está condicionada à sua formação, o comentário
dessa atividade resulta da comparação que você deve fazer entre o que você
estudou e as competências apontadas para o ensino de química nesse Caderno
pedagógico.
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